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Costa "não tem conseguido evitar" a imagem 'Cavaquista', diz Louçã

O ex-líder bloquista considerou ainda que há já um evidente "desgaste do Governo na opinião pública".

Costa "não tem conseguido evitar" a imagem 'Cavaquista', diz Louçã
Notícias ao Minuto

23:06 - 22/07/22 por Ema Gil Pires

Política Louçã

O antigo dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, considerou esta sexta-feira, no seu habitual espaço de comentário na SIC Notícias, que o primeiro-ministro, António Costa, "não tem conseguido" distanciar-se "da imagem do exercício puro da maioria absoluta" - ou, por outras palavras, "da imagem 'Cavaquista'".

"O primeiro-ministro utiliza a força do seu poder absoluto de uma forma muito impositiva e creio que faz mal. Porque ele tem mostrado que tem receio da imagem 'Cavaquista', da imagem do exercício puro da maioria absoluta, mas não a tem conseguido evitar, se é que o quer fazer", disse o professor, numa análise proferida a propósito do debate do Estado da Nação, que teve lugar no Parlamento na quarta-feira.

Algo que, na perspetiva de Francisco Louçã, ficou bastante evidente nesse debate. "O primeiro-ministro não respondeu às perguntas de quase todos os deputados, fez gala em não responder, e creio que essa forma de mostrar que, tendo maioria absoluta, o Parlamento passa a ser considerado pelo Governo um órgão secundário, como uma câmara retórica, é muito perigoso".

Outro "sintoma" que comprova esta teoria, nas palavras do ex-líder bloquista, passa pelo facto de António Costa continuar a querer "evitar os debates quinzenais" no Parlamento.

Tendo por base o debate do Estado da Nação, Francisco Louçã fez ainda questão de salientar um outro "efeito que muito beneficia o PS", que são os "momentos André Ventura".

"Para o PS é maravilhosa a situação na qual André Ventura se põe aos gritos sobre qualquer assunto que seja [...], sobretudo num debate como o Estado da Nação. Porque a vantagem do primeiro-ministro, a sobreposição do seu tempo e a capacidade de gerir todo o debate são muito vantajosas para António Costa"

Numa análise à "estratégia" usada pelo chefe do Governo nesta sessão parlamentar, o comentador destacou a entrega do "discurso de encerramento a Pedro Adão e Silva". "Ao mesmo tempo que o Governo se coloca numa posição muito mais à direita ou ao centro do que tinha nos anos anteriores [...], procura manter algum chamamento mais ao centro-esquerda, que Adão e Silva poderia representar", por ter sido "porta-voz da liderança de Ferro Rodrigues há muitos anos atrás", apontou.

Olhando, por outro lado, para as intervenções dos vários partidos políticos, Louçã considerou que "algumas" delas foram "muito consistentes, porque introduziram as questões sociais que importam na vida das pessoas".

"Tensão na vida das pessoas aflige o primeiro-ministro"

O antigo dirigente do Bloco de Esquerda, no mesmo espaço de comentário, destacou ainda que uma das "respostas" que têm sido dadas pelo Governo para tentar solucionar os problemas do país passa por "ir a correr apresentar novos pacotes de medidas". Isto porque, na sua ótica, a "tensão na vida concreta das pessoas é o que aflige o primeiro-ministro" neste momento.

"O Governo tem amanhã a terceira reunião do Conselho de Ministros desta semana. Na véspera do debate do Estado da Nação quis fazer um Conselho de Ministros extraordinário para discutir a descentralização, para que no debate do dia seguinte não surgisse com força o tema destes ziguezagues a respeito da sua relação com as autarquias. E amanhã discutir-se-ão novas medidas, prevendo o Orçamento [do Estado para 2023], para responder a esta situação económica, que arrasta uma inflação significativa na zona Euro", apontou Francisco Louçã.

Para o antigo dirigente bloquista, o "efeito destes anúncios sucessivos pode ser cansativo" e o Executivo deveria antes apresentar soluções "expressivas" para resolver os "grandes problemas" existentes, nomeadamente, nos "preços da habitação" e na "dificuldade do acesso aos bens essenciais". Até porque, na sua ótica, tudo isso levanta uma questão "fundamental": "porque é que as medidas anteriores não resultaram?", questionou. 

Estamos assim, como defendeu Louçã, perante um evidente "desgaste do Governo na opinião pública", derivado do facto de António Costa ter vindo a usar "com muita habilidade, mas com muita repetição, os anúncios de grandes medidas, de grandes programas económicos, que depois não são concretizados ou são invisíveis para as pessoas".

"O reconhecimento do primeiro-ministro, de que estamos pior do que há um ano atrás, é bastante óbvio", concluiu ainda o professor.

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