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"Tenho dificuldade em ouvir um primeiro-ministro que culpa os outros"

Para o presidente do maior partido da oposição, o combate aos incêndios é uma "responsabilidade política", tendo em conta que era sabido que "vinha uma onda de calor a caminho", além de "muitas coisas que tinham sido prometidas que não estavam a ser executadas", como é o caso da reforma florestal.

"Tenho dificuldade em ouvir um primeiro-ministro que culpa os outros"
Notícias ao Minuto

23:45 - 19/07/22 por Daniela Filipe

Política Luís Montenegro

Naquela que foi a sua primeira entrevista desde a tomada de posse enquanto presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro teceu duras críticas ao Governo do primeiro-ministro António Costa, particularmente no que toca a gestão do combate aos incêndios. Acusou, nessa linha, o responsável de “brincar com a governação”, ao mesmo tempo que procura escusar-se de “responsabilidade política”.

“Este Governo exerce funções há sete anos, e foi sob o comando deste primeiro-ministro, e sob a tutela do Partido Socialista no Governo, que tivemos o maior episódio em termos de dimensão de perdas de vidas humanas, e também materiais, com incêndios florestais, em 2017. Essa marca está no percurso destes sete anos, e deveria de ter sido um ponto de viragem daquilo que é a prevenção, medidas de exploração da atividade florestal, e de tentar diminuir aquilo que é, infelizmente, uma inevitabilidade”, começou por elencar Luís Montenegro, em declarações à CNN Portugal. O líder do PSD referia-se aos incêndios que deflagraram em Pedrógão Grande, alastrando a concelhos vizinhos e provocando a morte de 66 pessoas, assim como ferimentos a 253 populares, sete dos quais graves.

Para o presidente do maior partido da oposição, esta é uma “responsabilidade política”, tendo em conta que era sabido que “vinha uma onda de calor a caminho”, além de “muitas coisas que tinham sido prometidas que não estavam a ser executadas”, como é o caso da reforma florestal, tema já por si abordado no encerramento do 25º. Congresso Regional do PSD/Açores.

De visita a Pedrógão Grande, Montenegro assegurou ter sido informado por “aqueles que de perto contactam diariamente com esta realidade” de que “estávamos igual ou pior daquilo que estávamos em 2017”. Rejeitou, assim, as afirmações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que considerou não haver “comparação” com o nível de preparação do país para fazer face aos incêndios, salientando que a “informação hoje disponível é muito melhor do que jamais foi, muito melhor em todos os domínios”.

O líder do PSD não poupou críticas também a António Costa, que acusou de estar “constantemente a culpar os outros por aquilo que são responsabilidades que tem de assumir enquanto líder da governação”.

“Tenho muita dificuldade em ouvir um primeiro-ministro que está constantemente a culpar os outros por aquilo que são responsabilidades que tem de assumir enquanto líder da governação. Os Governos existem para servir a comunidade, para servir as pessoas, e para resolver os problemas da comunidade e das pessoas”, complementou.

Reconheceu, contudo, não ser possível “pôr um polícia atrás de cada incendiário”, mas equacionou a tomada de medidas que “façam com que a floresta tenha uma atividade económica que possa viabilizar a ocupação do território e o ordenamento do território”.

“Onde há abandono, as dificuldade fazem-se notar de forma mais evidente”, indicou.

Guerra política? "Estou a aproveitar aquilo que é a minha função de escrutinar"

Montenegro atirou ainda que a administração faz crer que “isto não é nada com o Governo”, quase como “a tirada, absolutamente inusitada, de dizer às pessoas ‘olhem, para evitar termos problemas no SNS, não fiquem doentes’”, referindo-se à declaração da diretora-geral da Saúde, Graças Freitas, de que “o pior que pode acontecer é adoecer ou ter acidentes em agosto”, devido à procura nas urgências hospitalares.

O responsável rejeitou, ainda assim, estar a lavrar uma guerra política através da culpabilização do Governo no que toca a situação atualmente vivida pelo país, considerando, ao invés, estar a “aproveitar aquilo que é a [sua] função de escrutinar e de fiscalizar a ação do Governo”.

“Os portugueses têm de ter da parte do maior partido da oposição o cumprimento da sua principal tarefa, e a sua principal tarefa não é governar. Fomos mandatados precisamente para escrutinar e fiscalizar o Governo, e não vamos dar descanso. O senhor primeiro-ministro pode tentar escapar às suas responsabilidades da maneira que entender – ainda agora fez um Conselho de Ministros extraordinário à pressa. Até parece que ia acontecer alguma coisa de muito relevante e, afinal, eram duas medidas que poderiam ser tomadas na quinta-feira, só porque há debate do Estado da Nação, e é preciso alguma coisa para marcar a atualidade”, atirou.

Para ilustrar o seu ponto de vista, Montenegro recorreu ao episódio com o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, que, depois de apresentar uma nova solução aeroportuária para Lisboa, viu o seu despacho ser revogado pelo primeiro-ministro, no dia seguinte.

O senhor primeiro-ministro anda a brincar com a governação. Temos um Governo onde um ministro diz o contrário do que o primeiro-ministro disse que deveria de ser feito, entram numa contradição insanável, incompreensível, que não está explicada, e o Governo faz como se nada fosse. O primeiro-ministro diz que foi um erro de comunicação, e as coisas seguem tranquilamente, sem nenhum tipo de responsabilização política”, rematou.

O responsável revelou ainda ter encontro marcado com o primeiro-ministro a propósito da situação aeroportuária, “em princípio no final desta semana”, onde assegurou que lhe dirá, em primeira mão, qual a visão do PSD quanto ao “caminho que se deve prosseguir para termos uma decisão”.

"O país quer que o PSD seja oposição e desenhe uma verdadeira alternativa"

O líder do PSD reiterou ainda a sua posição quanto à realização de um referendo sobre a regionalização, que recusou adiantar, para "não desviar atenções" para uma agenda que considerou não ser a sua.

Além disso, mostrou-se "muito tranquilo e muito empenhado em dar ao país o que precisa" nos próximos anos, apontando não estar interessado "em ter uma crise política".

"O país quer que o PSD seja oposição e desenhe uma verdadeira alternativa política", considerou.

No que toca o seu posicionamento quanto ao partido Chega, Montenegro repetiu que os princípios e valores do PSD são "inegociáveis" e que está "focado em tirar o PS do Governo".

"Sei que, por vezes, as pessoas querem levar discussão à volta do PSD para temas que interessam ao PS. O maior parceiro político que o PS e António Costa encontraram foi o Chega e André Ventura", apontou, defendendo que "os dois têm uma coisa em comum: gostam muito de atacar o PSD".

[Notícia atualizada às 00h08]

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