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"Governo anda desnorteado", mas "algumas coisas têm de estar mal" com PSD

No arranque do 40.º Congresso Nacional do PSD, Luís Montenegro saudou o presidente cessante, mas sublinhou que o PSD só governa em situações de crise e atirou: "Não são os eleitores que estão errados".

"Governo anda desnorteado", mas "algumas coisas têm de estar mal" com PSD
Notícias ao Minuto

22:34 - 01/07/22 por Tomásia Sousa com Lusa

Política PSD

Luís Montenegro agradeceu, esta sexta-feira, na abertura do Congresso do PSD, "todo o esforço" do "companheiro Rui Rio" ao serviço dos sociais-democratas.

Começando por saudar "todos os que participam no Congresso", especialmente aqueles que vão cessar funções, Montenegro dedicou um "cumprimento especial" aos órgãos que vão cessar funções.

"E, de uma forma ainda mais especial, ao Dr. Rui Rio, ao companheiro Rui Rio, que foi durante quatro anos e meio presidente do nosso partido, que tem uma vida pública preenchida pelo serviço a Portugal e aos portugueses", realçou, expressando respeito pelo percurso do presidente cessante e "pelo esforço que dedicou à causa" do partido.

No início da sua intervenção, manifestou também a sua consideração pelo seu adversário nas últimas diretas, Jorge Moreira da Silva, pela campanha com "grande elevação" que protagonizaram.

"A circunstância de nos termos defrontado nestas eleições diretas não retira em nada, pelo contrário, aumenta essa consideração", afirmou.

O novo líder do PSD lembrou o congresso onde Francisco Sá Carneiro se "reconciliou com o partido e assumiu a presidência que tinha deixado meses antes" para afirmar que "romper com qualquer tentativa de confusão com o PS" será "um bom tónico para o congresso" do Porto.

No arranque do 40.º Congresso Nacional do PSD, Luís Montenegro usou as ideias do fundador do então PPD, Francisco Sá Carneiro, de demarcação do partido relativamente ao PS e que considerou ter permitido depois a vitória da Aliança Democrática.

"A nossa representação não se esgota apenas naqueles que confiaram em nós", apontou. "A nossa obrigação é representarmos o interesse de toda a sociedade e fazê-lo com respeito pela nossa matriz ideológica."

Nós somos um partido que nunca se descaracterizou nem vai descaracterizar. Nós acreditamos na iniciativa privada como o motor da criação de riqueza e, por isso, nós não somos socialistas."

Mas Montenegro fez notar, também, que o partido acredita que "a igualdade de oportunidades, a justiça social e a segurança são as chaves mestras das funções do Estado". "E por isso nós não somos ultra-liberais ou excessivamente liberais", sublinha.

Não vamos tapar o sol com a peneira. Nós todos sabemos a razão pela qual estamos aqui hoje. Tivémos eleições legislativas e nessas eleições o povo português deu mais quatro anos de poder ao Partido Socialista."

Referindo-se aos resultados das últimas legislativas, Montenegro defendeu que os eleitores "tomaram a decisão que acharam melhor", mas alertou: "Se o PSD não perceber isto, os eleitores vão continuar sem perceber o PSD".

Não são os eleitores que estão errados, somos nós que não os estamos a convencer", aponta.

"O PS governa, desgoverna e desarruma o país e nós vamos lá de fugida pôr ordem na casa e colocar novamente o país no rumo certo", afirmou. "Nós temos de fazer esta avaliação dentro do nosso partido."

E reflete: "Como é que depois de um pântano, depois de uma bancarrota, agora, pela terceira vez com António Costa, quando estamos a ir certinhos para a cauda da Europa, quando estamos a pagar impostos como nunca pagámos e a ter a oferta de serviços públicos como nunca tivemos em termos de eficiência e de falta de qualidade (...). Como é que um partido com este pecúlio continua a ganhar eleições em Portugal?"

Apesar da reflexão, Luís Montenegro garante que não está focado no passado. Mas se em 30 anos o PS "vai governar 24", é preciso olhar para dentro: "Para haver futuro do PSD, nós temos de acabar com esta fatalidade".

Algumas coisas têm de estar mal connosco e nós temos de ter a humildade de o reconhecer para o poder corrigir."

Garantindo não estar a mandar recados para ninguém, o presidente eleito reforça que "não são os eleitores que estão errados", mas o PSD que não os está "a conseguir convencer".

"Nós temos de nos modernizar, nós temos de nos organizar, nós temos de nos renovar, nós temos de regenerar o nosso partido e de estabelecer com as pessoas uma relação de maior afinidade e de maior confiança", recomenda aos militantes.

Para isso, o presidente eleito apontou algumas condições que considerou essenciais para "regenerar o partido" e que já apresentou, na maioria na sua moção de estratégia global.

"Primeiro, a unidade do partido: eu bem sei que é sempre mais difícil reclamar Do que promover, digo sem receio que também tenho as minhas responsabilidades. A população portuguesa só voltará a confiar no PSD se mostrarmos que, apesar das nossas diferenças, somos capazes de ter a casa em ordem e sermos fiáveis", apontou.

Por outro lado, apontou a necessidade de qualificar e abrir o PSD e valorizar os militantes, dirigentes e autarcas.

"Não podemos agredir aqueles que dão a cara por nós se não gerarmos confiança das pessoas em nós: temos de facilitar a admissão de quem quer militar o PSD e não podemos complicar as nossas regras de funcionamento interno", disse, recebendo muitos aplausos da sala.

Luís Montenegro reiterou o compromisso de fazer uma reforma estatutária e anunciou ter convidado o ainda presidente do Conselho de Jurisdição Nacional, Paulo Colaço, que não se recandidata, para o "ajudar nesse trabalho preparatório".

Criar uma academia de formação, remodelar o atual Conselho Estratégico Nacional (CEN) criado por Rio em articulação com o gabinete de estudos e o Instituto Sá Carneiro e lançar o 'Movimento Acreditar', para preparar o programa do partido para as legislativas de 2026, foram outros compromissos destacados.

"Temos quatro anos - não há nenhum razão para duvidar que o Governo vai perder a confiança do parlamento, pelo menos até ver -- mas tem faltado ao PSD a oportunidade de esclarecer melhor as suas ideias", afirmou.

Com Rui Rio na primeira fila do Congresso, Montenegro defendeu que não foi por causa do programa eleitoral que o PSD perdeu as eleições.

O nosso programa eleitoral era um bom programa eleitoral", defendeu, sublinhando que não foi por isso que o PSD perdeu as eleições legislativas. "Não tivemos tempo de amadurecimento do programa.

Ou seja, de acordo com o plano de Montenegro, nos próximos dois anos seria preparado o programa eleitoral do PSD e, nos dois anos seguintes (já fora do atual mandato), o partido iria "de terra em terra dialogar com as pessoas à velha moda do PPD desde a sua fundação".

Aeroporto? "As decisões do doutor Rui Rio são as minhas"

O presidente eleito do PSD afirmou que "até decisão em contrário" mantém as decisões de Rui Rio quanto ao novo aeroporto e considerou que a "autoridade e a credibilidade do Primeiro-ministro estão feridas de morte irremediavelmente".

"O presidente do PSD vai mudar este fim de semana, mas o PSD é o mesmo e, até decisão em contrário, as decisões do doutor Rui Rio são as minhas decisões e as decisões do PSD", assegurou Luís Montenegro.

Na sua primeira intervenção no 40.º Congresso Nacional do PSD, que decorre entre hoje e domingo no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, o novo líder social-democrata considerou que "não há explicação" para o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, "continuar no Governo" depois de ter feito aquilo que fez.

"Se isto não se perceber, e eu duvido muito que se venha a perceber, então a autoridade e a credibilidade do primeiro-ministro estão feriadas de morte irremediavelmente", defendeu.

Há mais de um ano, Rui Rio disse que aceitava alterar a lei que dá atualmente poder de veto a um município sobre grandes obras públicas, desde que o Governo aceitasse realizar uma avaliação ambiental que considerasse tanto a opção Montijo como a de Alcochete, o que foi aceite por António Costa.

O 40.º Congresso do PSD, a consagração de Luís Montenegro como presidente do partido, decorre até domingo no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, mas inicialmente esteve marcado para o Coliseu da mesma cidade, tendo mudado de local devido às melhores condições do novo espaço que, entretanto, ficou disponível.

Quase 30 anos depois, o PSD volta assim aos congressos no Pavilhão Rosa Mota, mas numa situação bem diferente de 1992, quando Cavaco Silva governava o país com maioria absoluta.

Agora, é o PS que detém a maioria absoluta desde as eleições de 30 de janeiro e o PSD está longe do poder desde 2015.

Neste Congresso, estão inscritos 935 delegados, 203 participantes, e 1.033 observadores, de acordo com dados da secretaria-geral do PSD.

[Notícia atualizada às 23h49]

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