PSD. Presidente eleito esteve 5 semanas quase ausente do espaço mediático
Luís Montenegro foi eleito presidente do PSD em diretas em 28 de maio, mas só entrará em funções plenas e com os órgãos nacionais eleitos após o Congresso que se realiza entre sexta-feira e domingo.
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Política PSD
Durante estas cinco semanas, só por duas vezes o antigo líder parlamentar teve agenda pública, não deu qualquer entrevista e usou a rede social Twitter muito pontualmente para partilhar as suas posições.
Até a 'passagem de testemunho' simbólica por parte do ainda presidente do PSD, Rui Rio, para o líder eleito foi feita na sede do partido sem a presença da comunicação social -- ao contrário do que tinha acontecido na transição de Passos Coelho para Rio -- e apenas uma fotografia nas redes sociais e um curto comunicado registaram o momento.
Segue-se uma cronologia dos principais acontecimentos no PSD desde as diretas de 28 de maio:
28 maio 2022
- Luís Montenegro vence Jorge Moreira da Silva nas eleições diretas com 72,48%, a maior diferença de sempre para o segundo classificado em eleições disputadas, e uma abstenção de 39,53%.
No discurso de vitória, o antigo líder parlamentar afirmou que, apesar do mandato ser de dois anos, pretende ser "candidato a primeiro-ministro" nas eleições legislativas de 2026, e considerou que a sua vitória dita "o princípio do fim da hegemonia do PS".
Sobre a transição com a direção de Rui Rio, Luís Montenegro assegurou que seria feita de forma discreta e "à moda dos homens bons, conversando uns com os outros" e anunciou que teria na semana seguinte uma reunião de trabalho com o líder parlamentar.
No discurso de derrota, Jorge Moreira da Silva disse que iria contribuir para a unidade, mas sem quaisquer funções executivas na nova equipa, e deixou em aberto a possibilidade de se voltar a candidatar à liderança do partido no futuro.
- Nessa mesma noite, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, felicitaram Luís Montenegro pela eleição como presidente do PSD.
Numa mensagem na rede social Twitter, António Costa referiu que o PSD escolheu hoje o seu novo presidente e que já felicitou Luís Montenegro "pela sua vitória".
Também através da mesma rede social, Augusto Santos Silva saudou o presidente eleito social-democrata: "Com uma bancada de 77 deputados, o PSD é um grande partido indispensável para a nossa democracia parlamentar".
29 maio 2022
- O Presidente da República revela que falou no sábado à noite por telefone com os dois candidatos à liderança do PSD, felicitando Luís Montenegro pela vitória e saudando o contributo de Jorge Moreira da Silva para o debate.
Ouvido pela agência Lusa, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que falou no sábado à noite com Luís Montenegro, "felicitando-o pela vitória e desejando-lhe felicidades no novo cargo", e com Jorge Moreira da Silva, "cumprimentando-o pela campanha e contributo para o debate" que no seu entender "enriqueceu o ato eleitoral social-democrata".
- O presidente do PSD, Rui Rio, felicita o novo líder eleito do partido, Luís Montenegro, com "votos de muito sucesso", e cumprimentou igualmente o candidato derrotado "pelo serviço que prestou ao partido".
"Os meus parabéns ao Luís Montenegro com os votos de muitos sucessos em prol do PSD e de Portugal. E um cumprimento ao Jorge Moreira da Silva pelo serviço que prestou ao partido", escreveu, no Twitter.
- O líder do Chega lança um repto ao novo presidente eleito do PSD para se juntar ao partido a fazer oposição ao PS, dizendo esperar o voto social-democrata em propostas apresentadas pelo partido, como a constituição de uma comissão de inquérito ao caso do acolhimento de ucranianos em Setúbal e o referendo à eutanásia.
"Acho que doutor Luís Montenegro tem condições para fazer alguma liderança que o doutor Rui Rio não fez em matéria de oposição e o repto que lhe quero deixar, honestamente, é que se junte ao Chega a fazer verdadeira oposição ao PS", desafiou André Ventura, no final de um Conselho Nacional do partido, na Guarda.
31 de maio
-- O presidente do PSD, Rui Rio, defende no Congresso do Partido Popular Europeu em Roterdão (Holanda) a reforma dos regimes democráticos como forma de combater populismos e autoritarismos e volta a classificar a invasão da Ucrânia pela Rússia como "um ataque ao modo de vida" europeu.
De acordo com o semanário Expresso, ainda antes da realização das diretas, Rio tinha convidado o candidato que vencesse a também estar presente neste Congresso, mas quer Jorge Moreira da Silva quer Luís Montenegro recusaram.
1 de junho
- O grupo parlamentar do PSD anuncia que se vai abster na votação da proposta do Chega para constituir uma comissão de inquérito sobre o caso dos refugiados ucranianos de Setúbal, mas sem excluir esse instrumento no futuro.
O primeiro a defender a necessidade de uma comissão de inquérito na AR sobre este tema foi Luís Montenegro: em 08 de maio, dois dias antes do anúncio do Chega o então candidato à liderança do PSD exortou a oposição no parlamento a constituir uma comissão de inquérito ao processo de acolhimento de refugiados ucranianos em Setúbal por cidadãos russos com alegadas ligações ao Kremlin.
2 junho de 2022
- Num almoço-debate do International Club of Portugal, em Lisboa, com o tema "Os grandes desafios de Portugal", o líder parlamentar do PSD, Paulo Mota Pinto, considera que o presidente eleito, Luís Montenegro, "pode trazer uma dinâmica de combate político" que favoreça o partido, assegurando que tudo fará nesse sentido.
"Nós temos um presidente eleito e que eu acho que pode trazer uma dinâmica de combate político, que espero favoreça e farei todo o possível para que possa favorecer o PSD", afirmou.
- Pelas 17:00, e em comunicado, o PSD informa que Rui Rio tinha recebido Luís Montenegro na sede nacional do partido, em Lisboa, um encontro de que a comunicação social não foi informada previamente, ao contrário do encontro público entre Pedro Passos Coelho e Rui Rio, em janeiro de 2018.
"Em cima da mesa esteve essencialmente todo o processo de transição da liderança, tanto do ponto de vista logístico como político", precisa o partido, na nota.
Questionado pelos jornalistas no parlamento, nesse mesmo dia, Rui Rio assegurou que, até ao Congresso, é ele o responsável por todos os órgãos nacionais do partido, incluindo a bancada, e não quer "alterar nada", mas a partir daí não se irá "meter onde não é chamado".
O ainda presidente do PSD reitera que os deputados do PSD voltarão a ter liberdade de voto nos diplomas sobre eutanásia, incluindo o que propõe um referendo.
- Hora e meia mais tarde, Luís Montenegro revela através da sua conta do Twitter ter-se encontrado em seguida com o líder parlamentar, Paulo Mota Pinto, mas sem adiantar detalhes sobre se deseja ou não a continuidade da atual direção da bancada.
Já Paulo Mota Pinto escusou-se a responder aos jornalistas sobre o teor do encontro, dizendo apenas: "Comigo não".
- Nesse mesmo dia, no parlamento, o vice-presidente da bancada social-democrata Ricardo Baptista Leite aproveitou o período das declarações políticas para saudar a "expressiva eleição de Luís Montenegro como novo líder do PSD, sob o lema 'Acreditar'".
"Acreditar em Portugal. É este o mote orientador do novo líder eleito do PSD, Luís Montenegro, ao qual nós, deputados do maior partido da oposição, damos eco a partir do parlamento para o país", declarou, com o ainda presidente do partido, Rui Rio, sentado numa das filas mais atrás da bancada social-democrata.
3 de junho
O primeiro-ministro anuncia que vai ouvir em julho o novo presidente do PSD, Luís Montenegro, para decidir a localização do novo aeroporto de Lisboa e a alta velocidade ferroviária, considerando essencial politicamente aproveitar a fase inicial dessa nova liderança.
Num almoço na Câmara do Comércio Luso Espanhola, António Costa referiu que a direção cessante do PSD, de Rui Rio, evoluiu na sua posição relativamente à decisão apontada pelo executivo de Pedro Passos Coelho, tendo exigido a realização de uma avaliação ambiental estratégica entre as opções do Montijo e de Alcochete.
"Como é sabido, agora, a liderança da oposição está em alteração e, neste momento, aguardo que no próximo mês tenhamos um novo líder da oposição para saber se o acordo é Montijo, se é Alcochete, ou qual é o acordo", disse.
"Por mim, só tenho um critério: Aquilo que a oposição entender é aquilo que fazemos, mas não podemos perder mais tempo relativamente ao novo aeroporto", declarou, em modo irónico.
Em relação à projeção de linhas de alta velocidade ferroviária -- uma questão também em termos de ligações à rede espanhola -, António Costa disse que também terá de ouvir o novo presidente do PSD.
- Em entrevista à CNN Portugal, o antigo primeiro-ministro e líder do PSD Aníbal Cavaco Silva diz ser um "absurdo total" a demora na eleição do novo presidente do PSD, considerando que o partido esteve "cinco meses sem líder", e deixou elogios a Luís Montenegro.
"Tenho a ideia de que o doutor Luís Montenegro tem muito claro na sua cabeça como é preciso fazer oposição neste momento para dar um futuro melhor ao nosso país", disse.
Pelo contrário, foi muito crítico quanto à presidência de Rui Rio, dizendo, por vezes, o PSD "quase que pareceu um partido regional".
"Penso que muitos eleitores viram ao longo do tempo um PSD que era suporte do PS, quando às vezes era mesmo humilhado em debates na Assembleia da República pelo PS", afirmou.
6 de junho
- Num dos dois únicos pontos de agenda pública nestas cinco semanas, uma visita à Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, Luís Montenegro respondeu a António Costa, dizendo registar a "confissão de incompetência" do primeiro-ministro ao manifestar a esperança de ser o PSD "a dar uma solução" à localização do novo aeroporto e à alta velocidade ferroviária.
"Se não conhecesse o senhor primeiro-ministro há muitos anos diria que tinha ficado comovido com este rasgo de humildade, de ele vir reconhecer, sete anos depois de ser primeiro-ministro, a sua incompetência em resolver o assunto e a sua esperança de que seja o PSD a dar uma solução a esses problemas", declarou.
Já sobre as palavras elogiosas proferidas de Cavaco Silva a seu respeito, Luís Montenegro afirmou que "são seguramente um incentivo", por se tratar "de uma personalidade que é muito respeitada pelos portugueses e que tem uma experiência que mais ninguém tem, do ponto de vista da longevidade quer da ação governativa quer depois da Presidência da República".
11 de junho
- O líder eleito do PSD reage às notícias de sucessivos encerramentos de serviços de urgências obstétricas através de uma publicação na rede social Twitter: "Todos os dias o SNS dá sinais graves de degradação e gera desconfiança aos cidadãos".
Luís Montenegro considera nessa publicação que os portugueses estão a pagar "anos de cativações e birras ideológicas", considerando o caso em concreto do encerramento temporário do serviço de obstetrícia do Hospital de Braga como uma "demonstração objetiva do empobrecimento que os governos socialistas trazem a Portugal".
12 de junho
- Mais uma vez via Twitter, Luís Montenegro desafia o Governo a explicar "urgentemente na Assembleia da República as objeções que tem quanto ao processo de adesão da Ucrânia".
14 de junho
O ainda presidente do PSD, Rui Rio, fora do país no âmbito das comemorações do 10 de Junho (esteve na África do Sul e em Moçambique), comenta os problemas registados no setor da saúde ainda em Maputo, responsabilizando o PS por não promover cooperação entre os setores público e privado, deixando o SNS degradar-se.
"Não há efetivamente capacidade de organização e de planeamento (...). Está praticamente tudo mal e sem rumo, com um complexo de ordem ideológica", frisou.
17 de junho
- É novamente na rede social Twitter que Luís Montenegro recorda os cinco anos dos incêndios que deflagraram em Pedrógão Grande em 2017, deixando uma "palavra solidária" aos que perderam familiares e património.
"E recordo as promessas feitas que ficaram por cumprir. O Estado falhou há 5 anos. Vai o Governo continuar a falhar àquelas populações?", questiona.
27 de junho
- Na sua segunda intervenção pública desde a eleição, Luís Montenegro considera que os portugueses já estão "cansados do Governo" PS, apesar da vitória eleitoral de há tão pouco tempo, afirmando que o país precisa de uma "voz forte" na oposição.
"Não me lembro na nossa história democrática de um Governo, nomeadamente um Governo que tem maioria absoluta no parlamento, estar tão desgastado, para não dizer mesmo tão esgotado, tão pouco tempo depois das eleições. Praticamente no início de um mandato, as pessoas já estão cansadas daquilo que o Governo tem para apresentar ao país", disse Luís Montenegro, durante a sessão de tomada de posse dos novos órgãos concelhios do PSD de Ílhavo (distrito de Aveiro).
Questionado sobre o Congresso, limitou-se a dizer que tem "ótimas expectativas" e espera "um partido unido" e uma reunião viva e dinâmica.
29 de junho
- O Governo anuncia uma nova solução aeroportuária para Lisboa, que passa pela construção, até 2026, de um novo aeroporto no Montijo, e por encerrar o aeroporto Humberto Delgado, quando estiver concluído o de Alcochete.
Contactada pela Lusa, fonte próxima do presidente eleito do PSD afirma que Luís Montenegro "não foi informado de nada" sobre os planos do Governo para o novo aeroporto, depois de o primeiro-ministro ter reiterado no parlamento que iria aguardar pela sua posição, por ser necessário um "consenso nacional suficiente" para que a decisão tomada fosse "final e irreversível".
Em entrevista à RTP, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, justificou que Luís Montenegro se "colocou de fora" do processo de escolha da estratégia para o novo aeroporto de Lisboa quando acusou o governo de incompetência nesta matéria.
Leia Também: Montenegro "não foi informado" de planos do Governo para novo aeroporto
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