"Ziguezagues" e "desorientação". Partidos reagem a solução para aeroporto
Da Esquerda à Direita, são muitas as críticas à solução encontrada pelo Executivo para o novo aeroporto de Lisboa. Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, rejeitou que a decisão tenha sido "unilateral".
© Fiúza/NurPhoto via Getty Images
Política Aeroporto
O Governo tem uma nova solução aeroportuária para Lisboa, que passa pela construção, até 2026, de um novo aeroporto no Montijo, e por encerrar o aeroporto Humberto Delgado, quando estiver concluído o de Alcochete.
O plano passa por acelerar a construção do aeroporto do Montijo, uma solução para responder ao aumento da procura em Lisboa, complementar ao aeroporto Humberto Delgado, até à concretização do aeroporto em Alcochete, apontada para 2035, segundo o Ministério.
O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, afirmou, esta quarta-feira, que o país anda "há anos de mais" a decidir sobre o novo aeroporto de Lisboa e que não haveria nenhuma decisão "que não fosse alvo de críticas". O governante rejeitou ainda que a solução hoje anunciada pelo Executivo seja "unilateral" e disse que foi Luís Montenegro, que se "pôs de fora".
Isto porque, em reação, fonte próxima do presidente eleito do PSD afirmou, à Lusa, que este "não foi informado de nada" sobre os planos do Governo para o novo aeroporto.
Já Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, disse ainda não ter condições para comentar a decisão anunciada pelo Governo acerca do novo aeroporto de Lisboa, afirmando estar à espera de saber os "contornos concretos" da solução encontrada pelo Executivo socialista através do primeiro-ministro, António Costa.
"Não estou em condições de estar a comentar o despacho, nem o comentaria sem saber se isso tem implicações ou não que envolvam o Presidente da República", começou por dizer Marcelo, em declarações aos jornalistas, depois das várias reuniões bilaterais que teve ao longo da tarde.
Mas também outros partidos e personalidades nacionais já reagiram à decisão apresentada, com Rui Rio, o ainda líder da oposição, a considerar que não é "viável" avançar com a nova solução aeroportuária para Lisboa no Montijo, lembrando que "é preciso alterar a lei". O social-democrata questionou como irá avançar a solução agora anunciada pelo Governo e acusou o Executivo de andar aos "ziguezagues".
Solução "não é credível"
O PCP considerou que a solução Montijo/Alcochete proposta pelo Governo para resolver a situação do aeroporto de Lisboa "não é credível" e insistiu na transferência faseada para o Campo de Tiro de Alcochete.
"A confirmaram-se as notícias de que o Governo avançará com a construção do aeroporto no Montijo e posteriormente em Alcochete, gostaríamos de dizer, desde já, que não é credível e não é aquela que é a resposta necessária para o país", sustentou a líder parlamentar comunista, Paula Santos, nos Passos Perdidos do Parlamento.
O Grupo Parlamentar do PCP requereu audição na Assembleia da República, com caráter de urgência, do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.
O anúncio feito pelo Governo, no sentido de avançar no imediato com a construção de um segundo Aeroporto no Montijo - ao mesmo tempo que estão a decorrer investimentos na Portela - para depois, em data incerta, construir um Aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete encerrando ...
— PCP (@pcp_pt) June 29, 2022
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"Andam a brincar com o país"
A deputada pelo Bloco de Esquerda Joana Mortágua reagiu, esta quarta-feira, ao facto de o Governo ter decidido avançar com uma nova solução aeroportuária para Lisboa, que passa pelo Montijo e Alcochete.
"Dizem as notícias que o Governo decidiu abandonar a Avaliação Ambiental Estratégica e avançar já para a construção do aeroporto no Montijo. As mesmas notícias dizem que o Governo reconhece a necessidade de construir um aeroporto em Alcochete. Andam a brincar com o país", escreveu no Twitter.
Dizem as notícias que o governo decidiu abandonar a Avaliação Ambiental Estratégica e avançar já para a construção do aeroporto no Montijo. As mesmas notícias dizem que o Governo reconhece a necessidade de construir um aeroporto em Alcochete. Andam a brincar com o país.
— Joana Mortágua ️️️ (@JoanaMortagua) June 29, 2022
Utilização de dinheiros públicos "tem que ser escrutinada"
João Cotrim Figueiredo, presidente da Iniciativa Liberal, alertou que a utilização de dinheiros públicos na nova solução aeroportuária do Governo tem que ser "muitíssimo escrutinada", prometendo usar todos os instrumentos à sua disposição para obter esclarecimentos sobre o tema.
"Se fizemos o esforço político que fizemos relativamente à intervenção na TAP - que foram cerca de 3.500 milhões de euros - estes dois aeroportos juntos são mais do dobro desse montante. É uma utilização de dinheiros públicos que tem que ser muitíssimo escrutinada", defendeu.
"Desrespeito ao Parlamento", diz Chega
O presidente do partido Chega, André Ventura, acusou o Governo de um "desrespeito muito grande" para com o Parlamento ao anunciar a nova estratégia aeroportuária e lamentou que os partidos não tenham sido informados da decisão.
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, em Lisboa, afirmou que "havia um consenso com o Parlamento" porque estava "um processo de avaliação ambiental em curso" que "foi acordado" com a Assembleia da República.
Livre fala em "desorientação"
O deputado único do Livre, Rui Tavares, considerou hoje que a nova solução aeroportuária para Lisboa do Governo revela "uma certa desorientação", defendendo que deve ser feita uma avaliação ambiental estratégica "sem localizações definidas".
"Parece-me que revela uma certa desorientação, é um voltar atrás em algumas garantias que tinham sido dadas da fidedignidade do processo", afirmou Rui Tavares, em declarações aos jornalistas, na Assembleia da República.
Para o deputado do LIVRE, deve ser feita "uma avaliação ambiental estratégica, sem localizações definidas, para fazer o que deveria ter sido feito em meio século de debate" e "que pode ser feito até 2023" de forma a manter "o prazo que tinha sido fixado".https://t.co/8jRSVSALgV
— LIVRE (@LIVREpt) June 29, 2022
PAN considera estratégia "inusitada e precipitada"
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, considerou ontem que a nova solução aeroportuária para Lisboa é "manifestamente inusitada e precipitada" e defendeu que a decisão deveria ser tomada "só após" a avaliação ambiental estratégica.
"Este é um claro exemplo daquele que era o receio em relação ao chamado rolo compressor da maioria absoluta, que claramente abriu aqui o caminho para uma opção que tem sido fortemente contestada pelas organizações não-governamentais do ambiente, pelos próprios órgãos reguladores, pelos municípios afetados e também pelos partidos da oposição", defendeu Inês Sousa Real na Assembleia da República.
O comunicado é de 2020, mas mantém a sua atualidade, mais do que nunca! E não sei em que universo faz sentido pôr em causa uma avifauna única, de espécies migratórias protegidas, por uma solução provisória no Montijo!
— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) June 29, 2022
É suposto acreditarmos mesmo nisso?!https://t.co/qxcPGH2LlN
"É ao Governo que compete decidir"
Carlos Moedas, autarca de Lisboa, sublinhou que estará do lado da solução que melhor servir Lisboa, depois de o Governo ter anunciado que vai fechar portas ao aeroporto Humberto Delgado quando as instalações do Montijo e de Alcochete estiveram operacionais.
Já a ANA - Aeroportos de Portugal saudou, esta quarta-feira, a decisão do Governo de avançar com uma nova solução aeroportuária para Lisboa no Montijo e Alcochete, considerando que irá permitir dar, "a curto prazo" uma resposta "viável e otimizada às necessidades de desenvolvimento aeroportuário" da região.
"A ANA - Aeroportos de Portugal saúda a decisão do Governo português que permitirá dar, a curto prazo, uma resposta viável e otimizada às necessidades de desenvolvimento aeroportuário da região de Lisboa, através de uma solução pragmática de investimento nos aeroportos Humberto Delgado e do Montijo", lê-se num comunicado a que o Notícias ao Minuto teve acesso.
O Governo atribuiu ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil a elaboração do Plano de Ampliação da Capacidade Aeroportuária da Região de Lisboa e respetiva avaliação ambiental estratégica, o estudo da construção do aeroporto do Montijo, enquanto infraestrutura de transição, e do novo aeroporto 'stand alone' (único) no Campo de Tiro de Alcochete.
Leia Também: Governo tem uma nova solução aeroportuária. Afinal, o que está em causa?
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