O primeiro-ministro voltou esta quarta-feira à Assembleia da República para responder às perguntas dos grupos parlamentares, e as primeiras críticas que ouviu foram os esperados pedidos de demissão dirigidos à ministra da Saúde, Marta Temido. Mas o regresso de Costa ao hemiciclo foi também um reacender de tensões entre a bancada do Governo e o líder do Chega.
António Costa e André Ventura entraram num debate aceso sobre a atenção aos debates parlamentares e sobre as respostas aos deputados, com André Ventura a perguntar a Costa se este viu o debate de urgência da passada sexta-feira, em que foi debatida a crise na saúde, e acusando-o de "brutal desrespeito à instituição do Parlamento" por não responder a cada uma das suas perguntas.
Na sua primeira intervenção, o líder do Chega, André Ventura, pediu a António Costa que "assuma a sua responsabilidade" e que demita a ministra Marta Temido, afirmando que a gestão da área da saúde tem sido um "desastre".
“Chamada a dar respostas ao Parlamento, a ministra da Saúde não disse nada”, gritou André Ventura, numa intervenção num tom elevado, em que comparou a defesa de Marta Temido à defesa da posição de Eduardo Cabrita pelo Primeiro-ministro na legislatura anterior.
António Costa admitiu que não viu o debate de urgência de sexta-feira, ao que o deputado do Chega reagiu com "incredulidade", dizendo que o primeiro-ministro "não se importa" com a saúde dos portugueses - numa resposta em que mencionou a morte de um bebé nas Caldas da Rainha e que fez Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, abandonar hemiciclo de semblante cerrado.
Seguiu-se o equivalente a um jogo de ténis, com André Ventura a utilizar pouquíssimos segundos por intervenção de modo a ter mais perguntas para fazer, e o primeiro-ministro a repetir as suas respostas de forma curta e rápida, e a explicar brevemente que foram adotadas medidas do Orçamento do Estado, reiterando que Ventura as conhece "porque votou contra".
Costa deixou claro que confiava nas declarações de Marta Temido no Parlamento e disse ao líder do Chega que "se não estivesse tão exaltado e preocupado em abrir telejornais e fazer números para as televisões, teria reparado que estive todo o dia a ouvir os grupos parlamentares sobre a adesão da Ucrânia".
Em resposta, André Ventura disse em tom de brincadeira que "há uma aplicação nos comandos que dá para voltar para trás", ao que Costa reiterou: "Eu quando chego a casa a última coisa que tenho vontade é de andar para trás para o ouvir a si na televisão".
Ventura indignou-se quando António Costa disse que responderia às perguntas sobre o aumento do custo de vida "por agregado". "Era o que faltava. O primeiro-ministro não é presidente do Parlamento, há um presidente da Assembleia da República que tem de respeitar e um conjunto de portugueses. Neste debate, o primeiro-ministro responde imediatamente”, exigiu o deputado.
Nos seus últimos segundos de intervenção, André Ventura atacou também o presidente da Assembleia da República, acusando-o de "complacência" perante a atitude do primeiro-ministro.
O líder do Chega acusou ainda o PS de ter tornado a maioria absoluta "numa prepotência absoluta".
António Costa acabou por anunciar que o apoio ao cabaz alimentar iria ser prolongado por mais três meses para quem beneficia da tarifa social de eletricidade, e que a medida abrangeria "um milhão de famílias".
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