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Campos Fernandes. "Estamos no ponto de assumir que temos um problema"

O ex-ministro da Saúde defendeu uma discussão alargada dos modelos de organização na Saúde e defendeu que se deve evitar "a todo o custo balcanizar esta discussão".

Campos Fernandes. "Estamos no ponto de assumir que temos um problema"

O ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes analisou, na terça-feira, o atual estado da saúde pública em Portugal. No seu espaço de comentário na CNN,  o ex-governante considerou que o "diagnóstico" a este problema já estava feito, e considerou ainda os dados do Relatório da Primavera 2022, publicado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde também na terça-feira.

O comentador considerou que um dos coordenadores do Observatório foi "muito claro" quanto aos resultados, quando disse que a "orientação estratégica não é um problema de responsabilidade política objetiva única". "É um problema do país, de um conjunto de governos, por onde muito de nós tiveram responsabilidades", referiu o ex-responsável pela pasta da Saúde entre 2015 e 2018, acrescentando que era necessária também a intervenção da sociedade civil - dos médicos e enfermeiros aos cidadãos.

"É isso que talvez falte. Creio que estamos no ponto de deixar de falar do diagnóstico, que ele está feito. Estamos no ponto de, corajosamente, assumir que temos um problema", afirmou, sublinhando que está na hora de "alargar os atores envolvendo os profissionais nessa discussão".

Campos Fernandes considerou ainda que esta resignação coletiva "continuará a agravar este mesmo caminho".

O professor acredita, ainda, que o maior problema de Portugal é a resignação face aos problemas. "Eu acho que o grande problema do país, neste momento, talvez seja uma enorme tendência para resignação coletiva. Baixámos muito o nível de exigência de uns para com os outros. Há também uma tendência - que não é útil - de banalizar os problemas", apontou, acrescentando que perante um problema,  "a primeira preocupação não é enfrentá-lo" e colocar a questão a discussão, mas sim dizer: 'Enfim são sempre coisas que aconteceram'".

"Um pouco como as fatalidades que perseguem a nossa vida, ou que sempre assim foi, que demora muito tempo, ou que não vale a pena equacionar medidas porque as coisas se resolveram por si".

Campos Fernandes considerou que Portugal tem "uma distorção na composição dos diferentes grupos profissionais", nos quais há mais de 40 especialidades médicas. "Portanto, temos no ciclo de demografia médica faltas e carências como foi agora sentido o caso da Obstetrícia e Ginecologia, mas também da Anestesia e Pediatria. Isso é um facto que remete para a qualidade do corpo clinico e não para a quantidade", rematou.

Na sua análise, o comentador falou ainda sobre a "saída inusitada de profissionais do setor público para o privado que faz com que a perceção da falta seja no Serviço Nacional de Saúde".

O professor considerou ainda que é preciso fazer alterações em aspetos quantitativos, mas também a nível organizacional, ou seja, não só proceder, "justamente e bem", a uma atualização das remunerações, como também iniciar uma "remodelação organizacional introduzindo fatores de desemprego".

Caso isto não aconteça, o ex-governante defende que "daqui por dois anos é o que estamos a ter agora: um profundo afundamento das curvas que se cruzam entre recursos e resultados. E quando nós invertemos e fazemos cruzamento entre as curvas dos recursos e dos resultados temos um problema de sustentabilidade [do SNS]", problema este que a  seu ver falta discutir. "Podemos ter esta narrativa de que é mais financiamento e  mais recursos, mais recurso e financiamento. Bom, talvez agora inventar os modelos de organização, envolver os hospitais em processos de maior autonomia e isso poderá fazer com que estes recursos tenham melhores resultados", considera.

Campos Fernandes considerou ainda que é necessário que os recursos sejam utilizados "com inteligência, estratégia e razoabilidade". "Os recursos da Saúde são os recursos do país", referiu.

O ex-ministro da Saúde defendeu uma discussão alargada dos modelos de organização na Saúde e defendeu que se deve evitar "a todo o custa balcanizar esta discussão". "Aqui e ali começa já a ver-se uma espécie de bancada entre aqueles que acham que o modelo que defende melhor os cidadão é o exclusivamente público e que aquele que defende modelos colaborativos está contra o SNS, e outros que dizem que o SNS morre se não houver uma privatização maciça ou uma contratação maciça com os privados", defendeu.

"Há um meio termo, e no meio termo é que está  solução", afirmou, defendendo a existência de um regime colaborativo a par do "eixo estrutural e estruturante que é o SNS". "E talvez ser mais inovador do discurso", reiterou, referindo-se à existência de mais médicos em Portugal. "Podemos ter mais  mil médicos, mas se não estivermos a responder bem aos cidadãos, o que é que interessa?", questionou

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