Sem medo, Livre tentou unir a esquerda e combater apelo ao voto útil
Numa campanha em que o 'fantasma' das legislativas anteriores ainda pairou, o Livre fez sua missão agregar a esquerda, ao mesmo tempo que lutou contra apelos ao voto útil que podem pôr em risco um regresso ao parlamento.
© Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens
Política Rui Tavares
A corrida eleitoral começou com alguns percalços para o Livre, com a exclusão inicial dos debates televisivos. Depois de uma queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE), o historiador Rui Tavares acabou por ser incluído na grelha inicial e juntou-se aos partidos 'grandes' nos duelos nas televisões e rádios, com uma prestação elogiada pela maioria que 'catapultou' o partido para a ordem do dia.
Mas o 'fantasma' da eleição passada ainda pairava: depois de em 2019 ter eleito uma deputada, Joacine Katar Moreira, o Livre retirou-lhe confiança política meses depois do feito histórico, o que deixou marcas sobre se um voto neste partido valeria a pena.
Confrontado com esse passado, e até com declarações críticas de Katar Moreira durante a campanha, Rui Tavares afastou sempre polémicas mas também disse que o Livre "não varre os seus problemas para debaixo do tapete" e apontou que um partido "credibiliza-se falando das coisas que interessam às pessoas, não se credibiliza falando o tempo todo acerca de credibilidade".
Foi isso que a caravana verde e vermelha, cores da papoila que é símbolo do partido, tentou ir fazendo, insistindo desde o início na necessidade de convergência à esquerda através de um "pacto social, progressista e ecológico com uma agenda para um novo modelo de desenvolvimento para o país", apresentado até ao próximo dia 25 de Abril.
Pelo meio, o fundador do partido tirou a 'ecogeringonça' da cartola, uma solução que juntaria Livre, PAN, PEV e PS numa maioria parlamentar, mas ressalvou sempre que a solução ideal continuava a ser um entendimento "o mais amplo possível" à esquerda.
À medida que a campanha ia aquecendo, algumas propostas do partido foram gerando polémica, como a criação de um programa piloto para um Rendimento Básico Incondicional ou a atribuição do subsídio de desemprego não apenas para quem é despedido mas também para quem se despede em casos pontuais, como por exemplo, para o trabalhador que queira melhorar as suas qualificações.
O Livre quis "escrever a outra história destas eleições" através de uma política do "Bota acima, não abaixo", slogan de campanha, e Tavares chegou a dizer que a eleição de um grupo parlamentar não era apenas um desejo, era também "uma necessidade".
Mas com PS e PSD numa corrida cada vez mais renhida, os apelos ao voto útil multiplicam-se, o que pode colocar em causa o regresso do Livre ao parlamento. Ciente do risco, na reta final, Tavares quis convencer o eleitorado a não desistir de votar no partido, argumentando que o Livre não oscilou "conforme sondagens" e teve uma posição clara desde o início.
Novamente sem medo do passado, Tavares recuou a 2015, altura em que o Livre integrou a candidatura cidadã 'Tempo de Avançar' e a eleição nessas legislativas parecia certa mas acabou por não acontecer, quando o eleitorado decidiu ir "resolver outro assunto": Passos Coelho ou António Costa.
Puxando da bandeira verde e das preocupações ambientais, houve ações de campanha para todos os gostos, desde uma visita a uma loja de calçado ecológico, em Braga, às Salinas do Samouco, em Setúbal, uma subida à Serra de Carnaxide, em Oeiras, ou até uma viagem de barco no rio Tejo, em Santarém, onde Tavares tentou apanhar uma "maré alta" na esperança de que esta o leve até ao parlamento no próximo dia 30.
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