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"Se estivessem cansados do PS, há muito tempo que podiam ter mudado"

Laura Rodrigues é a candidata do Partido Socialista à Câmara Municipal de Torres Vedras e a entrevistada de hoje do Vozes ao Minuto.

"Se estivessem cansados do PS, há muito tempo que podiam ter mudado"
Notícias ao Minuto

09:40 - 20/09/21 por Andrea Pinto

Política Laura Rodrigues

"O acaso é o que determina muitas vezes a nossa vida e a vida dos que estão à nossa volta. Neste caso, é exatamente isso". É desta forma que Laura Rodrigues encara a forma como se tornou na candidata do Partido Socialista à Câmara Municipal de Torres vedras.

A número dois de Carlos Bernardes, autarca que faleceu a 3 de maio, foi escolhida para substitui-lo. Uma sucessão "inesperada" mas que a candidata garante assumir com uma dupla responsabilidade: por um lado, cumprir o legado deixado, por outro, caminhar rumo a um novo futuro.  

Com uma governação socialista de mais de quatro décadas no município, Laura Rodrigues está confiante de que a vitória está garantida, mas mostra respeito por todos os seus adversários, que acredita serem pessoas que têm apenas como objetivo melhorar a cidade.

Em conversa com o Notícias ao Minuto revela aquelas que são as suas bandeiras, exige ao Governo que resolva a situação do hospital do Oeste e partilha o sentimento de responsabilidade e orgulho em ser a primeira mulher presidente na cidade.

O partido diz que a sua escolha acontece de forma “natural”, dado que era a número dois de Carlos Bernardes. Mas como foi para a Laura assumir este desafio? Era algo para o qual já se vinha preparando ou foi totalmente inesperado?

Para esta situação foi totalmente inesperada e que resultou do falecimento do presidente Carlos Bernardes. De outra forma não seria uma hipótese plausível e não era algo que estivesse no meu horizonte ou do Partido Socialista dado que havia um candidato perfeitamente natural. Foi uma situação que surgiu após a tragédia que aqui aconteceu. 

Podemos, assim, dizer que a sua candidatura acontece de forma ‘forçada’. Isto muda, de alguma forma, o modo como assume este desafio? Ou seja, o peso do legado faz com que queira manter o que estava a ser feito ou assume esta liderança sem medo de querer mudar?

O nosso slogan é exatamente ‘Cuidar o legado e construir o futuro’, portanto, naturalmente que terei de ter sempre em atenção que o PS é um partido que está aqui na autarquia há décadas e que tem um trabalho feito e há um trabalho de continuidade em linha com aquilo que são os princípios do partido e as características do nosso território. Temos muitos projetos em desenvolvimento e trabalho feito, e esse trabalho é todo para levar em frente e para cumprir. Portanto, não há situações de corte em absolutamente nada do que já estávamos a levar em frente, tanto mais que eu fazia parte da equipa e fazendo parte da equipa é claro que fui participando naquilo que são as decisões e os projetos e na construção do que era o programa do mandato anterior. Em relação à outra parte, a de construir o futuro, temos que partir daquilo que é o presente e do que foi o passado e em função disso e das características do território e das necessidades da população, ter propostas que deem continuidade e que mereçam o apoio dos torreenses.

E que propostas são essas?

Propostas que têm a ver com a nossa continuidade naquilo que é a requalificação do nosso território, dos espaços públicos em todo o nosso município, quer seja dentro da cidade ou fora dela. Dentro da cidade, ao longo dos anos, tem havido um investimento muito grande para requalificar zonas que eram mais deprimidas e degradadas e que hoje têm características completamente diferentes através de projetos que mobilizaram, quer a Câmara como as associações e as populações locais, para dar uma nova vida a algumas dessas zonas. E esse trabalho continuaremos a fazê-lo tanto aqui na cidade como em cada uma das nossas freguesias. Somos um concelho em que a cidade está no meio do próprio concelho mas temos uma área rural muito interessante e muito ligada à cidade, e aquilo que pretendemos é cimentar essa ligação que é a de manter por um lado o espaço rural e a sua paisagem, que é extraordinariamente atrativa para muitas das atividades que hoje são importantes ao nível do turismo, e por outro lado melhorar todo esse espaço e requalificar os espaços dando melhores condições a quem vive nesses territórios.

A habitação é, por isso, outro dos aspetos a que daremos prioridade por razões diversas. Por um lado, porque há identificada a necessidade de habitação e habitação que tenha características com valores que sejam acessíveis às populações com mais dificuldades e acessíveis aos jovens também. Temos uma estratégia local de habitação que está construída e aprovada e que devemos iniciar no próximo ano e é dedicada também àquilo que é no fundo a reconstrução. Temos identificado no nosso território diversas áreas de reabilitação urbana em que existem edifícios degradados e devolutos, pertencentes a particulares grande parte deles, e que podem ser objeto de apoios no âmbito da estratégia local de habitação e no âmbito do plano de recuperação e resiliência (PRR) para serem recuperadas e colocadas no mercado ou para vender ou para habitação própria e isso pode ser feito pela câmara ou particulares. E esse é um objetivo muito grande e que queremos levar em frente durante este mandato. 

Creio que a questão do emprego não é um problema na região. Nós precisamos é de ter mais pessoas para trabalhar 

Relativamente a essa questão da ruralidade, sabemos que a região é conhecida pelos seus vinhos, pela agricultura… Haverá nesse sentido também uma proposta para promover o emprego na região, nomeadamente nestas áreas?

Creio que a questão do emprego não é uma questão de necessidade de haver mais emprego. Nós precisamos é de ter mais pessoas para trabalhar aqui na região. Não é uma região com falta de emprego, felizmente, e mesmo nas fases de crise, nas fases em que todo o país teve mais dificuldades, aqui foi uma zona em que o nível de desemprego foi relativamente baixo em relação às médias nacionais exatamente porque tem estruturas em termos económicos que permitem absorver muita mão de obra, como é o caso da agricultura. Há nestes sectores o contrário, que é a necessidade de mão de obra para atividades produtivas e tão importantes para o país e para a economia local. 

Essa questão pode é articular-se com a questão da habitação porque uma das coisas que temos identificadas na nossa estratégia local de habitação é que possamos, de alguma forma, trabalhar com as empresas empregadoras por forma a haver habitação que seja destinada aos empregados, às pessoas que venham de fora trabalhar para esta zona. E isto é uma situação que tem de ser olhada e que faz muita diferença naquilo que são as condições de atratividade para as pessoas que possam estar no nosso território. Devem estar, mas devem estar de uma forma digna. E, portanto, estes sectores continuarão a ser promovidos pela Câmara Municipal - como aconteceu há dois anos com  a cidade europeia do vinho em Alenquer, que foi um pontapé de saída muito importante para a promoção da atividade. Em relação aos produtos hortícolas, somos uma zona profundamente produtora e exportadora com um conjunto de empresas muito significativas e com grande peso no país e queremos efetivamente dar mais visibilidade e apoio. Temos a  agência Investir Torres Vedras, que está dedicada e vai trabalhar ainda mais naquilo que são os apoios às empresa e as mentorias que possam ser precisas para as empresas. Gostaríamos de vir a ter um grande evento anual ou bienal, para a promoção daquilo que são as nossas hortofrutícolas. Creio que nos faz falta um evento que seja exclusivamente dedicado a isso porque somos uma região com uma produção imensa.

Torres Vedras é uma cidade às portas de Lisboa, mas acaba por não ser assim tão próxima, pelo menos para quem tem de se deslocar diariamente até à capital para trabalhar ou até para esta questão da captação de pessoas que queiram trabalhar na região. Há propostas para melhorar a mobilidade na região?

Sim, temos nesta altura uma coisa pela qual lutámos muito ao longo de anos, que é a requalificação da Linha do Oeste e que está a ser feita. Da nossa parte, houve uma pressão muito grande para que esse desígnio fosse cumprido e portanto esta requalificação e edificação da Linha do Oeste permitirá ancorar algumas empresas e atrair investimento para alguns sítios do nosso concelho, que são considerados mais interiores e que têm estações e apeadeiros que já funcionaram anteriormente, e que hoje estão desativados ou quase. Mas um bom transporte ferroviário faz com que realmente essas zonas passem a ser extraordinariamente importantes na captação de investimentos particularmente de empresas que possam ficar localizadas junto a esses nós e que facilmente possam ser depois utilizadas.

De qualquer das maneiras, Torres Vedras, mesmo ainda não tendo a Linha do Oeste, nos Censos, foi dos poucos municípios do país que subiu 4,6% da sua população, porque tem uma localização privilegiada e hoje tem condições de vida que permitem com que as pessoas vivam com conforto e qualidade, e com facilidade de deslocação para a cidade grande, Lisboa, porque o transporte rodoviário hoje existe de 10 em 10 minutos e também com valores muito mais acessíveis do que anteriormente. E isso faz com que, realmente, com grande facilidade as pessoas vivam aqui em Torres e se desloquem para trabalhar em Lisboa. Mas aquilo que preferimos é que a maior parte das pessoas possam ter o emprego aqui.

Há previsão para a conclusão da Linha do Oeste?

Não temos… Cremos que em 2023, em principio, será para funcionar mas não temos certezas. Não é um trabalho nosso, propriamente dito. Sabemos que as coisas nos últimos tempos, em Portugal, no que diz respeito a materiais, construção e à economia de forma geral têm tido alguma escassez, quer de materiais como de pessoas, e sabemos que as obras, de uma forma geral, estão atrasadas e, portanto, mesmo as empresas comprometendo-se com uma data não conseguem chegar ao fim com as coisas como deveriam chegar.

Estamos com carência de médicos de família e de médicos nos próprios centros hospitalares e isto é algo que não pode ser admissível [...] Nós temos um SNS e obrigatoriamente este tem que corresponder ao que são as expetativas dos seus utentes. E isso não esta acontecer e é uma grande obrigação da tutela zelar por issoA região viu-se recentemente frente a um surto de Covid-19, em Santa Cruz, tendo também o hospital de Torres Vedras estado no centro das atenções durante a pandemia devido à sua falta de capacidade para responder ao aumento de casos, durante as vagas mais problemáticas da doença. Qual a proposta do PS para resolver os problemas de saúde na região?

A questão da saúde na região é multifatorial e não tem apenas a ver com o nosso território. Umas das coisas que é fundamental é que se repense aquilo que é a colocação dos médicos de família e isso é algo que tem de ser a tutela a trabalhar primordialmente. Tem de ser restruturada a forma como são colocados os médicos de família para que todo o território possa ter médico de família em igualdade de circunstâncias, o que não acontece. Estamos com carência de médicos de família e de médicos nos próprios centros hospitalares e isto é algo que não pode ser admissível quando todos sabemos e temos obrigação de cuidar da saúde e dos cuidados de saúde para todos. Nós temos um Serviço Nacional de Saúde (SNS) e obrigatoriamente este tem que corresponder ao que são as expetativas dos seus utentes. E isso não esta acontecer e é uma grande obrigação da tutela zelar por isso. Da nossa parte tem havido uma pressão muito grande relativamente à tutela para que essas coisas possam ser sanadas, sabendo nós que não é de um dia para outro.

Exigir também que fique estabelecida, de uma vez por todas a construção do centro hospitalar do Oeste. É uma necessidade urgentíssima aqui para a nossa zona, que é uma zona com imensas pessoas, com um contributo imenso para aquilo que é a economia nacional e que está muito mal tratada a este nível. O nosso foco é esta exigência que da parte do Governo haja o compromisso de que este hospital vai ser feito e de quando vai ser feito.

Do que nos cabe diretamente, vamos construir Unidades de Saúde Familiar em diversas zonas do nosso território porque nos parece necessário criar condições de trabalho para profissionais de saúde e condições para que utentes possam usar da melhor forma esses espaços. Ainda temos o foco de dar continuidade ao trabalho de parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa para virmos a instalar o campus de saúde do Barro, no antigo hospital José Maria Antunes, que será um polo na área da medicina e onde se pretende que haja investigação em muitas áreas e que será um polo de atração para investigadores, estudantes, e que possa ser ali alojado uma unidade de cuidados de saúde primários.

Assume que é muito pouco provável que o PS não ganhe com maioria. Em que se baseia para essa confiança?

No nosso trabalho de muitos anos, direi eu, aliás, no nosso bom trabalho de muitos anos. Efetivamente a nossa avaliação daquilo que é o nosso trabalho de todo estes anos tem sido muito positiva pela parte dos nossos munícipes, que nos têm dado desde há vários mandatos a sua confiança. Isto são indicadores da vida hoje em Torres Vedras em consequência de todo este trabalho, da ligação que temos tido com as nossas freguesias que é uma coisa extraordinariamente importante. O nosso trabalho é um trabalho de rede que não é centrado na câmara, não é centrado em questões de natureza exclusivamente municipal, mas um trabalho que é centrado na rede de parcerias que estabelecemos com as juntas e com as associações do nosso território. Portanto, esse trabalho, no fundo, acaba por dar origem a um trabalho que é muito participado e que é de base, e por isso, aquilo que vemos é que realmente os indicadores são interessantes: o aumento da população, a sustentabilidade do nosso território, apreciações muito positivas no que são as áreas do ambiente em geral, boas condições, o facto de sermos um território seguro, a qualidade das nossas estruturas de ensino. Tudo isto é consequência deste trabalho que cremos que será reconhecido.

Falou precisamente no facto de serem muitos anos de trabalho e essa é uma das questões apontadas pela oposição, que diz que os torreenses estão cansados de tantos anos de governação socialista. Acredita que pode ser um dado contra a sua candidatura?

Não. Se estivessem cansados há muito tempo que já teriam tido oportunidade de fazer mudanças. As pessoas votam e participam no dia a dia das atividades municipais para fazerem as escolhas em que elas são soberanos. Os 40 anos são 40 anos de equipas muito diversas e havendo princípios que são comuns, as pessoas vão mudando e cada uma delas tem características diferentes. Umas com visões um pouco mais conservadoras, outras mais abertas, mas seguindo os mesmos princípios. As pessoas são diversas e nós sabemos que as pessoas fazem diferença mesmo para um mesmo programa.

Tem pela frente, contudo, dois grandes opositores: Duarte Pacheco que acaba por ser um nome com maior visibilidade a nível nacional, e Sérgio Galvão que por já ter sido vereador conhece bem o funcionamento Câmara. Não teme que estes dois candidatos possam fazer ‘mossa’ no resultado final destas eleições? 

Tenho o maior respeito por qualquer um deles, pelo trabalho de qualquer um deles e pelas ambições que têm para serem sujeitos a voto. Creio que o que qualquer um tem em vista é trabalhar para a melhoria das condições de vida dos torreenses, o que temos são diferenças relativamente àquilo que são essas tais condições de vida e diferenças nos caminhos para lá chegar. Mas todos estão no seu direito de concorrer com as suas ideias, com a sua forma de estar e, por isso, é que somos uma democracia. O importante é que todos possam vir pôr as suas ideias e disputar aquilo que são, neste caso, eleições.

A sua situação como cabeça de lista, diz, é 'suis generis' porque não foi a Laura a escolher a lista de pessoas que a acompanha nesta candidatura. Acredita, apesar disso, que se candidata com a equipa certa?

Completamente. Isso é uma situação suis generis realmente. Digo, muitas vezes, que o acaso é o que determina muitas vezes a nossa vida e a vida dos que estão à nossa volta. Neste caso, é exatamente isso. Eu não escolhi a equipa, mas a equipa foi uma escolha feita pelo Carlos Bernardes e na qual eu me incluía, portanto, naturalmente essa equipa é a equipa com que vou trabalhar e vou trabalhar da melhor forma. É a melhor nesta momento para levar os nossos projetos em frente.

É a primeira mulher presidente - que é agora candidata ao cargo ao mesmo tempo - em 47 anos de democracia em Torres Vedras. Como se sente neste papel?

Muito orgulhosa. E com sentido de grande responsabilidade. É um orgulho muito grande porque eu sempre achei que o exemplo é muito importante e o facto de  outras mulheres verificarem que há mulheres a ocuparem cargos de poder, cargos de decisão, é muito importante para elas porque é reconfortante e permite que vejam que efetivamente a vida delas pode ser assim. Algumas mulheres demitem-se dessas situações e ambições. Por outro lado, é uma responsabilidade porque o facto de ser mulher também exige naturalmente responsabilidades acrescidas relativamente ao facto de não ser homem. Os olhos postos são muitas vezes diferentes e vai-se avaliar se realmente a mulher tem capacidade para olhar para obras, ou não, que são coisas normalmente concentradas mais nos homens. É um orgulho muito grande um exemplo para as mulheres de que é possível.

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