"O 25 de Abril foi algo belíssimo, mas continua com enormes lacunas"
Um artigo de opinião assinado por Joaquim Jorge, biólogo e fundador do Clube dos Pensadores.
© Joaquim Jorge
Política Artigo de opinião
"É importante sair deste clima tóxico que corrói o ambiente político em Portugal. O processo de José Sócrates só veio aprofundar um ambiente de desnorte com inúmeras questões em que os portugueses não sabem em quem acreditar e não veem fazer justiça.
Continuamos com a sensação de que há uma justiça para ricos e outra para pobres, não se entende como não é punido o enriquecimento ilícito!
Os portugueses não têm dúvidas de que Portugal é um país ingovernável e que não tem conserto. É só gente com esquemas e a governar-se quando consegue uma aberta, tem um contacto ou sabe de algo antes dos outros.
Esta ideia que está generalizada na sociedade portuguesa leva a que o 25 de Abril se comemore, mas com parcimónia e sem aquela euforia de antigamente.
A ilusão transformou-se numa desilusão. A maioria dos portugueses nem quer ouvir falar em política e foge dela a sete pés. As pessoas com mais valor estão em casa, pois não estão para se incomodar.
A política deveria ser para todos, mas é somente para alguns, aí é que está o grave problema. A democracia portuguesa tem de fazer uma introspeção quando em sucessivas eleições metade dos eleitores não vota.
Algo se passa, mas o pior é que os nossos responsáveis políticos fazem ouvidos de mercador.
O 25 de Abril foi algo belíssimo, mas continua com enormes lacunas e está algo incompleto. A nossa democracia não pode 'enterrar a cabeça na areia,' mas precisa que 'se pegue o boi de frente'.
Um país que tem tudo para dar certo, mas não acerta. Um país com muitos bandidos de todas as espécies e que andam à solta.
A democracia precisa de ser acarinhada, e o mais importante, aplicada no dia a dia.
A nossa democracia vive algum sossego, mas é uma paz podre em que cada vez há mais descontentes e desinseridos socialmente.
Isso é grave, pois permite a ocupação do espaço por extremismos.
Chegados aqui, 47 anos depois do 25 de Abril, a responsabilidade do que se passa é coletiva: dos políticos; da sociedade; da comunicação social. Temos de tornar a nossa democracia melhor e mais participada, temos de fazer prevalecer as ideias e acabar com os casos.
Gostava de viver numa democracia com mais qualidade, mais adulta e mais plena
Não podemos desistir!"
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