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Conheça 'Os 230'. "Informação isenta é a melhor arma contra extremismos"

'Os 230', um projeto de responsabilidade cívica, tem como missão última diluir o fosso entre eleitos e cidadãos, suscitando o "espírito crítico" de todos, para que, na hora do voto, a decisão de cada um seja "mais informada" possível.

Conheça 'Os 230'. "Informação isenta é a melhor arma contra extremismos"
Notícias ao Minuto

08:00 - 28/11/20 por Melissa Lopes

Política Democracia

Francisco Cordeiro de Araújo tem 23 anos, é aluno de Direito Internacional na Faculdade de Direito de Lisboa e tem uma missão em mãos - entrevistar todos os 230 deputados com a pretensão de aproximar os cidadãos dos eleitos que os representam na Assembleia da República (AR). 

"A ideia foi-me surgindo. Já há muito tempo que me sentia algo desconfortável ao ver que a nossa sociedade estava a ficar mais polarizada e entrincheirada", conta em conversa com o Notícias ao Minuto.

Paralelamente, Francisco foi-se apercebendo que "obter informação isenta da parte das pessoas que se interessam por política" se tornou cada vez mais difícil. "O que gerava demasiada discussão e desconfiança por parte das pessoas", contextualiza

Com o surgimento da pandemia, Francisco pôs em marcha a ideia que já germinava na sua cabeça há muito tempo e criou o projeto que dá pelo nome de 'Os 230'. "No momento em que há restrições de direitos, liberdades e garantias, em que as decisões que são tomadas na Assembleia da República, têm mais peso nas nossas vidas, senti que era a oportunidade ideal para avançar com um projeto de responsabilidade cívica". Se não o fizesse, estaria "simplesmente a ser conformista e a ver a sociedade a extremar-se ainda mais" em plena crise. 

A ideia começou a ganhar corpo em agosto. "Pensei que a melhor maneira para combater também a distância que existe entre nós, cidadãos, e quem nos representa, era agarrar na AR e começar por aí: entrevistar os 230 deputados para os dar a conhecer às pessoas", afirma. Porque, se "já são raras as pessoas que conhecem o que defendem os partidos e o que é que têm nos programas eleitorais, ainda menos são os que conhecem quem é que são as pessoas por detrás de uma sigla".

O objetivo máximo é dar a conhecer os deputados de modo a que, na hora do voto, os cidadãos tomem "decisões mais informadas". Mas não só. Que no dia a dia "se sintam mais próximas dessas pessoas que as representam", porque a democracia não acontece apenas de quatro em quatro anos.

Notícias ao MinutoEntrevista a Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda© Daniela Loulé e Gabriela Luís

Francisco (e toda a equipa - cerca de 20 pessoas - que está com "afinco" no projeto) ambiciona que suscitar nos cidadãos a participação cívica, estimulando uma relação que tem sempre de ser bilateral. "Um dos trabalhos dos 230 deputados que estão na AR é ouvir e ter uma permanente ligação com a sociedade".

A  ideia não é apontar culpas a nenhum dos lados, porque, diz Francisco, "estamos todos do mesmo lado e se isto funcionar bem, é bom é para o nosso país". 

Com o projeto, Francisco quer, de certa forma, derrubar "o preconceito" de que os deputados não fazem nada. Mas, aponta: "Se criticamos, estamos a criticar-nos a nós próprios". Porque se os deputados estão no Parlamento foi porque os escolhemos. Das duas uma, ou não sabemos a nossa escolha, ou sabíamos e escolhemos mal". Esta responsabilidade, acrescenta, é da sociedade, não é só dos 230 eleitos pela população. "Ou seja, nós temos a responsabilidade de eleger os nossos melhores e de saber quem eles são". 

Francisco sabe bem que o fosso entre eleitos e cidadãos é consequência de várias situações. Uma delas é o afastamento dos partidos políticos. Outra das razões são "as conotações feitas com o mundo político, muito associadas a casos de corrupção e a algum compadrio, que é também transversal à sociedade, mas que é mais visível no mundo político que tem um escrutínio maior".

A "informação desinformada" veiculada nas redes sociais tem sido também um problema. Informação "sem filtro" acaba, inevitavelmente, por resultar em desiformação. Nas redes sociais, sublinha Francisco, "as opiniões passaram a ser factos".

Para o estudante de Direito Internacional, o que vemos neste momento é "uma maioria silenciosa de pessoas que têm interesse no país, mas que já não dão credibilidade à política e que sentem que é uma causa perdida".

Com 'Os 230', Francisco não pretende dar "ênfase" a nenhum partido e ideologia, colocando antes o foco na informação, algo crucial para atingir o conhecimento e, por consequência, espírito crítico. 

"Sinto que deixamos de lado a moderação e partimos para os extremos quando deixamos de acreditar no conhecimento e de acreditar na democracia. Criticarmos a democracia e não sermos conformistas, e querermos mais do nosso país, é razoável. E é isso que se exige às pessoas".

Se é certo que as "pessoas estão descontentes com o estado em que o país está", "procurar soluções passa sempre por sermos pragmáticos, aliados ao conhecimento e literacia". "A melhor arma para nos defendermos contra qualquer tipo de extremismos é termos informação isenta para podermos voltar a confiar em quem nos representa", defende. 

Notícias ao MinutoEntrevista com João Almeida, do CDS© Daniela Loulé e Gabriela Luís

De acordo com as previsões de Francisco, daqui por um ano a maratona de entrevistas já terá chegado ao fim. Até agora ainda não levou nenhuma 'nega' aos pedidos de entrevista, mas reconhece que há "certos pontos", "certas entidades", "talvez por serem mais conservadores e mais burocratas", que não encaram o projeto "com grande abertura". 

"Queremos que isto seja transversal à sociedade, que não seja só jovens, que não seja só pessoas com certo tipo de interesse. O desafio maior que tive foi planear uma coisa na qual as pessoas tivessem confiança. E isso traz-me a responsabilidade adicional e leva-me a ter ainda mais o dever de transparência e mostrar que não estou aqui para defender qualquer tipo de ideologia", garante. 

O projeto, confessa, tem-lhe roubado tempo aos estudos, mas há "um sentimento que estamos a dar um contributo". "Há pessoas que não conhecemos e que mandam mensagens mostrando que para elas está a fazer a diferença. Já houve quem dissesse que nunca tinha votado mas que, neste momento, vê as entrevistas. Isso é algo fantástico e ainda nos incentiva mais", conta, desejando "deixar uma marca na nossa democracia e que os outros países possam seguir o exemplo". 

Pode acompanhar o projeto 'Os 230' na página de Facebook, no Instagram, no YouTube, no Twitter e no Podcast através do Spotify

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