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Proposta de Ventura sobre ciganos "é uma anedota constitucional"

Francisco Louçã defende que a proposta do Chega sobre um plano de confinamento específico para a população cigana é "uma provocação política" de André Ventura. "É detestável ver alguém querer fazer uma carreira política para ter algumas vantagens para si próprio através do ódio e do amesquinhamento contra outras pessoas", comenta.

Proposta de Ventura sobre ciganos "é uma anedota constitucional"
Notícias ao Minuto

23:44 - 08/05/20 por Notícias Ao Minuto

Política Francisco Louçã

A proposta do Chega sobre o confinamento específico para a população cigana, tema que causou polémica durante a semana, "não tem nenhum enquadramento constitucional, é até uma anedota constitucional", disse Francisco Louçã, esta sexta-feira,  no seu habitual espaço de comentário na SIC.

O ex-dirigente do Bloco de Esquerda lembrou que "a Constituição não permite que as pessoas sejam discriminadas por nenhuma razão", enfatizando que "os portugueses são todos iguais".  "Mesmo que isso custe muito a André Ventura, a população cigana são portugueses, absoluta e totalmente portugueses". 

No entender de Louçã, a proposta de Ventura "é uma provocação política", tendo até em conta que os últimos meses lhe correram "particularmente mal". "Tem descido nas sondagens, amanhã sairá uma sondagem a confirmar isso mesmo", apontou, assinalando que a razão para "esse desgaste" do deputado único do Chega "é a mentira sobre a exclusividade, o triplo emprego do doutor Ventura, o facto de ter proposto que os hospitais públicos fossem fechados, que só houvesse hospitais privados". 

"Ventura volta ao ponto em que acha que é uma mina de ouro eleitoral", observa Louçã, argumentando que o deputado pensa "que tem uma parte importante da sociedade portuguesa que tem muitos preconceitos em relação às comunidades ciganas". Portanto, Ventura viu nisso uma "possibilidade de aproveitamento", lançando-se sobre o tema "mais para provocar um incidente do que para conseguir qualquer resultado". "É pura técnica de amesquinhar pessoas, é aliás detestável ver alguém querer fazer uma carreira política para ter algumas vantagens para si próprio através do ódio e do amesquinhamento contra outras pessoas", frisou. 

Na ótica do também economista, André Ventura teve a resposta de um herói nacional que é Ricardo Quaresma que, "além de ter feito uma carreira brilhante na Seleção, representa Portugal como nós somos:  Portugal é como a equipa da Seleção Nacional -  tem ciganos, negros, brasileiros, tem emigrantes, gente de todas as cores. Portugal é este arco-íris e nós gostamos dela assim". 

Nesse sentido, "quando Quaresma fala da sua experiência como português e como cigano, está a mostrar uma elegância contra a discriminação que torna muito difícil a posição de Ventura", apontou Louçã, sinalizando a ironia de o deputado ter criado a sua popularidade através do futebol. 

Para o antigo dirigente do Bloco de Esquerda, apesar de o assunto ter sido levado para o debate quinzenal por Catarina Martins e António Costa, o "essencial ficou dito por Ricardo Quaresma". "É português, gosta de ser português, e nós gostamos que ele seja português. A democracia é isto mesmo, nós reconhecer-mo-nos uns aos outros como aquilo que somos", rematou. 

Ricardo Quaresma, recorde-se, criticou o "populismo racista" de André Ventura e a sua ambição pelo poder. "Triste de quem tenta ser alguém na vida atirando os homens uns contra os outros", começou por escrever. "Eu sou cigano. Cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses e não sou nem mais nem menos por isso", prosseguiu, terminando com um apelo: "Olhos abertos amigos, a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros...isto se queremos chegar ao céu".

Reagindo a este comentário, André Ventura afirmou ser "lamentável que um jogador da Seleção se envolva em política". "Espero que as autoridades do futebol não deixem que isto se torne o novo normal", disse o também comentador de desporto da CMTV

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