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"Admitir discussão de provocação contra civilização pode custar caro"

António Filipe, do PCP, critica a decisão tomada esta quarta-feira de remeter para o presidente da Assembleia da República o projeto-lei do Chega sobre a castração química de pedófilos, considerado inconstitucional pela respetiva comissão.

"Admitir discussão de provocação contra civilização pode custar caro"
Notícias ao Minuto

07:52 - 27/02/20 por Melissa Lopes com Lusa

Política Castração química

Sobre o projeto do Chega que a Comissão de Assuntos Constitucionais remeteu esta quarta-feira a decisão do seu agendamento para Ferro Rodrigues, o deputado comunista António Filipe defende que "uma coisa seria a Assembleia da República discutir um projeto de lei de duvidosa constitucionalidade", ou "que mesmo sendo reconhecidamente inconstitucional pudesse ser corrigida de modo conforme à Constituição", situação que  "acontece com alguma frequência". 

Coisa diferente, aponta o deputado, "é quando um projeto viola provocatoriamente valores constitucionais fundamentais, sem margem para dúvidas". 

"Seria o caso de um projeto de lei que pretendesse reintroduzir a pena de morte, de um projeto que pretendesse regressar á idade média e cortar o braço a quem rouba", exemplifica o parlamentar numa publicação feita na página de Facebook

No seu entender, é neste lote de casos que o projeto de lei do Chega, que pretende introduzir a castração química, se encontra.  "Penas degradantes e desumanas; violações grosseiras do princípio da dignidade humana inscrita no artigo 1.º da Constituição". 

Considerando que "não há juízos táticos que o justifiquem", o deputado avisa que "pensar que a Assembleia da República se deve demitir do seu dever de defesa da Constituição e admitir a discussão destas provocações contra a civilização, é um ato de demissionismo que pode custar caro".

A Comissão de Assuntos Constitucionais decidiu, esta quarta-feira, por maioria, que o projeto-lei do Chega sobre castração química não preenche os requisitos constitucionais para subir a plenário, mas remeteu a decisão do seu agendamento para o presidente da Assembleia da República.

Em resposta a dúvidas suscitadas por Ferro Rodrigues perante um primeiro parecer elaborado pela Comissão - e com o projeto já agendado para discussão em plenário na próxima sexta-feira -, os deputados dividiram-se hoje na discussão se a 1.ª Comissão tem ou não o poder de 'travar' iniciativas por dúvidas de constitucionalidade.

Depois de mais uma hora de discussão, os esclarecimentos da deputada do PS Cláudia Santos - autora do primeiro parecer - às perguntas colocadas pelo Presidente da Assembleia da República acabaram por ser aprovados, com uma alteração proposta pelo presidente da Comissão, o social-democrata Marques Guedes, aceite pela relatora.

"É entendimento da comissão que, do ponto de vista constitucional, o projeto-lei não preenche os requisitos para a subida ao plenário, pese embora entender que a decisão sobre o agendamento para discussão em plenário não cabe nas suas competências, mas sim ao Presidente da Assembleia da República, ouvida a conferência de lideres, razão pela qual se optou por não se incluir essa menção expressa no parecer", refere a resposta da Comissão a Ferro, que mereceu votos a favor apenas do PS, PCP e da deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.

BE, CDS e Chega votaram contra, defendendo que não se deveria abrir o precedente de a Comissão de Assuntos Constitucionais 'travar' a subida de diplomas a plenário. O texto mereceu a abstenção do PSD e do PAN.

Em causa está um diploma do Chega que pretende agravar as molduras penais privativas de liberdade para as condutas que configurem os crimes de abuso sexual de crianças, abuso sexual de menores dependentes e atos sexuais com adolescentes e que cria a pena acessória de castração química para quem reincidir na prática de ato sexual com menores de 14 anos, sendo esta última parte a quem tem merecido críticas de constitucionalidade.

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