Hugo Soares, braço de Direito de Luís Montenegro, acaba de discursar no segundo dia do Congresso do PSD, em Viana do Castelo, onde atacou não só o Partido Socialista, como também a liderança do seu próprio partido.
O ex-deputado, que é um dos maiores críticos de Rui Rio, começou por felicitar o presidente do PSD pela vitória eleitoral. “É o presidente do nosso partido, que é o maior de Portugal”, disse.
Contudo, não deixou de lançar duras críticas o líder social-democrata, principalmente, contestando parte do discurso de Rui Rio, feito na sexta-feira, no primeiro dia do Congresso.
"Ora o PSD perdeu eleitores, o PSD perdeu deputados, o PSD perdeu as eleições, o PSD saiu reforçado onde? O PS ganhou as eleições que não tinha ganho em 2015, teve mais votos e mais deputados, onde está o reforço eleitoral do PSD?", atacou.
Já sobre o Partido Socialista, que ganhou as eleições no passado dia 6 de outubro, o antigo lider parlamentar do PSD disse que, com o Governo de António Costa, o país está apenas a "perder tempo".
"Nós estamos a perder tempo com este Partido Socialista, este PS não é o PS de Mário Soares, não é o PS que esteve com o PSD a transformar Portugal quando foi preciso que os dois partidos estivessem unidos", disse, aproveitando para pedir que os sociais-democratas deixem de ser "socialistas de segunda".
Nem todos gostaram destas palavras de Hugo Soares, que foram claramente um ataque à liderança do PSD nos últimos anos. Entre as palmas, ouviram-se assobios, ao que o antigo deputado respondeu: "Quer aplausos quer assobios são sempre música para os meus ouvidos".
Já em jeito de desafio, Hugo Soares pediu Rui Rio a propor ao PS uma revisão constitucional sobre o sistema político. "Desafio a direção nacional e o país: proponhamos ao PS uma revisão constitucional para refundar o nosso sistema politico, uma revisão constitucional onde se consagre o princípio de solidariedade intergeracional, que aprofunde a defesa do meio ambiente e lance as bases da reforma do sistema politico. Verão que, no que é essencial o PS dirá que não, porque está agrilhoado ao BE e ao PCP".
Hugo Soares disse ainda que não é por o candidato que apoiou ter saído derrotado que irá mudar de opinião: "Divirjo profundamente nesta ambição do que deve ser o PSD, nós no PSD não nos congratulamos coma vitória do dr. António Costa".
"Nunca fomos nem queremos ser o PCP, não transformamos derrotas copiosas em vitórias eleitorais", avisou.
Seguiu-se, no púlpito, a resposta do deputado e dirigente André Coelho Lima, apoiante de Rui Rio.
"Não deixa de ter piada que ouvimos o companheiro que nos antecedeu dizer isto: quando nos movemos por convicções não são os resultados eleitorais que limitam os nossos movimentos. O que não imaginava era ver, em menos de cinco minutos, dizer uma coisa e o seu contrário como acabamos de ver agora mesmo. É de facto extraordinário", criticou.
Para André Coelho Lima, "o PSD precisa de preparar as autárquicas", considerando que o partido teve nas diretas que reelegeram Rui Rio "um momento de consolidação" que "não é interna, mas sim externa".
"A clareza e a clarificação do ato eleitoral do PSD não é só importante para o PSD, é importante para o país", alertou.
Antes, já outro destacado apoiante de Rio e vogal da Comissão Política, Maló de Abreu, defendeu que todos no PSD estão convocados para a principal batalha eleitoral: as autárquicas de 2021.
"Não há oficiais, sargentos e praças, estamos todos convocados porque somos todos soldados, quem não aceita ou rejeita missões difíceis, não merece as fáceis e as mais desejadas", avisou.
Outra apoiante de Rio, a líder das Mulheres Sociais-Democratas Lina Lopes, também recebeu assobios da sala ao dizer, a propósito das autárquicas de 2017, que "não queria criticar Passos Coelho", mas aponta responsabilidades à anterior direção pelos maus resultados.
Aos críticos internos, deixou um apelo inflamado: "Já chega, já chega, já chega", mas no final nem o grito "PSD, PSD" teve eco na sala.
O ex-líder da concelhia Nuno Freitas teve a originalidade de trazer a letra do Fado da Sugestão de Zeca Afonso ao Congresso do PSD e dirigi-lo ao presidente Rui Rio: "Não digas não diz sim/Muito embora amor não sintas/O não envenena a gente/Dize sim, ainda que mintas".
"Que todo o PSD diga que sim", apelou.