Os sucessivos casos de agressões contra profissionais de saúde levaram, na última terça-feira, a que as tutelas da Defesa e da Saúde se tivessem reunido para discutir medidas de segurança. Depois do encontro, seguiu-se uma conferência de imprensa na qual foi anunciado que o Governo iria criar um gabinete de segurança na saúde contra a violência. 

Nessa ocasião, Eduardo Cabrita detalhou que "o MAI irá colocar de imediato um oficial das forças de segurança junto do gabinete da senhora ministra da Saúde que irá coordenar a avaliação das áreas de maior risco que estão identificadas pelas forças de segurança".

Esse oficial não só irá coordenar a avaliação destas situações de risco, como irá proceder também à "avaliação das características físicas, numa perspetiva de segurança, de algumas instalações de saúde". 

A polémica surge quando começou a ser partilhada nas redes sociais uma fotografia de Eduardo Cabrita nessa mesma conferência de imprensa, em que a imagem surge acompanhada de um oráculo, na TVI, no qual se podia ler: "Profissionais de saúde vão receber formação de defesa". 

Esta quinta-feira, o ministério tutelado por Eduardo Cabrita socorreu-se das redes sociais para esclarecer que a referida afirmação não foi proferida no final da reunião com a ministra da Saúde e que, aliás, "não foi perguntado nem foi dito pelo MAI que os profissionais de saúde vão receber formação de defesa". 

O MAI conclui, portanto, que estamos perante um caso de 'fake news'. A ideia de os médicos poderem vir a receber formação de defesa é, aliás, uma das propostas do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) para o anunciado gabinete de segurança. O SIM propõe, entre outras medidas, uma "subvenção pelos Ministérios da Saúde e da Administração Interna da frequência pelos médicos do SNS de ações de formação de defesa pessoal", lê-se no site do sindicato. 

Questionado pelo Notícias ao Minuto sobre se o Governo tem a intenção de seguir o caminho de dar formação de defesa aos profissionais de saúde, o gabinete do MAI reitera que nunca tal medida fora dita pelo Executivo. 

Circula nas redes sociais uma imagem que atribui ao MAI uma afirmação NÃO PROFERIDA no final da reunião com a Ministra da Saúde. Não foi perguntado NEM FOI DITO pelo MAI que os profissionais de saúde vão receber formação de defesa. pic.twitter.com/jlVUCGPCtb

— Adm.Interna PT (@ainterna_pt) January 9, 2020

A imagem em causa foi partilhada nas redes sociais, por exemplo, pelo antigo deputado social-democrata, Carlos Abreu Amorim. "Eu não quero acreditar que o ministro disse um disparate destes!", escreveu, acrescentando: "Então a solução para a violência contra os profissionais de Saúde passa por 'aulas' de defesa pessoal?"

O eurodeputado, Nuno Melo, também partilhou a imagem, apelidando a ideia de "anedótica". Mais tarde, perante o desmentido do MAI, o centrista escreveu: "Das três, uma: alucinação colectiva, incompetência ou mentira do governo. Em qualquer dos casos o desmentido é tão grave, que SIC Notícias e TVI têm a obrigação pública de esclarecer qual é afinal a verdade". 

Para este surreal governo, os problemas nos hospitais do #SNS resolvem-se com aulas de Karate, em vez de médicos e enfermeiros (e já agora, menos calotes). Anedótico . Verdadeiramente inacreditável. pic.twitter.com/HHUXpZQkiL

— Nuno Melo (@NunoMeloCDS) January 9, 2020

De acordo com dados do Governo divulgados na segunda-feira, quase 1.000 casos de violência contra profissionais de saúde no local de trabalho foram reportados até ao final de setembro de 2019.

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