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PSD e CDS. "Em partidos sem votação, todos ralham e ninguém tem razão"

PSD e CDS são dois velhos amigos agora mergulhados numa crise institucional. A viver cada qual as suas crises internas, ambos procuram reerguer-se do tombo eleitoral. O CDS fá-lo-á com uma nova liderança. E o PSD? Está no 'segredo dos deuses' a decisão de Rui Rio - embora o semanário Expresso escreva este sábado que a decisão está tomada. Adversários, como sempre, não lhe faltarão.

PSD e CDS. "Em partidos sem votação, todos ralham e ninguém tem razão"
Notícias ao Minuto

08:00 - 19/10/19 por Melissa Lopes

Política PSD e CDS

PSD e CDS saíram derrotados da noite do passado dia 6 de outubro. Disso ninguém tem dúvidas. Nem Rui Rio terá, embora resista em assumir o peso dos resultados. “Não há desastre nenhum”, disse o presidente do PSD, na primeira reação naquela noite.

Noutra ‘casa’, passou-se exatamente o oposto. Assunção Cristas fez a leitura da realidade e depressa tomou a decisão de deixar a liderança do CDS.

Formas distintas de lidar com a punição dos eleitores e que, no fundo, não são mais do que uma “crise institucional” pela qual ambos passam. Algo que não é propriamente novidade, lembra o politólogo Adelino Maltez.

“Partidos onde não há votação, todos ralham e ninguém tem razão”. É desta forma que o especialista em assuntos políticos retrata o cenário atual do PSD e do CDS. “É uma fase de gerir uma derrota. Como se vê, está tudo combalido”, constata, simplificando: “O CDS vai ter que se habituar a cinco deputados e o PSD vai ter que trabalhar muito mais”.

Para estes dois partidos, Maltez lembra o passado dos que já estiveram na mesma posição e que conseguiram reerguer-se: “Para os confortar, mandava-os ler com cuidado a história de situações semelhantes que ocorreram no PS quando estavam na oposição. O PS passou por crises idênticas, com uma sucessão de líderes. Faz parte da história”.

Rio “está a fazer uma gestão do silêncio” para ver “quem são os adversários”“Aliás, os dois [PSD e CDS] já passaram por situações semelhantes. Está na história dos dois partidos momentos semelhantes a este. O CDS já andou entre 4,1% e 4,4% com Adriano Moreira e Freitas do Amaral. É normal que isso aconteça”, recorda.

No entendimento do professor universitário, ouvido pelo Notícias ao Minuto, “o grande problema que se podia dar no PSD e CDS era terem, ao mesmo tempo, uma crise de identidade”, algo que ainda não está a acontecer, mas que pode vir a ser uma realidade se “não encontrarem uma mensagem adequada”. Uma crise de identidade, acentua, “é que é complicada”.

No fundo, resume, há aqui um momento de ajustamento da democracia às novas necessidades.

Rui Rio e a gestão do silêncio

O presidente do PSD está em “reflexão” sobre o seu futuro político desde o dia 6, criando todo um clima de suspense sobre a sua recandidatura à liderança. O mais provável é avançar, como aliás noticia este sábado o semanário Expresso. Para o politólogo Maltez, Rio “está a fazer uma gestão do silêncio” para ver “quem são os adversários”. “Tem a vantagem de estar no poder e de estabelecer o calendário que lhe interessa”, nota, considerando que os dois nomes que já se posicionaram como candidatos (Luís Montenegro e Pinto Luz) têm “pouco currículo” para o cargo a que ambicionam chegar.

“Depois é a habitual luta de barões neste processo. No PSD já nem os barões são assinalados. Há aqui um campeonato de segunda divisão de honra, mas de vez em quando até os tipos da terceira divisão derrubam os grandes”, assinala Maltez, fazendo uma analogia com o que aconteceu esta semana na Taça de Portugal.

Seja como for, o politólogo não considera que Rui Rio “tenha desafiantes à altura”. Os que já se afirmaram candidatos simbolizam “uma linguagem muito politiqueira” e não têm “um projeto que mobilize o país”.

“Pode ser interessante para as lutas internas do PSD, mas para o país não interessa absolutamente nada. Não são pessoas mobilizadoras da sociedade civil, disso não tenho dúvidas absolutamente nenhumas”, considera.

A luta interna pelo poder no PSD, realça José Adelino Maltez, “revela uma crise de mobilização de elites”. “Não pelas figuras, mas também não apresentaram equipas de apoiantes, até agora, que transvasassem o problema interno de uma luta de quadros e de caciques”, explica, justificando que isso tem a ver com um problema maior na democracia de falta de quadros e de formação.

“Ninguém está para se incomodar, para se meter na política, para ser ministro, deputado… começa a ser um bocado aflitivo. Há ali um processo de seleção e de recrutamento que não leva os melhores. Conheço muita gente do PSD que se vai desinteressando. E conheço muita gente do PS, do CDS. Há aqui o começo de uma crise do regime democrático”, antevê.

O PSD, sublinhe-se, reúne o Conselho Nacional algures entre o final de outubro e o início de novembro na cidade de Bragança para definir a data do Congresso e das eleições diretas. O CDS, por seu turno, marcou o Congresso para 25 e 26 de janeiro

No CDS, “chegou-se tudo atrás”

Se no PSD já há candidatos a postos, no CDS, observa Maltez, “chegou-se tudo atrás", nomeadamente Pires de Lima e Adolfo Mesquita Nunes “Ainda não houve uma definição de candidaturas tão nítidas quanto no PSD. Há disponibilidades…”. Esses que manifestaram disponibilidade “vão ter refletir quanto a uma convergência”, defende, frisando que em termos de lutas internas neste partido “ainda estamos em branco”.

“Ser mulher, ser jovem, mostrar que é inteligente, se calhar não corresponde às qualidades que o eleitorado estava à espera”Destacando que, apesar das semelhanças, a crise de votos é maior do que no PSD, Maltez sugere que o que falhou no CDS foi a falta de receção de Cristas na sociedade. Isto é, “a imagem não colou – e tinha colado nas autárquicas”. “Houve aqui uma rejeição daquele tipo de imagem não sei bem porquê”, diz. 

Terá sido a oposição aguerrida a Costa? “Não me parece, deve ser mais do que isso. É um problema de não ter rendido votos. Não há erros de palmatória, de falta de qualidade. Não colou. Pessoalmente, considero-a uma pessoa com qualidade e com garra. A política perde um pouco … a certa altura é tudo cinzento, calculista. E ela, pelo menos, teve coragem. E isso é de louvar”, elogia.

Na ótica deste politólogo, o fardo de Cristas ter estado num governo associado à Troika não é a explicação adequada para a derrota do CDS nestas eleições. É algo “pior”. “Ela própria sentiu isso e abandonou. Deve ter sido uma desilusão face ao trabalho dela. Este tipo de imagem, e da realidade do que ela é, não colheu votos”, resume, atirando uma outra hipótese: “Ser mulher, ser jovem, mostrar que é inteligente, se calhar não corresponde às qualidades que o eleitorado estava à espera”.

Além disso, enfatiza, Cristas “tem carreira própria”, “não precisa da política para viver ou sobreviver”. “Quando há um derrotado no seu combate, temos de ser grandiosos. Os tempos não estavam favoráveis, ela percebeu e fez uma leitura rápida”, conclui.

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