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Demos as cartas e devolveram com trunfos. Eurodeputados para lá das urnas

Em Estrasburgo vão sentar-se novas e velhas caras. Para lá de partidos e ideologias, o Notícias ao Minuto procurou saber um pouco mais sobre os cabeças de lista que em breve vão sentar-se no Parlamento Europeu.

Demos as cartas e devolveram com trunfos. Eurodeputados para lá das urnas
Notícias ao Minuto

09:00 - 30/05/19 por Notícias Ao Minuto

Política Europeias

Durante as últimas semanas, as atenções centraram-se na campanha das Europeias. O último domingo foi dia de votar e contar votos. Agora que já se sabe quem serão os novos 21 eurodeputados portugueses em Estrasburgo, o Notícias ao Minuto partilha um outro lado dos cabeças de lista que foram eleitos.

A ideia foi simples: com o baralho do nosso lado, distribuímos as cartas (leia-se, perguntas) pelos cabeças de lista, que nos devolveram com os seus trunfos. As perguntas podiam figurar numa entrevista de emprego ou numa conversa de café, que o escrutínio não tem de ser sisudo. Falámos de características e defeitos, de obras marcantes e desejos, de Portugal e da Europa.

João Ferreira, cabeça de lista da CDU, foi igualmente eleito mas optou por 'não ir a jogo' nesta partida. 

Já entre os participantes neste jogo de cartas, não deixa de ser curioso que encontremos trunfos que não devem nada a ideologias. 

É o que verificamos com Marisa Matias (Bloco de Esquerda) e Nuno Melo (CDS), por exemplo, tantas vezes em campos opostos nas ideias mas que, desafiados a escolherem uma palavra que os descreva, repetiram o termo: 'Perseverança'.

No caso do centrista, na hora de falar de defeitos e virtudes, encontrámos dois "talvez". "Virtude? Talvez a lealdade. O maior defeito, não sei se é defeito, mas talvez a regra do benefício da dúvida", respondeu-nos. Já a bloquista foi pragmática e contou com a mesma 'cartada' para os defeitos e virtudes. "Ir além do limite, ir além do limite", repetiu, muito apropriadamente.

Paulo Rangel (PSD), por seu lado, foi a jogo com "convicção" na hora de falar de uma palavra para o caracterizar. O social-democrata escolheu ainda "honestidade", a nível de elogios, e não evitou deixar escapar um certo sorriso de quem passeou pela própria memória no que toca a mencionar um defeito: "uma certa teimosia", reconheceu.

Já para Francisco Guerreiro, o eurodeputado que marca a estreia do PAN em Estrasburgo, o defeito em destaque é capaz de servir de trunfo nos corredores de Bruxelas: "Trabalhar em excesso", respondeu. Já sobre os elogios, a resposta foi o "sentido de justiça". E que palavra escolhe Francisco Guerreiro para se definir? "Empatia".

Pedro Marques (PS) foi um dos protagonistas da campanha, muito por culpa de uns certos 'beijinhos' de despedida e de um 'Costa, avança, com toda a confiança', que falhou como cântico, apesar de o PS ter sido mesmo o partido mais votado.

Falámos com o cabeça de lista do PS ainda antes de no programa 'Gente Que Não Sabe Estar' estes momentos em particular terem sido satirizados por Ricardo Araújo Pereira. Na altura, porém, já o socialista tinha sido alvo de sátira pelo humorista. O que ainda assim não diminuiu o seu apreço pelo bom humor.

"Consigo rir-me de mim próprio, da política em geral, tenho muito à vontade com as críticas daqueles programas de crítica como o do Ricardo Araújo Pereira e outros. Adoro esses programas", contou-nos Pedro Marques. Mas como é que seria se fosse a outro tipo de programa, como o da 'Cristina', perguntámos.

A resposta de Pedro Marques contou novamente com bom humor... e pouca criatividade na hora de fazer um livro de receitas. "O meu problema é que iria ser um bocado monótono porque, de facto, o prato que costumo fazer com mais frequência para os meus filhos é massa com atum. É demasiado perto do arroz com atum e portanto acho que não seria convidado porque iria ser muito semelhante ao que já foi apresentado [por Assunção Cristas]", lembrou a propósito de uma conhecida ida da líder centrista à casa televisiva de Cristina Ferreira.

Livros de uma vida?

Aproveitámos ainda para perguntar aos cabeças de lista por obras literárias que os tenham marcado.

"Na literatura teria de referir também várias biografias, vários livros de ficção, vários livros históricos", alertou Nuno Melo. Mas como regras são regras teve de escolher uma 'carta': 'O Império Marítimo Português', de Charles R. Boxer, destacou sobre os livros o centrista que, na hora de falar de filmes, referiu 'A Lista de Schindler', "um filme muito tocante", e 'Era Uma Vez na América'. Mas há uma outra obra a destacar 'Voando sobre um Ninho de Cucos'. Percebe-se: "Sou muito fã do Jack Nicholson, é um dos mais extraordinários atores".

Pedro Marques, por seu lado, partilha com Nuno Melo o interesse por obras que se dedicam à História. "Os vários livros de História do Tony Judt", salientou. "Tenho imensos em casa, como o ‘Tratados dos Nossos Descontentamentos’. Leio em geral os livros todos nessa área", afirmou, lamentando no entanto o facto de ler "muito menos do que aquilo que gostaria porque a vida no governo [que deixou para concorrer às Europeias] nem sempre o permite".

Paulo Rangel, ele que nos conta que tinha apenas seis anos quando começou o seu precoce interesse na política, destacou 'As Memórias de Adriano', da escritora francesa Marguerite Yourcenar. E houve alguma poesia na hora de explicar porquê. "Muitas obras me marcaram mas escolho esta pelo seu conhecimento da natureza humana e até de uma certa capacidade de relativizar a vida, de perceber o que é efémero, e depois no discurso do Adriano está muito a capacidade de olhar para o que é essencial".

Não menos poética foi a descrição de Marisa Matias, optando por destacar uma viagem ímpar, por territórios imaginados, à boleia de Italo Calvino. 'Cidades Invisíveis' foi a escolha. "Porque em cada pedaço de mundo há muitos mundos", conta-nos a bloquista, que explica que o seu despertar para a política chegou com lutas dos movimentos estudantis. "Por uma questão de justiça".

Francisco Guerreiro, que surpreendeu ao escolher 'Meet Joe Black' na hora de falar de filmes, revelou-nos também um pouco mais de si ao falar de uma figura que admira. O Capitão Paul Watson, homem que dedicou a vida à conservação, que esteve na origem do Greenpeace e é o fundador da Sea Shepherd Conservation Society.

Já Marisa Matias puxou de um 'trunfo' a nível mundial em matéria de figuras que admira. Nelson Mandela, o histórico prisioneiro de décadas que ainda foi a tempo de se tornar presidente sul-africano no pós-Apartheid.

Cá e lá

Europa e Portugal, baralhar e voltar a dar? A Europa talvez tenha um significado diferente quando falamos de um cargo que implica fazer as malas. 

Aqui a nossa estratégia foi semelhante à de um 'croupier' a ver se quem tem pela frente está atento. Portugal ou Europa? "Portugal e Europa", respondeu-nos Francisco Guerreiro.

A mesma 'cartada', agora para Nuno Melo, mas a mesma atenção perante o 'croupier' improvisado. "Portugal na Europa", respondeu-nos o centrista. 

Insistimos, agora com Marisa Matias: Portugal ou Europa? "São indissociáveis", 'destrunfou-nos' a bloquista, que ainda assim nos deu outra forma de olhar para a questão. Se a Europa é "uma promessa ainda por cumprir", Portugal apesar de tudo é "uma promessa que se vai cumprindo". Já o social-democrata Paulo Rangel falou da Europa com a mesma convicção de quem sabe que é forte a carta que tem na mão: "Uma paixão", respondeu.

Se Marisa Matias, Nuno Melo e Paulo Rangel há muito que conhecem os corredores de Estrasburgo, há quem parta agora à aventura. É o caso de Pedro Marques, mas também de Francisco Guerreiro, que é bem possível que quando tenha aceitado o desafio do PAN de ser cabeça de lista não tivesse a certeza se seria eleito. Mas foi. O tempo que aí vem será, por isso, de alguma saudade. Por cá fica a família (Francisco é casado e tem duas filhas, uma de 11 anos e uma bebé com dois meses), o que inclui os animais de estimação. Marisa Matias poderá dar alguns conselhos sobre a saudade. "Das 'minhas' pessoas", respondeu-nos a bloquista quando questionada sobre o que mais lhe deixa saudades quando está em Estrasburgo.

O que fica?

Na hora de fazer política, decidimos também saber o que se deseja que fique como legado.

Marisa Matias gostaria de ser recordada "pelo sorriso e combatividade", juntando assim a boa disposição e a dedicação às causas. Nuno Melo foi taxativo na hora de falar sobre como gostaria de ser recordado. "Como alguém que lutou sempre por Portugal, por ser a primeira e a derradeira das minhas causas".

Paulo Rangel, por seu lado, deu-nos uma resposta que pode parecer um pouco críptica ao início, mas que talvez (e reforçamos o talvez) encontre justificação na tal importância da relativização que referira sobre as lições de Marguerite Yourcenar, de que em cima falámos. "Sinceramente, não gostaria muito de ser lembrado. Acho que gostaria de ser suavemente esquecido". Por fim, Francisco Guerreiro foi mais simples - mas porventura não menos ambicioso - gostaria de ser lembrado "como um bom ser-humano". 

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