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"Temos idosos a viver mal, jovens precários e vamos receber imigrantes?"

O presidente do Partido Unido dos Reformados e Pensionistas, que concorre sozinho às eleições europeias de 26 de maio, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Temos idosos a viver mal, jovens precários e vamos receber imigrantes?"
Notícias ao Minuto

09:30 - 15/05/19 por Patrícia Martins Carvalho

Política Fernando Loureiro

Fernando Loureiro tem 71 anos e, há quatro anos, criou o Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP).

Diz que nunca militou em nenhum partido, que “votava em tipos que pareciam sérios”, mas que o que aconteceu no tempo de José Sócrates e depois com Passos Coelho, que foi um “terrorista” para com os mais velhos, fê-lo enveredar pela política.

O PURP, garante, não é de Esquerda, nem de Direita, mas sim um partido de causas e estas englobam todos os quadrantes sendo que, apesar de a sigla falar apenas em pensionistas e reformados, Fernando Loureiro tem uma grande preocupação relativamente aos ex-combatentes e aos jovens.

Ele próprio um ex-combatente na guerra colonial acusa os sucessivos governos de “humilharem” e “desprezarem” aqueles que estiveram nas então colónias africanas. “Viemos de lá com graves problemas psicológicos e quase nos chamaram traidores porque matámos negros”, acusa.

Para a Europa defende uma maior “solidariedade”, um salário e uma pensão média e não esquece a temática das alterações climáticas que é preciso combater com “leis”.

Quando começou o seu percurso na política?

Nunca estive metido na política, só quando me reformei é que senti esta necessidade, especialmente depois de ter visto o que aconteceu com os ‘indignados da banca’. Foi aí que ganhei consciência política. Até este momento votava em função das caras que me pareciam mais honestas.

Tive o azar de ver o que aconteceu no tempo de Sócrates e depois com Passos Coelho que foi violento, foi um terrorista para com os mais velhos

Votava em caras e não em programas políticos?

Sim. Votava nas pessoas que pareciam sérias. Depois tive o azar de ver o que aconteceu no tempo de José Sócrates e depois com Pedro Passos Coelho que foi violento, foi um terrorista para com os mais velhos. Foi então que tive a noção de que tinha que ajudar alguém e criei o partido com um amigo.

Eu arranjei um psiquiatra e lá me safei, mas muitos dos meus colegas não se safaram e cheguei a encontrar alguns que se tornaram sem-abrigoCom que finalidade criou o PURP?

Para dar voz aos mais desfavorecidos, aos mais velhos. Sabe, eu sou ex-combatente, tal muitos dos filiados do PURP. Voltámos a Portugal com sérios problemas. Eu arranjei um psiquiatra e lá me safei, mas muitos dos meus colegas não se safaram e cheguei a encontrar alguns que se tornaram sem-abrigo. Nós fomos abandonados à nossa sorte, ninguém nos apoiou.

Mas foi criada a Liga dos Combatentes.

Isso é só mais um ‘caldinho’ para os generais e coronéis. Mas nunca atacaram o problema, nunca se preocuparam em dar qualidade de vida a estes homens que hoje estão na reforma.

Os filiados do PURP são todos reformados e pensionistas ex-combatentes?

Quase todos. Cerca de 95%, sim. E agarrámos esta causa para dar dignidade ao fim de vida destes homens que andaram 45 anos sem que alguém fizesse algo por eles. A verdade é que abandonaram-nos, ostracizaram-nos e alguns partidos ditos de Esquerda quase nos chamaram traidores porque estivemos lá fora a matar negros.

Isso mexeu consigo?

Claro que mexeu. Não digo que estas pessoas fossem ‘levadas em ombros’ como levaram os desertores como o Manuel Alegre e outros, mas que fossem tratadas com respeito e dignidade.

Vejo o meu partido como uma ONG. Nós não estamos aqui para ganhar dinheiro, nem para fazer carreira, até porque já não temos idade para isso Então o foco do partido são os reformados e pensionistas ex-combatentes?

Não só. Admito que não fomos muito felizes com a sigla que escolhemos, porque a nós preocupam-nos os mais velhos e os mais novos. Todos nós temos filhos e netos e a nossa ideia é deixar um mundo melhor para eles, mas não vejo que isso seja possível se não forem as forças fora dos partidos. Aliás, eu vejo o meu partido como uma ONG. Nós não estamos aqui para ganhar dinheiro, nem para fazer carreira, até porque já não temos idade para isso.

Estão aqui para lutar pelo quê?

Estamos a lutar por uma sociedade melhor, que trate as pessoas com dignidade, mais velhos e mais novos, porque hoje em dia há 2,5 milhões de reformados com pensões inferiores a 500 euros e 1,5 milhões de trabalhadores a ‘dar o litro’ todos os dias que ganham 600 euros ao final do mês. Isto não pode ser, nem dá para pagar um quarto em Lisboa.

Tem de haver um ordenado médio na União Europeia. As pessoas têm de ter mais qualidade de vida e os líderes só estão preocupados em injetar dinheiro na bancaQual é a solução para este problema?

Tem de haver um ordenado médio na União Europeia. As pessoas têm de ter mais qualidade de vida e os líderes só estão preocupados em injetar dinheiro na banca. O país está desumanizado e tem de ser mais justo.

Em que quadrante político se insere o PURP?

Em nenhum. Não somos nem de Esquerda, nem de Direita. Somos um partido de causas e as causas tanto são de Esquerda, como de Direita.

Porque é que o PURP se candidata ao Parlamento Europeu?

Para eleger um eurodeputado para, quando for a altura, ‘batermos o pé’ e não estarmos dependentes de ninguém.

Mas vai estar inserido numa família partidária…

Sim, é um facto.

E qual será?

O Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia.

Porquê?

Porque não há nada nos outros grupos que nos cative. Não somos como o PAN que, apesar de dizer ‘pessoas’ na sigla, só fala nos animais e na natureza. Preencheram toda a sua agenda com os amigos de quatro patas quando também se deviam ter preocupado com as pessoas.

Qual é, no seu entender, o principal problema da União Europeia (UE)?

O que se passa na Europa é que há muita corrupção, muitos jogos económicos. E preocupa-nos a questão da demografia. A Europa está velha, nós temos de apoiar os jovens para que eles possam procriar. Dar-lhes condições para que consigam conciliar a vida profissional com a pessoal, porque a riqueza do país são as crianças.

Há pouco sugeriu a criação de um salário médio na União Europeia…

Sim e uma pensão também. Eu estive a fazer umas contas, tendo em conta os valores dos salários dos países da União Europeia e dava uma média de 800 euros por mês a cada trabalhador. E os paraísos fiscais deviam ser proibidos. Não se entende que uma empresa do PSI20 tenha a sede fiscal fora de Portugal para fugir aos nossos impostos.

Não somos xenófobos, nem racistas. Mas também não somos hipócritas e cínicos e todos nós sabemos o que se está a passar no mundo. Cuidadinho com a imigraçãoA questão dos imigrantes e refugiados preocupa-o?

Claro. Eu acredito que não somos xenófobos, nem racistas. Mas também não somos hipócritas e cínicos e todos nós sabemos o que se está a passar no mundo. Se temos os nossos idosos a viverem mal, os nossos jovens com empregos precários, vamos receber pessoas com culturas e religiões diferentes? Temos que de ter calma. Cuidadinho com a imigração.

Então é contra Portugal receber imigrantes?

Não sou totalmente contra. Mas esta é uma questão que tem de ser escrutinada em profundidade. Deveriam era ser criadas condições para os nossos jovens terem mais filhos… e agora virem para cá pessoas com culturas diferentes… não tarda eles vêm para cá e nós temos de ir todos para lá. Mas atenção, eu não sou xenófobo. Mas não podemos exagerar como fazem alguns partidos que, como fica bem na fotografia, aceitam tudo de mão-beijada.

Como vê a questão das alterações climáticas?

Com muita preocupação. Temos que atacar esta matéria com muita força.

Papel dos eurodeputados? É um papel de embrulho, só estão lá para ganhar dinheiro

E como se pode fazer isso?

Publicando leis que evitem a poluição. Nós agora já não temos primavera, verão, outono e inverno e a culpa é nossa, que estamos a violentar o planeta.

Qual é, no seu entender, o papel dos eurodeputados?

É um papel de embrulho, só estão lá para ganhar dinheiro. Quando a troika veio para Portugal o que é que os nossos eurodeputados fizeram? Eu não queria que eles lá pusessem uma granada, mas, no mínimo, deviam ter dado uns murros na mesa e dizer ‘vocês não podem castigar um povo que já de si é pobre’.

Mas se for eleito também lá vai estar a ganhar dinheiro…

Se eu for para lá, uma parte do dinheirinho vai para o partido, para pagar a renda da sede e outras despesas, e o resto vai para um fundo de apoio aos mais necessitados, sejam eles quem forem. Eu não vou querer dinheiro. Não é que seja rico, mas tenho a minha reforma.

Há alguma exceção a essa imagem que tem dos eurodeputados?

Sabe, eu nunca fui fã de ninguém, mas houve uma altura em que era fã do senhor Marinho e Pinto, quando foi eleito pelo MPT – Partido da Terra. Mas depois fez umas declarações sobre o salário… mas ele está na política para ganhar dinheiro ou para ajudar? A política tem de ser uma missão, não um emprego para o resto da vida.

Houve mais algum político que o tivesse desiludido?

Sim, o doutor Paulo Morais. Apoiei-o quando se candidatou à Presidência da República. Depois convidei-o para se juntar ao nosso partido e disse que não queria e depois, há uns meses, houve um mensageiro [de Paulo Morais] que me veio propor uma coligação.

Não aceitou porquê?

Primeiro porque havia outro partido envolvido e não me disse qual era e depois porque até ao sexto lugar da lista não aparecia ninguém do PURP. Íamos servir só da barriga de aluguer. Depois de tanto esforço e sacrifício para formar o nosso partido vinham agora estes ‘caramelos’ e passavam à nossa frente nos lugares. Uma pessoa séria não faz isto.

Chegou a saber qual era o outro partido?

Soube quando lançaram a coligação. Era o Nós, Cidadãos!. E eu sempre disse que não me ligava a esse partido.

Por que não?

Porque não. Tivemos uma situação… enfim, não interessa.

Os políticos para mim não prestam. Estão lá só para se safarem, para fazerem carreira e ganharem dinheiroRecebeu mais propostas de coligação?

Sim, recebi seis, mas nem vale a pena falar nisso. Os políticos para mim não prestam. Estão lá só para se safarem, para fazerem carreira e ganharem dinheiro.

Concorda com a forma como é atribuído o número de eurodeputados a cada país?

Não, não concordo. Mas também não sei se há outra forma de ultrapassar isso. A verdade é que somos pequeninos, a nossa contribuição em termos de dinheiro também é mais pequena.

Então faz sentido?

Não é que faça sentido, mas não sei que outra solução se poderia encontrar. Ninguém tem dúvidas de que somos pequeninos.

Olhando agora a União Europeia no seu todo. Tem cumprido o objetivo a que se propôs?

Foi muito bem pensada no pós-guerra, mas está longe de cumprir o seu objetivo.

Porquê?

Porque cada um ‘puxa a brasa à sua sardinha’ e os tecnocratas que lá estão só defendem os interesses das multinacionais. Falta solidariedade. Não foram solidários connosco e com a Grécia e isso chateia-me. Já para não falar que as decisões passam ao lado dos deputados mais ‘pequeninos’. Aliás, é como na nossa Assembleia, partidos grandes abafam os pequenos e isso não está certo porque a lei diz que todos têm os mesmos direitos.

E não têm?

Não. Então uns podem gastar ‘à lagardére’ e outros quase não têm dinheiro nenhum? Devia haver um valor residual a distribuir por todos os partidos. Eu tenho de gastar dinheiro do meu próprio bolso.

Como está a decorrer a angariação de fundos?

[Risos] Oiça, nós somo um partido pobre. Eu e mais dois ou três é que temos uma reforma ‘assim-assim’ porque, de resto, é tudo miserável. Nós temos um orçamento de 5 mil euros, mas podia ser mil, porque não podemos gastar esse dinheiro, porque somos nós que temos de pagar.

Face às dificuldades financeiras do partido não teria sido mais fácil coligar-se a outro partido?

Não queria que um partido de causas se aliasse, por exemplo, à coligação Basta, pois não? Uma coligação que surge com tanto dinheiro e algumas ideias de que eu não comungo – algumas comungo. Mas tendo em conta a nossa ideologia ficávamos mal perante os nossos filiados se apoiássemos esse tipo de gente. O único partido com o qual me aceitaria coligar era o do Paulo Morais, mas ele fez-me uma proposta desonesta.

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