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Ideologia de género e "cheiro a naftalina" na comissão de educação

O deputado social-democrata Bruno Vitorino acusou hoje o Governo de implementar nas escolas "uma ideologia de género", levando o ministro da Educação, entre menções a cheiro a naftalina e citações de Pessoa, a acusá-lo de estar "transvestido de populista".

Ideologia de género e "cheiro a naftalina" na comissão de educação
Notícias ao Minuto

21:37 - 24/04/19 por Lusa

Política Assembleia da República

A audição regimental à equipa ministerial da Educação pela comissão parlamentar, que hoje se estendeu até às 19:30, por ter sido precedida de uma a pedido do PCP aos mesmos governantes sobre falta de funcionários nas escolas, estava já na sua ronda final quando o deputado do PSD Bruno Vitorino protagonizou o momento mais aceso das mais de quatro horas de reunião.

O deputado acusou então o Governo de estar a "implementar uma ideologia de género nas escolas", contra a liberdade de os pais poderem decidir de que forma querem educar os filhos e de uma forma que "prejudica as crianças" que, defendeu, "não podem ser cobaias de experiências sociais".

"O que é isso de ser menino ou menina ser uma construção da sociedade?", perguntou o deputado ao Governo que questionou também as diretivas do referencial para a saúde que indicam conceitos que as crianças, nos diferentes níveis de escolaridade, devem identificar e compreender sobre identidade de género e sexualidade.

Bruno Vitorino acusou o Governo de querer impor a crianças de seis anos uma discussão sobre gays, lésbicas, transexuais e outras identidades sexuais.

"Aos seis anos? Deixem as crianças em paz", insistiu o deputado, que acusou o Governo de não estar mandatado para introduzir esta temática nas escolas e de ser, nesta matéria, "uma barriga de aluguer do Bloco de Esquerda".

Depois de comentários laterais de indignação de alguns deputados e de uma troca de palavras mais acesa com o deputado socialista Porfírio Silva, Bruno Vitorino ouviu o ministro Tiago Brandão Rodrigues interrogar-se sobre as razões pelas quais o social-democrata afirmou ter falado em nome pessoal.

"Fala a título partidário, pessoal ou em nome de um partido novo? Será barriga de aluguer de algum partido que anda por aí? Foi muito curioso vê-lo transvestido de populista. Todos nos lembramos de Chávez na Assembleia-Geral da ONU dizer que cheirava a enxofre depois de falar a seguir a Bush. Pois bem, senhor deputado, aqui cheira a naftalina", disse o ministro, que antes tinha referido a dificuldade de se concentrar na sua intervenção depois da desconcentração na sala provocada por "gente que não sabe estar".

Também o secretário de Estado da Educação, João Costa, criticou a intervenção, dizendo que "felizmente" o deputado não estava, "claramente, a falar em nome do seu partido".

"Quando manda ler a página 74 do referencial para a saúde é bom que a leia mesmo", disse João Costa, que leu alguns pontos para defender que o documento apenas indica a necessidade de uma tomada de consciência para as diferenças na identidade de género, acusando Bruno Vitorino de levar para o parlamento "um chavão muito em voga" do discurso da ideologia de género, mas considerando positivo ter liberdade para o fazer, "porque mostra que ainda há muito para fazer na sociedade portuguesa".

Acusou ainda o deputado de defender uma posição que potencia 'bullying' por diferenças na orientação sexual ou que eterniza estereótipos de género, como o das tarefas domésticas serem competência das mães.

"As crianças que está a deixar em paz são as agressoras e fá-lo por preconceito ideológico", criticou João Costa.

O ministro deixou ainda uma sugestão de leitura a Bruno Vitorino: 'Aviso por Causa da Moral', de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa.

Aos comentários vindos de Bruno Vitorino, Tiago Brandão Rodrigues respondeu com ironia: "Ui, era boa peça, não era? As coisas que nós trazemos para aqui. Aviso por Causa da Moral. Precisa de ser lido e relido e desfrutado".

A intervenção de Bruno Vitorino, que aqueceu os ânimos no final do debate e provocou muitos comentários e interrupções de trabalhos, motivou uma declaração final do presidente daquela comissão parlamentar, Alexandre Quintanilha, que disse ter "por posição própria não achar que existam perguntas tabu", pelo que não condiciona as intervenções, assim como não faz "censura nas respostas", desde que não haja insultos.

Bruno Vitorino, numa intervenção para defesa da honra, acabaria por reconhecer que a sua intervenção não facilitou a condução dos trabalhos por parte de Alexandre Quintanilha, desculpando-se por isso, aproveitando ainda para acusar o ministro de não ter respondido às suas questões, de mostrar uma "recusa total à discussão séria do tema" e dizendo que o ministro "representa o país, não o PS ou o BE".

"Acredito com veemência que a honra do PSD é que ficou ferida pelos seus comentários", respondeu o ministro, tendo João Costa acrescentado que todos os temas devem ser debatidos, mas separando factos do que não são factos sobre a realidade nas escolas em relação ao que está a ser feito para abordar as questões de identidade de género.

O deputado Bruno Vitorino já tinha provocado polémica devido à mesma questão, quando, com uma publicação numa rede social em março, apelidou de "porcaria" a sensibilização de alunos sobre orientações sexuais e na qual se lia: "'Sensibilizar' alunos de 11 anos sobre 'diferentes orientações sexuais'? Com associações LGBTI à mistura? Que porcaria é esta? Cada um pode ser o que quiser, mas deixem as crianças ser crianças. Deixem as crianças em paz. Adultos a avançar sobre este campo junto de crianças é perverso. Isto tem que parar!".

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