"Acabou por ser uma oportunidade importante de ter um presidente da Generalitat [a designação do executivo regional catalão] (...) dar na primeira pessoa a sua visão sobre todo este processo que se desenrola, em especial desde 01 de outubro, do referendo [sobre a autodeterminação da Catalunha] de 01 de outubro" de 2017, afirmou, em declarações à agência Lusa, a deputada do Bloco de Esquerda (BE), a propósito da conversa de cerca de 45 minutos que Quim Torra manteve hoje com deputados portugueses, incluindo com o também bloquista José Manuel Pureza.

"Não é todos os dias que conseguimos ter alguém que está no terreno a poder dar essa informação e obviamente que é sempre importante para nós, enquanto deputados", prosseguiu.

A Lusa teve a indicação que deputados dos grupos parlamentares do PS, PSD e PCP participaram também na conversa, mas contactados estes não confirmaram tal informação.

Quim Torra encontra-se em Lisboa para participar, na sexta-feira, na conferência "A Catalunha e o Direito à Autodeterminação -- Uma Perspetiva Internacional", a decorrer no ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa.

A deslocação também acontece quando faz um ano que o Parlamento português aprovou, a 29 de março de 2018, uma resolução que apelava a Espanha para que fosse encontrada uma solução política para a Catalunha que respeitasse a vontade dos povos "consequentemente, da vontade do povo catalão, e da salvaguarda dos direitos sociais e outros direitos democráticos dos povos de Espanha".

Aliás, segundo relatou Isabel Pires, a questão da democracia, do respeito por direitos políticos e direitos democráticos, "independentemente se se concorda ou não com a questão da independência", foi uma questão central nesta conversa com Quim Torra.

"O que está aqui em causa é defendermos, obviamente, o direito das pessoas a puderem expressar a sua vontade política e que é isso que está, neste momento, aqui em causa também com os processos que se encontram em julgamento no Tribunal Supremo em Espanha", prosseguiu a deputada bloquista.

Sobre o julgamento dos vários líderes catalães, acusados de sedição, rebelião e desvio de fundos na sequência da organização do referendo à independência, que está atualmente a decorrer em Madrid, no Supremo Tribunal Espanhol, Quim Torra não avançou com grandes pormenores, mas, segundo referiu Isabel Pires, frisou um aspeto "bastante impactante".

"A ideia que foi dada pelo presidente do governo regional da Catalunha foi que este julgamento não é apenas um julgamento daqueles 14 ou 13 que estão, neste momento, no banco dos réus, mas há um julgamento a todas as pessoas que no dia 01 de outubro se deslocaram às urnas para exercer um direito democrático e político que têm", destacou a deputada do BE.

"Isso de facto é algo bastante impactante. Porque existem muitas pessoas que estão a sentir na pele aquele julgamento, não apenas aqueles que estão sentados no banco dos réus e isto de um ponto de vista político é bastante impactante", reforçou.

A visita de Quim Torra a Lisboa também coincide com o dia em que a procuradoria-geral da Catalunha anunciou, esta quinta-feira, ter apresentado uma queixa por desobediência contra o presidente da Generalitat por não ter cumprido a ordem das autoridades para retirar os símbolos independentistas dos edifícios regionais.

À Lusa, a deputada bloquista Isabel Pires afirmou que tal tema "não foi falado, nem abordado".