"Neste momento, nem sei se temos mesmo um Governo. Parece mais um conjunto de pessoas que se encontram uma vez por semana e, mesmo nessa altura, parecem não se entender ou ter a capacidade de falar entre si", criticou o deputado centrista Pedro Mota Soares, numa declaração política no parlamento a propósito das jornadas parlamentares do CDS-PP, que se realizaram na segunda e terça-feira, em Braga.

O ex-ministro do Trabalho apontou exemplos recentes da governação que, na sua opinião, demonstram que "o ministro da Agricultura não se entende com o do Ambiente, este não se entende com o da Economia, a ministra da Cultura não se entende com os diretores-gerais por si nomeados, o ministro do Ensino Superior não se entende com ele próprio e a ministra da Saúde não entende o que é estar no Governo".

"O primeiro-ministro, esse, ninguém entende o que anda a fazer", criticou, acusando António Costa de "ficar calado" perante declarações de governantes sobre a desvalorização dos carros a gasóleo ou o fim, a prazo, das propinas.

Na resposta, o vice-presidente da bancada do PS Rocha Andrade considerou que é "sempre interessante ouvir as ideias produtivas que o CDS produz na oposição".

"Há uma mais valia para o país em ter o CDS na oposição" ironizou, apontando como exemplo a preocupação dos democratas-cristãos com as forças de segurança, mas que, no seu Governo, tiveram uma redução de efetivos.

"Eu também prefiro as ideias do PS na oposição do que no Governo, não é por mim, é pelos meus filhos, quando o PS está no Governo leva normalmente o país à bancarrota", retorquiu Mota Soares.

O CDS-PP reiterou em plenário o repto feito nas jornadas aos restantes partidos para que apresentem propostas na área da justiça para se juntarem às que os centristas entregaram há nove meses e que querem ver debatidas e votadas num debate temático parlamentar em março.

Apenas o PSD pegou no tema, com o 'vice' da bancada social-democrata Carlos Peixoto a pedir a Mota Soares para reconhecer que o seu partido "tem tido total primazia" na Justiça, salientando que os sociais-democratas produziram um "documento estruturado" sobre o setor que foi entregue a todos as bancadas para que dessem o seu contributo.

"O CDS está ou não disposto a discutir esta matéria com o PSD e com todos os grupos parlamentares?", questionou.

Na resposta, Mota Soares limitou-se a dizer que o CDS-PP "acompanha o que o PSD tem vindo a fazer" na área da Justiça e espera que os sociais-democratas tragam ao parlamento "esse pacote legislativo" no debate de março.

O documento do PSD 'Compromisso com a Justiça' - cujo conteúdo foi tornado público pelo semanário Expresso e pelo jornal online Observador - contém medidas como a introdução na remuneração dos juízes de uma componente variável, o aumento dos membros indicados pelo poder político nos órgãos de gestão e disciplinares das magistraturas, a extinção dos procuradores-gerais distritais e o reforço dos poderes do procurador-geral da República (cargo sobre o qual não clarifica a duração do mandato).

A direção do PSD não divulgou ainda publicamente o documento, distribuído aos restantes partidos no verão passado, com o objetivo de "facilitar consensos" com outras forças políticas.

Entre novembro e dezembro, o Ministério da Justiça recebeu os partidos para debater o documento.