"Quando o jornalismo se suicidar, 'suicidamos' a democracia"
Miguel Sousa Tavares diz que a comunicação social tem "pudor" em falar das "suas dores" e, por isso, louva a intervenção de Marcelo Rebelo Sousa sobre a crise no jornalismo.
© Global Imagens
Política Miguel Sousa Tavares
O Presidente da República aproveitou a cerimónia de entrega dos prémios Gazeta para deixar uma ‘nota’ sobre a crise que o jornalismo enfrenta e questionar se o Estado não deve intervir.
Comentando o tema na antena da TVI, Miguel Sousa Tavares, também ele jornalista, começou por “louvar” a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa. Até porque, na sua opinião, “há um certo pudor da comunicação social de falar das suas dores e não sei porquê”.
Para o escritor, para já são dores da comunicação social mas, a prazo, “serão dores da democracia e do modelo de sociedade ou de civilização em que nós nos habituamos a viver”. Sousa Tavares rejeita, por isso, que possa haver um modelo alternativo em que a informação seja recolhida nas redes sociais.
Contudo, sublinha que o debate é “bem-vindo” e que “está a ser feito no mundo inteiro”. Por exemplo, um jornal de referência inglês, o The Guardian assumiu isto, pede dinheiro aos seus leitores, contribuem voluntariamente para o jornal”, exemplificou, notando, contudo, não ser este o caminho.
O escritor é favorável à ideia de o Estado intervir no jornalismo, podendo fazê-lo de diferentes formas.
“Há vários caminhos, a via fiscal é uma delas. O Estado adquirir todos os serviços públicos, empresas públicas, jornais portugueses, revistas portuguesas, sim, é outro caminho. Acho que o Estado pagar estágios de formação a jornalistas será um terceiro caminho”, sugere.
Mas, até lá, até se encontrar um ou vários caminhos, o principal é "mentalizarmo-nos que esta é uma luta determinante a todos os aspetos”, frisou o jornalista, que lançou severas críticas à “moda” das redes sociais a que os órgãos de comunicação social estão ‘rendidos’.
No entender de Sousa Tavares, “se deixarmos que os leitores se mudem todos para as redes sociais, atrás deles vai a publicidade que é, no fundo, aquilo que sustenta a comunicação social e o que garante a independência da comunicação social”.
Hoje em dia, prossegue, “com o algoritmo que permite seguir os rostos dos consumidores, a comunicação vai para onde estão os consumidores”.
E qual o desfecho? “Passamos a ter uma sociedade que julga que está informada e não está”. O que, relaciona, "dá origem ao aparecimento de falsas notícias, notícias com fontes que não são conhecidas, com fontes que não são responsabilizáveis, o editor deixa de ser o jornalista para passar a ser o leitor".
Sousa Tavares reitera, por isso, o aviso à ‘navegação’: o suicídio do jornalismo ditará o suicídio da democracia. “A comunicação social tem a tendência funesta de ir atrás da moda das redes sociais e deixar o público a funcionar como editor e escolher ele as notícias. A prazo, suicidou-se e, quando se suicidar, suicidamos a democracia atrás”, sentencia, por fim.
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