"Se há homem que vê longe é Marcelo", diz Jorge Bleck
O advogado Jorge Bleck fez parte da Comissão Política Nacional do PSD com o atual Presidente da República e de Marcelo diz que "vê longe". Mantém-se militante do partido, mas da política tem hoje uma "visão instrumental".
© Vieira de Almeida
Política PSD
"Com o Marcelo adorei estar. Foi divertido, até porque com o Marcelo tudo é divertido, mas conheço-o como à palma das minhas mãos, sei o que é que posso contar e tenho imensa pena que ele tenha perdido a oportunidade - porque quis - de ser primeiro-ministro. Acho que é o que ele gostaria [de ter sido]", afirma Jorge Bleck em entrevista à Lusa.
Foi na década de 1990 que participou da Comissão Política Nacional do PSD com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
"Nunca mais me esqueço de uma frase que ele me disse em janeiro de 1996 [depois de em 95 o PSD ter perdido as eleições para António Guterres]. Telefona-me por causa de um congresso que ia haver e eu digo-lhe: 'Estou tão distante'. E ele - que sabe ser sedutor e elogioso quando quer -, faz-me este cenário: 'Em 2000 vamos ter eleições, é nossa missão prioritária que Guterres não tenha maioria absoluta, essa é a nossa primeira missão. A segunda, se o conheço bem [a Guterres], se ele não tiver maioria absoluta não aguenta nem mais um ano. Aguenta um orçamento, dois no máximo, e aí ganhamos nós as eleições com maioria relativa e o país vai ver nos 12 meses a revolução que é preciso fazer até que acorde. Quando o país acordar já está feito o que era preciso fazer", conta.
"'Depois, eventualmente, caímos no segundo ano, vamos outra vez a eleições, mas, entretanto, o que era preciso fazer está feito. A chatice é se ganhamos outra vez as eleições'", relata Jorge Bleck, lembrando o que lhe disse Marcelo Rebelo de Sousa naquela conversa.
O advogado afirma ter anuído às intenções do hoje Chefe de Estado: "'Marcelo, se é preciso fazer o que tem que ser feito, conte comigo. Vamos embora'", respondeu-lhe, acrescentando agora que "tudo aconteceu, exceto uma coisa, é que quando o Guterres cai, o Marcelo já lá não estava. O Marcelo farta-se".
Mas, "se há homem que vê longe é o Marcelo", reforça.
O advogado está agora "completamente fora da política" e manifesta uma visão muito pragmática do uso que lhe deve dar.
"Eu disse uma vez ao António Costa [atual primeiro-ministro], estava ele candidato, - e é pessoa que conheço há já algum tempo precisamente pelo meu amigo e ex-sócio Pedro Siza Vieira [hoje ministro da Economia]: 'Como sabe, sou militante convicto do PSD e isto já é como o Benfica, não é uma questão de racionalidade, mas continuo a ter uma visão instrumental dos partidos. Por isso, se o PS defender aquilo que eu acho que é preciso para o país, era capaz votar PS'. Dava igual", garante.
Ainda assim, no passado ficou uma desfiliação do partido, que não se voltará a repetir.
"Para mim, o PSD é como o Benfica. Não se muda de clube de futebol. Sou o militante 182. Se me pergunta se eu sou capaz de me desfiliar do PSD, já o fiz uma vez quando foi o congresso de Aveiro em 1975/76 e arrependi-me imenso. Portanto, já resolvi que não vale a pena. Gosto do Rio, não gosto do Rio, gosto do Marques Mendes, não gosto, é aquilo. É o que eu gosto [ser do PSD]. É como o Benfica, há jogadores que gosto mais e outros que gosto menos", afirma.
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