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"A corrupção no Brasil não nasceu com o PT e vai continuar com Bolsonaro"

Miguel Sousa Tavares e Paulo Portas debateram na noite de segunda-feira, na TVI, as eleições presidenciais brasileiras.

"A corrupção no Brasil não nasceu com o PT e vai continuar com Bolsonaro"
Notícias ao Minuto

22:45 - 29/10/18 por Sara Gouveia

Política Debate

Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil este domingo e a vitória foi alvo de análise por Miguel Sousa Tavares e Paulo Portas num debate no 'Jornal das 8' da TVI. Em causa esteve a segunda volta das eleições em que Fernando Haddad (PT) saiu derrotado com 44,86% dos votos contra os 55,14% que Bolsonaro (PSL) conseguiu obter.

Questionados sobre o posicionamento de voto de cada um no caso brasileiro, Paulo Portas começou a ronda por citar o antigo presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, a que se refere como sendo o "melhor presidente que o Brasil teve na era pós-1988" e que, segundo o antigo líder do CDS, foi o brasileiro "que teve mais rigor intelectual no dilema que era colocado a muitos eleitores".

"Fernando Henrique Cardoso disse algo como isto: “'Entre a reação e a corrupção ninguém me pode obrigar a escolher' e eu percebo a posição que ele tomou", disse. 

Já Miguel Sousa Tavares contra-atacou dando conta que no seu caso o seu voto não seria neutro, pois "não se trata de escolher entre a 'reação e a corrupção', trata-se de escolher entre a liberdade e a falta dela".

"Se ao contrário, eu, que não sou propriamente uma pessoa de direita, tivesse de escolher entre um governo de direita e de extrema-direita ou uma hipótese de uma ditadura de esquerda eu votava na direita. É a minha diferença", afirmou.

O comentador da TVI, apesar de assumir também gostar de Fernando Henrique Cardoso, recordou que este "comprou votos do Congresso para fazer uma emenda constitucional para poder fazer o segundo mandato" e usando isso como mote, deu conta de que "a corrupção no Brasil não nasceu com o PT e vai continuar com Bolsonaro". 

"Devido ao sistema constitucional brasileiro, em que o presidente é eleito por maioria de voto popular e chega ao Congresso e nunca tem uma maioria – o PSL de Bolsonaro tem 52 deputados, precisa de 257 para ter uma maioria, por isso vai ter de comprar votos. Faz parte do sistema. Enquanto os brasileiros não mudarem o sistema constitucional parlamentar, que tem neste momento 30 partidos, o presidente vai ter sempre de comprar votos do Congresso e essa é a base da corrupção na cúpula, porque depois a corrupção começa na base", explicou Miguel Sousa Tavares, acrescentando que "dizer que o PT inventou a corrupção é uma mentira histórica, dizer que se votou contra a corrupção do PT é uma mentira – a corrupção sempre existiu como existiu a violência".

Sobre se a democracia está ou não em risco no Brasil, o escritor foi perentório e deu conta de que "a democracia no Brasil já foi derrotada quando elege um presidente que recusou todos os debates públicos, que nunca saiu à rua, que inventou que estava doente e que ganhou com a manipulação das redes sociais e ganhou de uma maneira particularmente manipulatória, porque 70% dos brasileiros obtém a informação através do Whatsapp".

"Foi assim que Bolsonaro ganhou as eleições. Isto é o oposto da democracia, a democracia brasileira, esta eleição, é o oposto de um sistema democrático", atirou.

Já Paulo Portas quis ter uma "visão mais pausada", referindo que "este presidente está a ser julgado preventivamente", mas que divergia sobre a opinião de Miguel Sousa Tavares sobre o PT. "Não tenho a mesma visão do PT. Faço parte do conjunto de pessoas que, não sendo de esquerda, há muitos anos quando Lula foi eleito a primeira vez, sempre achei que o Brasil precisava de fazer a experiência de um presidente como Lula, tal o nível de desigualdade que existe no Brasil. Mas acho que o PT é elevadamente responsável – e depois o PMDB e o PSDB – pela emergência de Bolsonaro" garantiu.

"Em circunstâncias normais ele não teria emergido com certeza. Está há 27 anos na política e nunca deixou de ser uma pessoa residual, do ponto de vista do sistema", continuou.

Referindo-se ao primeiro mandato de Lula como tendo sido aquele em que este "respeitou os macro fundamentais da economia, sossegou as pessoas e reforçou políticas sociais que tinham sido feitas e iniciadas por Fernando Henrique Cardoso" e ao segundo como tendo sido um desastre, que se agravou com o mandato de Dilma, acrescentou ainda que "o PT sofreu uma transformação" pois "nasceu como o partido dos explorados e acabou convertido nas perceções num partido dos exploradores" devido à dimensão que tomaram casos "como o Mensalão, o Lavajato, Odebrecht ou Petrobrás".

Miguel Sousa Tavares contrariou a afirmação feita pelo centrista de que Bolsonaro estaria a ser julgado preventivamente referindo que este estava "a ser julgado pelo que disse". "Julgamos o que foi dito durante a campanha. Se ele agora vai ser o Jairzinho bom, como disse que não ia ser, é diferente".

Voltando a insistir sobre a corrupção brasileira, o comentador da TVI recordou que "a classe empresarial, a classe educada e a classe afluente brasileira que agora votou esmagadoramente no Bolsonaro foram os que corromperam o PT, porque para haver corrupção não basta haver o corrompido, tem de haver corruptores, esses foram os corruptores do PT e não há nenhuma dúvida que eles vão ser os corruptores do Bolsonaro e a corrupção vai continuar no Brasil".

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