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Santos Silva: Seria "erro grave" partido abandonar o centro-esquerda

O dirigente socialista Augusto Santos Silva recusa que o coloquem na ala direita e adverte que o PS cometeria um erro profundo se abandonasse o posicionamento no centro-esquerda, tornando-se um partido de "esquerda pura e dura hegeliana".

Santos Silva: Seria "erro grave" partido abandonar o centro-esquerda
Notícias ao Minuto

06:00 - 24/05/18 por Lusa

Política PS

Estas posições foram assumidas por Augusto Santos Silva, também ministro dos Negócios Estrangeiros, em entrevista à agência Lusa, depois de questionado se a evolução recente do PS, após a formação de um Governo apoiado pelo Bloco de Esquerda, PCP e PEV, o situa agora na ala direita partidária.

"Julgo que chego a este congresso [na sexta-feira, na Batalha, distrito de Leiria] como cheguei aos anteriores, defendendo que o PS é um partido da esquerda democrática, expressão que para mim é equivalente à expressão centro-esquerda. Portanto, é esse o lugar do PS na minha opinião - e julgo aliás que essa é uma posição relativamente consensual entre nós", responde o membro do Governo.

Confrontado com teses de dirigentes mais jovens do PS que reclamam uma rutura com o passado ideológico do partido nos últimos 20 anos, para assim evitar que se afunde eleitoralmente tal como outros partidos socialistas europeus, Augusto Santos Silva reage: "Seria um erro profundo que cometeríamos se achássemos que a maneira principal de superar a atual crise que vivemos na Europa passaria por romper com o nosso posicionamento no centro-esquerda e tornarmo-nos uma espécie de partido de esquerda pura e dura hegeliana. Isso agravaria a crise", sublinha.

Augusto Santos Silva refere depois que em 2010, antes ainda de desempenhar funções nas pastas da Defesa ou dos Negócios Estrangeiros, publicou um livro chamado 'os valores da esquerda democrática', onde tenta sistematizar do ponto de vista doutrinário e ideológico o que lhe parece ser o posicionamento atual da esquerda democrática, "explicando em que medida se distingue e dialoga com a direita, em que medida em que se distingue e dialoga com a esquerda revolucionária e em que medida é importante a dimensão de centro-esquerda".

"Aceito todas as ideias - e isso é que é interessante neste debate. Há uns que pensam que é preciso reposicionar o PS, retirando-o da sua posição de centro-esquerda e aproximando-o mais das forças à esquerda do PS. Respeito essa posição, mas não estou de acordo com ela, porque não é por o centro-esquerda ser centro-esquerda que vive hoje uma crise evidente na Europa", sustenta.

Nesta entrevista, Augusto Santos Silva também considera "historicamente falsa a ideia de que foi quando se opôs radicalmente ao centro-direita que o centro-esquerda progrediu".

"Basta olhar a história europeia para perceber que não foi assim. O período de maior de influência e expansão dos sociais-democratas, socialistas democráticos e trabalhistas na Europa foi exatamente entre o pós-guerra e os anos 80, durante o qual esta corrente se entendeu com a democracia-cristã para construir a integração europeia, a economia social de mercado e o Estado de bem-estar", contrapõe.

Ou seja, para o ministro dos Negócios Estrangeiros, "quando houve grandes entendimentos com o centro-direita, com a democracia-cristã, o centro-esquerda ganhou e conseguiu o seu período de maior influência na Europa".

Augusto Santos Silva procurou depois identificar os motivos subjacentes à queda eleitoral registada nos últimos anos pela maioria dos partidos socialistas democráticos e sociais-democratas na Europa.

"As causas da atual crise não estão na natureza do centro-esquerda, mas numa transformação objetiva, porque, em primeiro lugar, o nosso eleitorado tradicional perdeu importância demográfica no conjunto das economias atuais. Em segundo lugar, em vários países europeus, o centro-esquerda participou em governos que executaram a política austeritária", justifica Augusto Santos Silva.

Sobretudo por esta ordem de razões, na sua perspetiva, não se deve "cometer uma confusão, que seria muito perniciosa, que é confundir a financeirização, a desregulação dos mercados de capitais, as políticas dirigidas contra as relações de trabalho equilibradas, confundir tudo isso com ser a favor da economia social de mercado, da regulação, da contratação coletiva e do capitalismo enquadrado e limitado pela democracia".

"O centro-esquerda carateriza-se por isto que assinalei", completa.

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