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Quatro anos de uma liderança que apostou em entendimentos à Esquerda

António Costa terá na Batalha, distrito de Leiria, o seu terceiro Congresso como secretário-geral do PS, num percurso de quatro anos e meio em que apostou em entendimentos à Esquerda, com críticas pontuais da ala direita.

Quatro anos de uma liderança que apostou em entendimentos à Esquerda
Notícias ao Minuto

09:38 - 23/05/18 por Lusa

Política PS

Nas três vezes em que foi escolhido pelos militantes socialistas para o cargo de secretário-geral do PS, em eleições diretas (novembro de 2014, maio de 2016 e maio de 2018), António Costa conseguiu sempre resultados acima dos 95%, nas últimas duas vezes com a oposição de Daniel Adrião.

Essas amplas maiorias alcançadas em "diretas" confirmaram-se, depois, nos dois últimos congressos: Em dezembro 2014, fez um acordo de lista única à Comissão Nacional com a minoria "segurista", cedendo-lhe 30% dos lugares; em junho de 2016, já como primeiro-ministro, enfrentou uma lista encabeçada por Daniel Adrião, mas que registou pouco mais de 10% dos votos dos delegados.

Do ponto de vista interno, a questão mais relevante e controversa sempre residiu no posicionamento político que António Costa propôs desde o início para o PS.

Logo no primeiro Congresso Nacional do PS como líder, em dezembro de 2014, na Feira Internacional de Lisboa (FIL), sinalizou que contava com o Bloco de Esquerda (BE) e o PCP para uma solução governativa que saísse das eleições legislativas de outubro de 2015.

No discurso de encerramento, o secretário-geral socialista advertiu que não iria "ajudar" estes partidos à sua esquerda a manterem-se no "protesto", mas antes chamá-los para "a solução".

"Não contarão com o PS para vos ajudar a manterem-se na posição cómoda de ficarem só pelo protesto e não virem também trabalhar para a solução", afirmou, referindo-se a PCP e BE, tendo também recusado a ideia de um "arco da governabilidade" constituído pelo seu partido, PSD e CDS-PP.

Em simultâneo, o líder socialista recusou entendimentos políticos à direita, afastando uma reedição do "Bloco Central" PS/PSD de 1983/1985.

"Não é possível ser alternativa às atuais políticas [do Governo de Pedro Passos Coelho] com quem quer precisamente prosseguir as atuais políticas", disse, frisando, então, que essa recusa não era "um problema de nomes" dos protagonistas, mas "um problema de políticas".

"O pior que pode acontecer para uma democracia é quando se gera um enorme empastelamento, quando existe um pântano no qual ninguém se diferencia, em que tudo é farinha do mesmo saco, e em que não conseguimos distinguir o que é que uns propõem do que os outros propõem", argumentou, num discurso que tem mantido até ao presente.

Este tipo de alinhamento do PS com entendimentos preferenciais à esquerda foi contestado por vozes da chamada ala liberal do PS, tendo como principal crítico o eurodeputado socialista Francisco Assis.

No Congresso de 2014, Francisco Assis abandonou o conclave na noite do segundo dia em protesto por a mesa adiar sucessivamente a marcação da sua intervenção de fundo perante os delegados.

Em junho de 2016, já com o atual Governo, apoiado no parlamento por PCP, BE e PEV, em funções, Francisco Assis subiu à tribuna para manifestar dúvidas sobre a viabilidade desta solução inédita, designadamente em torno de matérias de fundo como a política europeia, orçamento e defesa nacional.

Há dois anos, Francisco Assis defendeu que o executivo está suportado numa aliança contranatura e vive numa liberdade muito condicionada, o que lhe valeu alguns apupos durante a sua intervenção.

O deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, outro dos críticos da solução de Governo à esquerda, optou por não discursar nesse Congresso por considerar que tal não seria útil para o partido, aceitando, no entanto, integrar a Comissão Nacional do PS.

Em contraponto, Manuel Alegre e outros destacados socialistas, como Carlos César, Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos ou João Galamba, fizeram a defesa da atual solução de Governo e negaram qualquer mudança ideológica ou radicalismo no PS.

O momento mais unificador do Congresso de 2016 registou-se com a subida ao palco do antigo primeiro-ministro socialista e atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que não marcava presença numa reunião magna do PS desde 2000.

O secretário-geral do PS terminou o último congresso do seu partido, numa conjuntura externa em que Portugal estava sob a ameaça de sanções europeias, pedindo aos portugueses que fossem otimistas.

Os dois congressos sob liderança do atual secretário-geral do PS foram também marcados pelo caso judicial que envolve o antigo primeiro-ministro e líder socialista José Sócrates, que, recentemente, se desfiliou deste partido.

No Congresso de dezembro de 2014, António Costa pediu que o seu partido separasse as questões de justiça e de política, conseguiu que os delegados socialistas, ao longo de três dias de trabalhos, não levantassem o tema das circunstâncias da prisão preventiva de José Sócrates.

Já no Congresso de 2016, a única referência direta a José Sócrates partiu do dirigente Daniel Adrião, numa intervenção em que defendeu a ideia de que o PS "devia muito" ao seu antigo primeiro-ministro, que conseguiu em 2005 a única maioria absoluta até agora alcançada pelos socialistas em eleições legislativas.

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