"A câmara faz um discurso a favor do transporte público e dos chamados modos de deslocação suave, mas depois todas as medidas que toma são para privilegiar a utilização do automóvel individual, não consigo perceber o sentido disso", disse Manuel Pizarro à Lusa, acrescentando que vai pedir esclarecimentos à maioria, liderada por Rui Moreira, na próxima reunião do executivo.

De acordo com informação da câmara disponibilizada no seu portal de notícias na internet, em causa está "um sistema de marcação e sinalização rodoviária" implantado junto a uma escola privada na rua Carlos Malheiro Dias, "na entrada e saída de alunos", que visa "gerar o abrandamento de movimentos de viaturas e pessoas, com reflexos na segurança e mobilidade", designadamente nos estacionamentos em 2.ª fila.

A autarquia criou naquela artéria uma via exclusiva para as crianças e os pais que as vão levar e buscar, denominada 'kiss&ride'.

Questionada pela Lusa sobre a medida, a deputada do Bloco de Esquerda (BE) na Assembleia Municipal do Porto Susana Pereira criticou também que esta solução adotada dê "primazia ao automóvel, em vez do transporte público" ao eliminar parte da faixa BUS.

O vereador socialista acrescentou que, "além de eliminar a faixa" destinada ao transporte público, esta medida de criação de "vaias de estacionamento vem privilegiar escolas privadas em detrimento das públicas".

Álvaro Almeida, vereador do PSD na Câmara do Porto, defendeu à Lusa que "há formas mais eficazes" para intervir nos problemas de trânsito junto de escolas, designadamente "permitir 15 minutos de estacionamento gratuito" nos parquímetros, medida que propôs e foi rejeitada pela maioria, liderada por Rui Moreira.

"Esta é uma solução alternativa, mas não tão boa como a nossa", frisou o social-democrata, considerando que o problema de trânsito ali registado "é uma questão pontual que tem de ser vista no contexto específico" e, "neste caso, não parece uma má opção".

Também a deputada bloquista apontou os 15 minutos gratuitos nos parquímetros como a melhor "resposta para as famílias", acrescentando que "esta solução é mais um sinal de que a política de mobilidade é incapaz de resolver o estacionamento em 2.ª fila" junto às escolas, "não só nas privadas".

Para a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, "é muito pouco" o que a câmara divulga no seu portal sobre esta política de mobilidade em zonas escolares, que arrancou, contudo, há já dois anos, com um projeto-piloto na rua Guerra Junqueiro.

"Vou pedir mais informação sobre este projeto de mobilidade em zonas escolares", respondeu à Lusa.

A autarquia refere que "estes projetos são seguidos com constante atenção" e que "mantém a ligação com as escolas para se ir verificando se estas medidas mais suaves continuam em implementação e que ajustes serão necessários para que elas efetivamente sejam interiorizadas e aplicadas".

No âmbito destas medidas de regulação, a oposição critica também a colocação de pilaretes para separar faixas de rodagens.

O vereador socialista criticou a medida, afirmando que os pilaretes estão a "tornar-se numa epidemia no Porto, espalhados por tudo quanto é rua".

Para o social-democrata Álvaro Almeida, a colocação de pilaretes "perturba mais do que facilita e tem provocado danos nas viaturas, que são coisa pequena, mas implicam despesa", designadamente quando colocados "em vias estreitas", o que faz com que "os veículos pesados não tenham espaço e batam nos que estão estacionados".

Defendendo uma resposta "sustentada" para os problemas de trânsito na cidade, a bloquista considerou que a colocação de pilaretes "parece até perigosa", por diminuir o espaço na via para mudança de faixa de rodagem.