"Descontentamento face ao sistema político não é em si populismo"
Mariana Mortágua não percebeu o aviso de Marcelo sobre populismos, mas frisa que, em todo o caso, descontentamento face ao sistema político não é em si populismo. João Almeida, por seu turno, preferiu assumir a responsabilidade de ser alternativa a política de que Marcelo falou no discurso.
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Política Debate
Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, e João Almeida, do CDS, debateram esta quinta-feira, na antena da SIC Notícias, o discurso do Presidente da República por ocasião da comemoração do 44º. aniversário do 25 de Abril, em que Marcelo fez vários avisos.
Relativamente ao endeusamento, a deputada do Bloco de Esquerda entende que “cada um terá a sua interpretação”. “Não somos especialistas nas interpretações do Presidente da República”, disse, dando exemplos de possíveis leituras daquilo que Marcelo quereria dizer.
“Os apoiantes do PR podem achar que Marcelo falava de Centeno, os apoiantes de Centeno podem achar que Marcelo falava de ele próprio”. No entanto, “pode também interpretar-se que falava de Macron. Há muitos exemplos”, notou.
Quanto as referências ao populismo, que Mariana considera ser “caso diferente”, a bloquista não percebe a razão pela qual Marcelo fez tal aviso, uma vez que, embora o populismo seja uma realidade muito presente em muitos países da Europa, “não tem expressão em Portugal, nem se antevê que venha a ter”.
Contudo, o facto de não existir o fenómeno do populismo em Portugal, “não quer dizer que as pessoas não tenham razões para estar descontentes com o sistema político, para estar descontentes com o modelo económico”.
No seu entendimento, “a desilusão face às promessas do capitalismo e da globalização existe também em Portugal”, e isso leva ao “questionamento e desilusão face ao poder político e à falta de transparência, à relação promíscua que há entre o poder político e o privado e os negócios, à corrupção”, enumerou, assumindo que é, portanto, “expetável e legítimo” que o descontentamento degrade o sistema político e cause muitas perguntas e muitas desconfianças por parte das pessoas.
“Mas esta desconfiança e descontentamento face ao sistema não é, em si, populismo. Populismo é aproveitar este descontentamento, e este medo, para virar as pessoas contra as pessoas, para encontrar bodes expiatórios, para justificar medidas racistas, isso sim é uma resposta populista a este descontentamento", destacou a deputada, que acrescentou ainda que o dever da classe política é "encontrar medidas que valorizem o sistema político e que o tornem mais perto das pessoas". "Mais transparência, melhores serviços públicos, melhores respostas, e também atacar as fontes de injustiça económica e injustiça social”, especificou.
João Almeida, por sua vez, afirmou ter ficado em sintonia com o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. Quanto às referências aos messianismos e endeusamentos, o centrista realçou que é um aviso relevante - “principalmente relevante em momentos que, do ponto de vista económico, as coisas correm bem, porque é um alerta no sentido de que nós tenhamos a noção de que as escolhas que fazemos hoje são feitas num contexto genericamente positivo terão consequências em períodos que não são tão favoráveis”, analisou.
Sublinhando que não conseguiu fazer uma leitura “tão clara” do discurso quanto Marcelo, João Almeida afirmou que conseguia fazer uma leitura mais profunda do que aquela que António Costa fez. “Pareceu-me muito superficial”, criticou, preferindo focar-se depois na parte do discurso sobre alternativas políticas, assumindo essa “responsabilidade”.
“É muito importante em política haver alternativas, entre aqueles que foram escolhidos nas últimas eleições que tivemos para a AR (…) Assumimos como nossa responsabilidade protagonizar aquela alternativa que o PR diz que é necessário existir”, declarou João Almeida, dando o exemplo do que o CDS fez esta quinta-feira no Parlamento.
“Ainda hoje na AR, ao propormos a rejeição do programa de estabilidade e propormos uma alternativa ao programa nacional de reformas, protagonizamos aquilo que do nosso ponto de vista defende o PR. Há um Governo, somos oposição ao Governo e não nos limitamos a rejeitar aquilo que é a política deste Governo, apresentamos uma alternativa que nos parece melhor para o país”, rematou
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