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'Ministério do Tempo': Salários pagos? Há versões distintas

Os fãs do 'Ministério do Tempo' vão ter de continuar à espera que a situação entre a produtora e a equipa da série se resolva. Há episódios da segunda temporada já gravados, mas não serão transmitidos se a mesma não for finalizada. A Just Up garante que já pagou os salários em atraso, mas o ator do elenco João Craveiro e o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos asseguram que não é bem assim. 'Ministério do Tempo' continua sem um futuro risonho no seu horizonte.

'Ministério do Tempo': Salários pagos? Há versões distintas
Notícias ao Minuto

08:35 - 03/03/18 por Patrícia Martins Carvalho

País Séries

A série ‘Ministério do Tempo’, transmitida pela RTP, não tem data para regressar. Finda a primeira temporada que fez sucesso e conquistou os telespetadores, a segunda ainda começou a ser gravada, mas questões financeiras não permitiram que a produção fosse finalizada.

“Não há nada pior para um ator ou um técnico do que fazer um trabalho que acaba por não ir para o ar”, diz ao Notícias ao Minuto André Albuquerque, ator e membro do Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA – STE).

A polémica começou no ano passado quando a equipa de ‘Ministério do Tempo’ decidiu parar as gravações. Em causa estava o atraso no pagamento dos salários de vários elementos da equipa, entre atores, cabeleireiros, técnicos, figurinistas, entre outros.

A série – que é uma adaptação de um sucesso da televisão espanhola – começou por ser produzida pela Iniziomedia que “tem muito mais experiência”.

No entanto, alguns atrasos no pagamento de salários e dificuldades financeiras para manter a produção levaram a RTP a procurar outra solução. Assim surge a Just Up que, inicialmente, é parceira da Iniziomedia na produção da série.

“Houve alguns atrasos da Iniziomedia a trabalhadores, mas a produtora foi conversando com eles e pagando o que estava a dever de acordo com o que era possível. A Iniziomedia teve um comportamento muito diferente do da Just Up”, conta André Albuquerque.

Terminada a primeira temporada, a segunda fica a cargo apenas da Just Up e é então que recomeçam os problemas com os salários a não serem pagos a tempo e sem data para serem liquidados.

“Disseram-nos que eram questões de produção, que estavam à espera disto, que estavam à espera daquilo, que ia ser tudo resolvido, mas não foi”, relata ao Notícias ao Minuto João Craveiro (em destaque na imagem), o ator que dá vida a Afonso de Noronha, elemento-chave da patrulha do ‘Ministério do Tempo’.

Estes atrasos levaram a equipa a unir-se e o elenco a assinar um comunicado (em maio do ano passado) no qual denunciava a situação: os salários não eram pagos e assim não havia condições para trabalhar.

André Albuquerque conta ainda que além dos salários referentes aos meses efetivamente trabalhados, a produtora criou outro problema. Em meados de maio, já com as gravações paradas, a Just Up pediu à equipa que não aceitasse trabalhos durante o mês de junho, pois a situação financeira ia resolver-se e seria possível retomar as gravações.

Porém, a situação não se resolveu, as filmagens não foram retomadas e atores e elementos da equipa técnica estiveram sem trabalhar ‘presos’ a um pedido da produtora.

“É lícito que a Just Up pague também o mês de junho a esses trabalhadores”, defende André Albuquerque.

Todavia, esta versão dos acontecimentos é negada pelo responsável da Just Up, Luís Valente. "Não houve qualquer pedido da minha parte ou da parte da Just up para que os colaboradores a recibos verdes não aceitassem qualquer outro trabalho, até porque alguns aceitaram", começa por dizer o responsável, que acrescenta ainda que o não pagamento do mês de junho foi acordado pela grande maioria dos trabalhadores.

"Ainda relativamente aos colaboradores a recibos verdes, foi solicitada uma reunião individual, com cada um deles, para explicar que não iria ser possível o pagamento de junho, ao que todos os que aceitaram ir à reunião (90%), responderam estar de acordo porque só trabalharam o mês de maio", explica, defendendo ainda: "Sendo assim, quando assumo que foram pagos, foram pagos pelo que trabalharam".

João Craveiro garante que os seus salários foram todos pagos, incluindo o referente ao mês de junho. Porém, não sendo caso único também não representa a maioria dos trabalhadores. “Eu consegui receber o que tinha para receber, mas tenho colegas que têm salários em atraso, entre atores, maquilhadores, pessoal do guarda-roupa”, refere.

Em resposta por email às questões colocadas pelo Notícias ao Minuto, Luís Valente assegura que “os salários em atraso foram liquidados entre setembro e novembro” do ano passado, não respondendo, porém, quando questionado sobre se esse pagamento incluía também o mês de junho.

Já André Albuquerque, admitindo que não é possível ao sindicato ter uma contabilidade exata de quantos trabalhadores já viram os salários serem pagos, certifica que “nem todos receberam o mês de junho”, até porque há “colegas a ponderar avançar com uma injunção para o poderem receber”.

“Nunca conseguimos fazer essa contabilização porque estamos a falar de atores de elenco fixo e de várias equipas técnicas, pois nas paragens que houve nas filmagens os técnicos foram rodando, já para não falar da quantidade gigante de atores que fizeram papéis pontuais”, explica o também ator. 

'Ministério do Tempo' regressa ou não aos ecrãs?

Luís Valente assegura que a “continuidade da série irá depender da vontade dos profissionais da área em questão”. No entanto, o ator João Craveiro tem outro entendimento sobre o tema. “Para isso acontecer tinham de ser dadas garantias muito, muito sérias, de que o trabalho ia ser feito, terminado e, acima de tudo, de que toda a gente seria paga. Isto é ponto assente”. Além do mais, sublinha, há toda uma questão relacionada com a imagem que é impossível de manter. No caso de João Craveiro, que está a braços com outros projetos, seria impossível voltar a ter a aparência de Afonso de Noronha que tem um “porte marcante”, pelo menos para já.

Com mais de 20 anos de carreira, o ator diz que “nunca” tal lhe tinha acontecido, pelo menos com esta gravidade. “Estas são situações que podem acontecer de forma pontual, mas são coisas que são faladas e resolvidas. Desta forma, como aconteceu com o ‘Ministério do Tempo’ nunca me tinha acontecido. É escandaloso”, refere.

Mas é “uma pena”, lamenta João Craveiro, que volta a frisar que muito “dificilmente” será possível retomar as gravações para terminar, pelo menos, a segunda temporada que ficou a meio. “É uma pena, mas não podemos trabalhar nestas condições”, termina,

Luís Valente admite os problemas financeiros, cuja dívida ronda os três milhões de euros, e diz que a “solução passa por um empresário [seu] amigo que poderá emprestar o montante necessário para fazer face às referidas dívidas”.

“Penso que não faltará muito mais tempo para se verificar essa solução”, assevera, acrescentando que, resolvidos os problemas financeiros, começará a “contactar todos os inerentes” à série e que a dívida será “liquidada logo que o ‘Ministério do Tempo’ seja entregue ao cliente RTP”.

Sobre a estação pública de televisão, André Albuquerque diz compreender a razão pela qual não cobre as dívidas da Just Up. “Não podemos deixar de compreender a razão pela qual a RTP não adianta o dinheiro aos trabalhadores, pois seria abrir um precedente. A partir desse momento, sempre que uma produtora com contrato com a RTP tivesse problemas de liquidez, a estação pública de televisão seria chamada a intervir”, explica.

O 'Ministério do Tempo' tem cerca de metade da segunda temporada gravada. No entanto, a finalização da mesma e consequente transmissão televisiva parece estar longe. Resta agora esperar pelos próximos capítulos desta série de dificuldades financeiras que impediu que o trabalho dos atores e restante equipa técnica chegasse a bom porto.

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