Um dos projetos vencedores do Orçamento de Participativo de Lisboa, cujos resultados foram divulgados no final de novembro, foi a construção de um memorial de evocação da escravatura para “homenagear as vítimas da escravatura e celebrar a abolição da escravatura e o tráfico de pessoas escravizadas”.
Quase um mês depois, a notícia chegou a Espanha e o El Mundo, este sábado, apresenta uma reportagem sobre a temática.
“Estendendo-se do Brasil a Macau, o Império Português ocupou meio mundo durante a sua época de máximo esplendor, e hoje em dia os cidadãos do país vizinho mantêm viva a memória do período colonial extinto, mostrando-se especialmente orgulhosos da ousadia dos seus antepassadas da Época dos Descobrimentos. Essa memória, no entanto, falha na hora de recordar o papel dos portugueses no tráfico de escravos durante o mesmo período”, escreve o jornal espanhol.
Foi precisamente por não existir nenhum monumento que evoque este período que a Djass – Associação de Afrodescendentes decidiu apresentar o projeto, que obteve mais de mil votos. O memorial está em estudo e deverá ser erigido na Ribeira das Naus. Como explicou Beatriz Gomes Dias, presidente da associação, ao Notícias ao Minuto, na sequência da vitória do projeto, “era importante que existisse um memorial que fizesse um reconhecimento desse papel de Portugal na escravatura e que, além disso, também celebrasse a resistência dos povos que foram escravizados".
O debate em torno do passado colonial português tem começado a ganhar espaço na opinião pública, depois de muito tempo em que o assunto era praticamente ignorado. Neste sentido, o El Mundo realça que a França e o Reino Unido “tentaram recuperar a memória dos escravos”, ao passo que Portugal “tem evitado recordar o seu passado manchado de sangue”.
Contudo, o jornal espanhol elogia os “cidadãos da capital lusa” que “optaram pelo reconhecimento tardio do domínio luso no tráfico de escravos ao aprovar a construção do primeiro memorial às vítimas da escravatura em Portugal”.