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A sociedade precisa deles todos dias. E no Natal não é exceção

Estão nos 'bastidores' e muitas vezes não os vemos. Mas estão sempre lá para quando precisarmos. Até no Natal, dia em que trocam o conforto do lar pelo sentido de missão. São bombeiros, profissionais de saúde, veterinários, e motoristas (e tantos outros mais).

A sociedade precisa deles todos dias. E no Natal não é exceção
Notícias ao Minuto

08:30 - 24/12/17 por Melissa Lopes , Inês André de Figueiredo , Filipa Matias Pereira e Fábio Nunes

País Profissão

Escolheram ter profissões das quais não podemos passar sem. São imprescindíveis ao funcionamento da sociedade. E o dia de Natal não é, claro, exceção. É um dia (quase) como outro qualquer em que o dever fala mais alto. Deixam a família em casa e trocam-na pela ‘farda’ do trabalho. Mas não é com mágoa que o fazem. Estão “habituados” a estar “ali” para os outros e os colegas de trabalho, parceiros de missão, são a família emprestada para a consoada no quartel, no hospital, na rua, enfim, seja onde for.

Victor Marcelino, bombeiro em Cernache de Bonjardim 

Victor Hugo Marcelino tem 29 anos, 14 dos quais vividos como bombeiro em Cernache de Bonjardim, no concelho da Sertã. Casado e com uma filha “ainda muito pequenina”, este Natal, como tantos outros, vai passá-lo a trabalhar. “Está habituado”, mas confessa: entre a noite de Natal e a passagem de ano, o que lhe “custa mais” é mesmo o dia 24.  E percebe-se porquê. 

Apesar disso, a noite no quartel é passada com colegas. Há comida e bebida (não muita, claro). E há ocorrências, não muitas também, porque, afinal, estamos a falar de uma região do Interior onde é tudo mais sossegado. O tipo de ocorrências mais comuns na noite de Natal é o transporte de idosos (acamados ou já com algumas dificuldades) para passarem a consoada junto da família. "Normalmente até é a família a pedir-nos para, por exemplo, irmos buscar os idosos aos lares". 

Notícias ao MinutoVictor é bombeiro em Cernache de Bonjardim há 14 anos© Notícias ao Minuto

De resto, Victor e os colegas costumam acudir a "algumas quedas", "algumas más disposições" e, também, a "algumas bebedeiras [risos]". Mas, seja por que motivo for, há uma equipa preparada para responder ao som da sirene. É o sentido de missão a falar mais alto. De episódios caricatos, recorda, aconteceu-lhe um, mas não numa noite de Natal. Há dois anos, numa passagem de ano, eram 00h15 quando uma discussão familiar mobilizou os bombeiros para o local. "Foi festejar com o pessoal e sair para o serviço", lembra. No quartel, nessa noite há sempre "fartura de comida", onde não falta o bolo-rei e as filhóses. "Fazemos aqui uma festinha entre amigos". O "entre amigos" significa entre cinco e seis elementos (incluindo profissionais e voluntários). E assim será este ano, mais uma vez. 

Sara Coelho, guarda-freio da Carris

Notícias ao MinutoSara Coelho, guarda-freio da Carris© DR

Sara Coelho, de 40 anos, é guarda-freio na Carris e irá trabalhar nesta noite de consoada a transportar pessoas pelas ruas de Lisboa. Não é a primeira vez, provavelmente não será a última, e nunca deixará de ser “triste”, apesar de já conseguir “gerir a vida de outra forma”, festejar noutros horários com a família.

Durante a noite vê-se muita coisa, mas o que mais “custa” é quando se transportam “pessoas que não têm para onde ir”. “Há pessoas que andam à deriva. Não querem estar na rua, mas também não querem estar em casa porque estão tristes ou porque não têm com quem estar. Isso incomoda e mexe um pouco connosco”, conta Sara.

Notícias ao MinutoSara Coelho, guarda-freio da Carris© DR

Por outro lado, também se veem muitas pessoas até à hora do jantar que aparecem cheias de presentes e bolos. “Temos situações engraçadas. Uma vez, num Natal, entrou uma senhora cheia de sacos que dava para ver que eram de pastelaria e quando ela entrou eu disse-lhe a brincar: ‘a senhora pode entrar, mas os bolos têm de ficar lá fora’. Ela achou piada, esticou-me um saco e deu-me um bolo rei”, recorda com um sorriso.

Mafalda Gonçalves, médica veterinária em Lisboa

Notícias ao MinutoMafalda Gonçalves© Hospital Veterinário do Restelo

A época natalícia é símbolo de festa, animação e regozijo para a maior parte das pessoas. E para os animais? Será que eles recebem as festividades com o mesmo entusiasmo? Para responder a esta questão, o Notícias ao Minuto chegou à fala com Mafalda Gonçalves, médica veterinária do Hospital Veterinário do Restelo, em Lisboa.

Por norma, o Natal é “uma altura de stress para os animais porque ou vão de viagem com os donos, ou acabam por se ver no meio de uma imensidão de pessoas quando estão habituados a dividir a casa apenas com duas, por exemplo”, explica.

Além disso, “muitas pessoas tendem a extrapolar só porque é Natal e facilitam, acabando por dar comida caseira aos animais”. Ora, os ossos ou os doces podem “originar problemas gastrointestinais sérios como pancreatites ou gastroenterites hemorrágicas”, revela Mafalda Gonçalves.

De acordo com a médica veterinária, outra das situações mais comuns na época de Natal prende-se com o facto de os animais comerem brinquedos ou embrulhos. Nestes casos, recomenda-se que o animal seja levado ao veterinário de imediato. Isto porque, se a intervenção for atempada, o “objeto pode ser retirado por endoscopia”. Há casos em que o “animal não é trazido logo e quando cá chega já vem prostrado e a vomitar. Muitas vezes é mesmo preciso abrir o estômago ou o intestino e tratam-se de cirurgias com complicações e que têm mesmo risco de vida”.

Aberto todo o ano, como é apanágio, o Hospital Veterinário do Restelo estará também de portas abertas no Natal e no Ano Novo. Tal como revela Mafalda Gonçalves, “esta altura do ano, por norma, traduz-se num acréscimo de trabalho e, por isso, teremos cerca de 25 pessoas disponíveis para tratar dos animais que precisarem”.

Notícias ao Minuto© Hospital Veterinário do Restelo

Luísa Simões, Assistente Operacional no Hospital Dona Estefânia

Luísa Simões, de 52 anos, sabe bem o que é trabalhar na noite de Natal. Durante 14 anos fez nesse período de tempo metade de noites de Natal e a outra metade de noites de Ano Novo no serviço de Urgência Ficaram muitas estórias e reforçou-se o companheirismo da equipa, que a partir de certa altura “ era quase sempre a mesma”.

Quando fez a sua primeira noite de Natal não imaginava que fosse tão agitada. “Achava que seria calma, que quase ninguém recorria aos hospitais e enganei-me porque foi uma afluência igual à dos outros dias, se calhar até foi pior. Depois da meia-noite há sempre aqueles pequenos incidentes com os miúdos. Cortavam um dedo, punham uma peça de um brinquedo no ouvido ou comiam algo que não deviam e tinham uma reação alérgica”, conta.

Notícias ao MinutoLuísa Simões e a restante equipa do serviço de Urgência do Hospital Dona Estefânia© Facebook

A nível pessoal e emocional, também foi a noite mais complicada de gerir. “Fiz só a noite e custou-me sair de casa e deixar a família para ir trabalhar”, afirma. “É muito complicado para quem passa ali os Natais gerir as emoções. Deixar a família em casa é sempre o que custa mais".

Apesar de tentarem sempre que a noite no serviço de Urgência fosse o mais familiar possível, tornava-se difícil concretizá-lo.

“Tentávamos fazer uma noite de Natal normal mas é apenas isso. Não conseguimos. Houve um ano que as coisas estiveram mais calmas durante a tarde e preparámos a mesa para jantar, na qual se junta a equipa de enfermeiros, de assistentes operacionais e, por vezes, um médico ou outro. Dividimos a equipa porque tem de ficar sempre alguém na Urgência. Mas não conseguimos jantar até ao fim porque entretanto deu entrada alguém que estava mal, que precisava de ir rapidamente para a cirurgia. Quando regressámos à mesa a comida já estava fria”, recorda.

Luísa destaca que fazem sempre o amigo secreto e cada um fica incumbido de levar a comida e as bebidas. Ali, a ceia de Natal nunca é a tradicional. “Bacalhau com broa”, foi o mais parecido que Luísa chegou a ter de uma Consoada tradicional.

Entre as estórias que mais marcaram Luísa, há uma que não esquece pelos piores motivos. “Na véspera de uma véspera de Natal morreu uma criança na Urgência e isso marcou-me até hoje. Já lá vão 12 anos. Custou-me muito porque era uma menina com 10 anos e deveu-se ao frio e a uma série de coisas e ela não resistiu. Tinha passado uma tarde na Urgência connosco, saiu e depois voltou com o seu estado agravado e acabou por morrer. É a estória de que mais me recordo por ver a angústia da família e a nossa também”, lamenta.

Depois de tantos anos a fazer noites de Natal e de Ano Novo, Luísa vai passar pela primeira vez este ano o Natal e o Ano Novo em casa com a família. "Vai ter um sabor diferente", remata.

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