É já hoje, 25 de novembro, que o tema ‘O impacto económico e social da fraude e corrupção’ assumirá o protagonismo da 4.ª Conferência Internacional, Perceção Interdisciplinar da Fraude e Corrupção, que se realiza no Porto, entre as 9h00 e as 18h30, no espaço Atmosfera M (Rua Júlio Dinis).

Este evento, dinamizado pelo Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF), reúne um painel de investigadores internacionais consultores e autoridades de política pública de uma dezena de países (incluindo Canadá, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Noruega, Reino Unido e Rússia) que se debruçarão sobre várias dimensões da fraude e da corrupção, nomeadamente a economia não registada, o impacto da corrupção no crescimento económico, a corrupção e fraude no ensino superior, a deteção de fraude, a fuga aos impostos, e os aspetos sociais, políticos e culturais associados à fraude e à corrupção.

Este Observatório já vai, como explica, ao Notícias ao Minuto, Aurora Teixeira, presidente da comissão organizadora, “na quarta edição, sendo que na última dedicámo-nos às questões do custo do crime económico. Por isso, este ano, pretendemos abordar a perceção interdisciplinar da fraude e da corrupção, uma vez que, de acordo com vários estudos ao nível da União Europeia, não obstante os custos económicos associados a esta temática, há impactos nos domínios sociais e políticos inerentes”.

A título exemplificativo, destaca-se o facto de a “corrupção e a fraude se poderem repercutir em questões da desigualdade e de pobreza. Portanto, pareceu-nos pertinente, de alguma forma, analisar o verdadeiro impacto destes fenómenos”, esclarece a responsável.

‘Panama Papers’: A ponta do iceberg

O caso dos ‘Panama Papers’, que tanta tinta tem feito correr nos últimos tempos na imprensa nacional e internacional, é, para Aurora Teixeira, “apenas a ponta do iceberg daquilo que é verdadeiramente este fenómeno”.

Recorde-se que o caso dos ‘Panama Papers’ reporta a um escândalo de corrupção descoberto através de 11,5 milhões de documentos a que um jornal alemão e um consórcio de jornalistas de investigação tiveram acesso.

A corrupção e a fraude são “um buraco negro que tem uma extensão que ainda não temos noção. Mas se juntarmos estes trabalhos mais quantitativos [que vão ser abordados na Conferência] com aquilo que são as perceções que o comum do cidadão e mesmo os profissionais ligados a este tipo de temática têm saberemos que, de facto, o âmbito é bem mais extenso do que aquele que imaginávamos”, assegura.

A presidente da comissão organizadora considera que, em termos temporais, “os fenómenos da fraude e da corrupção têm sofrido alterações na sua natureza, mas os conflitos de interesse e as questões dos concursos públicos e dos conhecimentos nas ligações políticas, por exemplo, são algo que ainda se mantém”.

Apesar de a conferência ter “uma natureza mais académica, também se direciona para profissionais porque o Observatório é composto por pessoas ligadas aos reguladores, às inspeções, ao nível dos vários ministérios, das autarquias, entre outras que normalmente estão responsáveis por investigar, quer de forma preventiva, quer a posteriori na função que desempenham”. Basicamente, este é “um evento que pretende reunir não só académicos, mas também profissionais que, pela sua atividade ou interesse, precisam de partilhar informações e experiências sobre a fraude e a corrupção”.

Outro dos pontos altos do evento científico prende-se com a presença de Alvaro Cuervo-Cazurra, professor de Estratégia e Negócios Internacionais da Northeastern University, Boston (EUA). Este investigador “tem-se especializado em ‘international business’, isto é, na corrupção no âmbito de multinacionais”.

Para Aurora Teixeira, este é um tema “bastante pertinente”, tendo em conta que no último ano "a Comissão Europeia lançou uma série de desafios e de pacotes no sentido de aplicar impostos justos, tendo por alvo também estas multinacionais”.

De alguma forma, acrescenta, “o objetivo será alcançar maior transparência nas contas destas grandes empresas, obrigando a que estas reportem ao país a origem dos seus lucros, mas também onde pagam impostos”.

A este orador juntar-se-á Ana Teresa Tavares-Lehmann, atual Secretária de Estado da Indústria, que “contribuirá com a sua perspetiva de autoridade política sobre a importância que os custos associados à corrupção e à fraude podem ter no âmbito empresarial e na atração de investimento direto estrangeiro”. Tratam-se, efetivamente, "de duas perspetivas que se complementam e que se pretende que sejam bastante aplicadas e atuais”.

Outras informações podem ser consultadas aqui.