Incêndios: "Estas pessoas ficaram sem sustento"
As chamas que cercaram a aldeia de Vila Nova, freguesia de Ventosa, concelho de Vouzela, foram implacáveis e 'ceifaram' quatro vidas, campos de cultivo, alfaias, produtos agrícolas e gado, deixando a população "sem sustento", alertou hoje o pároco local.
© Reuters
País Reportagem
"Tenho 80 anos e nunca vi nada igual, as 16 ou 17 povoações da freguesia de Ventosa estiveram em chamas. Vai ser um problema muito grande, a população, a grande maioria com idade avançada, ficou sem sustento, pois vivem das terras e do gado", lamentou António de Sousa Fernandes, pároco da freguesia de Ventosa, onde falecerem cinco pessoas: quatro em Vila Nova e uma em Covelo.
O manto negro em que está mergulhada a pequena povoação de Vila Nova, com cerca de uma centena de habitantes, deixa adivinhar "os momentos de horror que viveram" na noite de domingo para segunda-feira, em que ficaram "completamente cercados pelas chamas".
Várias casas encontram-se em ruínas, alguns barracões ficaram reduzidos a cinzas, perdendo-se as batatas, feijões, alhos e cebolas, alimentos para sustento de muitas famílias.
Também a maioria das ovelhas, vacas, porcos e galinhas 'desapareceram' com as chamas e os animais que escaparam ficaram sem ter com que se alimentar, pois os campos de pasto deram lugar a um 'tapete' vazio, apenas pintado de preto.
O cenário é desolador, mas os habitantes tentam reerguer-se com as poucas forças que sobraram, depois de terem enfrentado "um monstro como nunca foi visto".
"Parecia um vampiro que sugava tudo! Foi um fenómeno tão rápido e assustador que nem sei como descrever", referiu Alberto Pereira, um sapador florestal na reforma, que recorda de lágrimas nos olhos a aflição de domingo.
Em menos de uma hora, a aldeia, envolta em floresta, ficou com as quatro saídas tomadas pelas chamas, restando aos populares e aos poucos bombeiros um combate desigual, com os poucos meios que possuíam.
"O que valeu foi ajudarmo-nos uns aos outros, usámos a água dos furos enquanto pudemos, depois ficámos sem luz, mas fomos usando mangueiras de quem tinha água da companhia e do chafariz até arderem os tubos. Tentámos molhar telhados, carros e terrenos, mas era um clarão incontrolável", referiu.
Durante a manhã de hoje, Agostinho Carvalho deslocou-se a Vila Nova, onde veio ver a irmã, que mora na aldeia que tem dificuldade em reconhecer.
"Cerca de 75% da aldeia já não é o que era, está tudo queimado! Casas, terras, animais, tratores e alfaias agrícolas, é uma tristeza constatar uma coisa destas" lamentou.
Apesar de muitos terem perdido tudo o que tinham, fica o alento de continuarem em vida.
"A minha irmã perdeu cabeças de gado, uma carrinha e outros bens, mas no fundo está feliz porque está viva. Agora, esta gente precisa de ajuda para seguir em frente, necessitam de tratores, alfaias, sementes para continuarem a trabalhar as terras, pasto para o gado que ficou", sublinhou.
De acordo com o presidente da Câmara de Vouzela, Rui Ladeira, registaram-se oito vítimas mortais no seu concelho: cinco da freguesia de Ventosa (quatro em Vila Nova e uma em Covelo), uma na A25, uma em Queirã e outra em Campia.
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