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"Um dos piores anos" em França representa um décimo da área ardida por cá

O ano de 2017 está a ser um dos "piores" no combate aos fogos florestais em França com 20.900 hectares de área ardida, um valor muito aquém dos quase 210 mil hectares ardidos em Portugal este ano.

"Um dos piores anos" em França representa um décimo da área ardida por cá
Notícias ao Minuto

09:53 - 23/09/17 por Lusa

País Incêndios

Eric Grohin, da Direção Geral de Segurança Civil e de Gestão de Crises (DGSCGC), disse à Lusa que, desde 1 de janeiro, em França, arderam 20.900 hectares, tendo a região mediterrânica sido a mais afetada com 17.000 hectares de área ardida, um número, ainda assim, distante do que foi atingido em 2003, o "pior ano".

"Na zona mediterrânica, em 2003 registou-se 60.800 hectares de área ardida. Foi o nosso pior ano. 2003 e 2017 são, de facto, os nossos piores anos em termos de área ardida", indicou o chefe do departamento dos serviços de incêndios e de socorro da DGSCGC.

Os "piores anos" em França ficam, assim, abaixo da área ardida em Portugal este ano: de acordo com o relatório divulgado esta semana pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, relativo ao período de 01 de janeiro e 15 de setembro, foram registados 209.678 hectares de área florestal ardida.

No sudeste de França, onde se regista a grande maioria dos incêndios do país, a área consumida pelos fogos florestais triplicou em relação à média dos últimos dez anos.

"Na zona mediterrânica, a mais afetada, a área ardida, até 20 de setembro, é de 17.000 hectares. A média dos últimos dez anos era de 4950 hectares. Passámos de 4.950 a 17.000 hectares, ou seja, este ano a área ardida foi multiplicada por três", continuou Eric Grohin.

O responsável precisou que "antes do verão, as temperaturas eram muito altas, houve um défice pluviométrico e muito vento", o que provocou uma seca no sudeste de França superior à registada em 2003, ou seja, "condições extremamente favoráveis aos fogos florestais".

O pico dos fogos foi registado na última semana de julho, com três incêndios simultâneos de grande proporção no distrito de Var, uma grande frente no distrito de Vaucluse e outra na ilha da Córsega, tendo, nessa semana, ardido "cerca de 8.000 hectares" e sido aplicadas "medidas de proteção para 14.000 pessoas", nomeadamente 12.000 deslocadas na noite de 26 de julho em Bormes-les-Mimosas, no sudeste.

O Sindicato Nacional do Pessoal de Navegação da Aeronáutica Civil alertou que apenas 17 dos 23 aviões bombardeiros de água estavam operacionais nessa semana, com o ministro do Interior, Gérard Collomb, a rejeitar que houvesse falta de meios e a anunciar a compra de seis aparelhos Dash 8.

O responsável da proteção civil francesa, Eric Grohin, justificou à Lusa que "os aparelhos foram muito utilizados desde o início da época" e que na semana mais crítica "havia 3 ou 4 aviões que estiveram em revisão durante dois ou três dias", afastando qualquer "problema de velhice dos aviões".

Também a Federação Nacional dos Bombeiros-Sapadores de França (FNSPF) denunciou uma falta de meios e o seu vice-presidente, Grégory Allione, apontou à Lusa que o setor atravessa uma "situação de tensão" devido aos progressivos "cortes orçamentais".

"Os bombeiros sapadores voluntários estão a diminuir e os profissionais também estão em diminuição, com casernas a fechar todos os anos. Ou seja, a nossa rede territorial desmorona-se a pouco e pouco. Mas, sobretudo, o que nos preocupa é a diminuição notável do investimento", afirmou.

Como exemplo, Grégory Allione indicou "uma diminuição de 25% nos últimos cinco anos no investimento em camiões de combate aos fogos", ou seja, "dois terços dos camiões não estão dentro das normas modernas" e é necessário um sistema informático nacional de gestão operacional, algo "reclamado há anos".

"Cada distrito tem o seu sistema de gestão operacional, ou seja, o distrito A não conhece os veículos dos distritos B, C ou D. Quando um veículo chega em reforço é integrado no dispositivo através da rádio e do comando, mas não é integrado informaticamente no sistema de gestão operacional. Se ficar encurralado, quando dá o alerta, não tem o ponto de georreferenciação", avisou.

Esta situação levou a que, no verão, se tenha estado "muito perto da catástrofe", mas os bombeiros "souberam indicar onde estavam e globalmente houve a capacidade de enviar reforços". "Hoje raciocinamos com os meios que tínhamos há 20 anos quando poderíamos garantir mais segurança graças aos progressos tecnológicos", continuou.

Ainda assim, Grégory Allione considerou que "a época de luta contra os fogos florestais de 2017 foi gerida de forma notável porque não houve acidentes graves com feridos graves ou mortes", admitindo que "apesar das dificuldades, o cenário não é tão negro".

O vice-presidente da federação de bombeiros-sapadores justificou que nas "zonas de risco" houve um reforço dos meios regionais e nacionais, que "as situações de crise foram, muitas vezes, antecipadas graças à análise da meteorologia" e que há "uma "verdadeira coordenação" entre as diferentes autoridades.

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