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Bairro de Odivelas desespera com sucateira a céu aberto

Uma sucateira que funciona a céu aberto numa zona residencial de um bairro de Odivelas, distrito de Lisboa, está a "levar ao desespero" os moradores, que se queixam do "barulho ensurdecedor" e do estremecimento das habitações.

Bairro de Odivelas desespera com sucateira a céu aberto
Notícias ao Minuto

06:00 - 17/09/17 por Lusa

País Queixa

"Isto é um inferno todos os dias. Estamos exaustos e cansados de tanto lixo e de tanto ruído", afirma, indignada, à agência Lusa Olinda Marques, moradora há 32 anos no bairro do Casal Novo, localizado na freguesia de Caneças, no concelho de Odivelas.

Em causa está o funcionamento da sucateira Valoraf, que labora há dois anos numa zona de vivendas entre os bairros do Casal Novo e do Casal do Bispo.

A sucateira é responsável pela triagem e armazenamento de resíduos perigosos e não perigosos e pelo tratamento mecânico de resíduos não perigosos, possuindo uma licença de funcionamento até agosto de 2020.

No entanto, apesar de a Valoraf ter recebido um alvará de licença por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) e o aval da Câmara Municipal de Odivelas, os moradores defendem que a sucateira não reúne as condições técnicas e de segurança para funcionar no local.

"Está à vista de todos que o senhor não tem condições para laborar aqui. Esmaga carros inteiros com a grifa a céu aberto, mesmo colado às habitações. Diariamente ultrapassa e muito aquilo que está estabelecido na lei do ruído. Ninguém consegue descansar", queixa-se Olinda Marques.

Vanessa Lima, outra moradora, conta que já teve bocados de ferro, vidro, e até um martelo a caírem-lhe no quintal. Numa das ocasiões, o martelo caiu junto da filha, na altura com dois meses.

"Este inferno começou quando a minha filha era muito pequenina. Desde então, brincar no terraço é para esquecer, porque tenho medo que alguma coisa lhe aconteça. Sempre que o senhor trabalha as casas estremecem e sentimos medo e insegurança de estar dentro da nossa própria casa. É muito triste", lamenta.

No mesmo sentido, Joaquim Pereira, morador há 28 anos no Casal Novo, queixa-se de que a sua garagem ficou cheia de fendas e diz temer que "um dia venha mesmo abaixo".

"Presentemente tenho medo de estar na garagem e de ter lá o carro. Nós somos mais antigos do que a sucateira e não merecíamos estar a passar por isso. Tenho 74 anos e o descanso faz-me falta. Não aguento mais tempo a ouvir esmagar carros a partir das 08:00", sublinhou.

Ouvido pela Lusa, o proprietário da sucateira, Augusto Silva, ressalvou que "os responsáveis por esta confusão" são a CCDR-LVT e a Câmara Municipal de Odivelas e que apenas cumpre um trabalho para o qual obteve uma autorização.

"Se houve alguém que falhou, certamente não fomos nós. A CCDR deu-nos o alvará por cinco anos", apontou, reconhecendo que se trata de atividade barulhenta.

"Claro que eu nas minhas funções tenho de fazer barulho, porque não estou a trabalhar com algodão, mas sim com ferro", acrescentou.

Augusto Silva afirma que sempre respeitou "as exigências feitas pela CCDR-LVT" e queixa-se de ultimamente ter sido alvo de mais fiscalizações.

"Os vizinhos andam a fazer queixa e agora a CCDR anda sempre em cima de nós com fiscalizações. Já perdi muitos clientes e estou a ser muito prejudicado no meu trabalho. Investi aqui muito dinheiro e agora querem fazer-me a vida negra", lamenta.

A Lusa contactou a CCDR-LVT para obter um esclarecimento, mas não obteve uma resposta.

Por seu turno, numa resposta escrita enviada à Lusa, fonte oficial da Câmara de Odivelas ressalvou que "a autarquia sempre se preocupou com o assunto" e encaminhou alertas para as entidades envolvidas, nomeadamente a CCDR-LVT e a autoridade de saúde.

"Compete esclarecer que quaisquer medidas de encerramento, suspensão, restrição ou adaptação só podem ser emitidas pela entidade licenciadora, a CCDR-LVT. A Câmara Municipal de Odivelas não tem qualquer competência legislativa para tomar alguma medida", referiu a nota.

Entretanto, os moradores, que prometem "não baixar os braços", levaram a cabo um abaixo-assinado, que reuniu 200 assinaturas, e enviaram queixas para o provedor de Justiça e para o Ministério Público.

"Basta, não aguentamos este inferno até 2020 e não vamos desistir até que as autoridades venham cá fechar a sucateira. O senhor pode não ter culpa, mas nós também não. Não aceitamos isto", diz Olinda Marques.

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