Campistas recusam ordem de evacuação para "proteger" parque de Ortiga
O Parque de Campismo de Ortiga, com capacidade para 300 pessoas, esgota normalmente no mês de agosto, mas hoje só lá tem dezena e meia de campistas que recusaram sair e enfrentaram as chamas.
© Reuters
País Incêndios
"Na quinta-feira pedimos a todas as pessoas que saíssem, mas os nossos campistas habitais quiseram ficar para proteger o parque", disse à Lusa Nadine Peixinho, funcionária na receção do Parque de Campismo Municipal de Ortiga.
Francisco Ferreira, bombeiro do quadro de honra da corporação de Alcabideche, foi dos primeiros a recusar a ordem de evacuação.
"Em 2003 estive aqui com a minha corporação, a defender o Parque, e desta vez fiz o mesmo, com outros campistas que quiseram ficar", disse à Lusa.
Na quarta-feira, antecipando-se à chegada das chamas, "molhámos o chão todo, as caravanas e tendas e montámos torniquetes para quando o fogo chegasse", lembrou.
O fogo chegou na quinta-feira, o mesmo dia em que Carmen Montez e Manuel Luque, chegaram de Espanha.
O casal, de Torremolinos (Espanha), há quatro anos que passa no parque de campismo os meses de julho e agosto.
"Fechámos tudo, as mulheres e crianças foram para praia fluvial, com lenços molhados a tapar a cara e nós, os homens, ficámos com os bombeiros, à espera do fogo", contou Manuel.
E ele veio, oculto por "um ciclone de vento e uma coluna de fumo que não deixava ver chamas", contou Francisco, com Manuel a acrescentar, "e no segundo seguinte o monstro estava nas árvores "quase encostadas às tendas", para "segundos depois já ter passado".
Ao todo foram "quatro horas de inferno", com "os funcionários, os bombeiros e toda a gente a ter um comportamento excecional", afirmou Carmen, sublinhando que "tudo fizeram para nos acalmar, para que as crianças não tivessem medo" e até, "para organizar a forma como nos devíamos preparar, onde devíamos ter carros estacionados para fugir".
Nessa noite, com os acessos de Mação a Ortiga cortados, a única fuga possível seria em direção a Belver, no concelho de Gavião. Mas no dia seguinte já não seria possível, porque as chamas já lavravam ao lado da estrada.
Ao redor do parque ficou uma mancha de terra queimada a marcar a paisagem, que só tem verde do outro lado do rio, na zona da praia fluvial.
Encostas com raízes de árvores ardidas e terra enegrecida pela cinza são agora o cenário de Nadine e das duas colegas na receção do parque com capacidade para 300 pessoas e que "normalmente esgota no mês de agosto".
Este ano, "desde que começou o fogo em Mação, deixámos de aceitar pessoas" e só deixámos ficar mesmo aqueles que estão cá todos os anos, conhecem o espaço e sabem para onde devem ir em caso de perigo", disse à Lusa.
Depois de Ortiga ter sido a última localidade do concelho de Mação a ter deixado de estar isolada devido às chamas, dadas como extintas no sábado, os reacendimentos voltaram hoje a deixar os populares em alerta.
Nadine recusa fazer previsões sobre quando voltarão as admissões no parque a ser "normais".
Perdida a segunda quinzena de agosto, perdido o verde da paisagem, perdida a calma do local onde as viaturas dos bombeiros e do exército batem sistematicamente o território para atacar rapidamente qualquer reacendimento.
Mas o que Nadine pode ter como certo é que "os habituais" lá estarão, no próximo ano, garantiram Francisco e o casal de espanhóis.
Ortiga foi a última vila fustigada pelo incêndio que deflagrou no concelho de Mação às 00:01 de quarta-feira e foi dado como extinto às 06:50 de hoje, mas no local estão ainda 695 operacionais e 209 meios terrestres, segundo o Comando Distrital de Operações de Socorro de Santarém.
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