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Ao lado do tanque que salvou muitas vidas do fogo, há agora um jardim

Em Nodeirinho, ao lado do tanque que salvou uma dúzia de pessoas do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, começou-se a plantar alecrim, alfazema e outras plantas, que cada pedaço verde, dizem os locais, é um sinal de "esperança".

Ao lado do tanque que salvou muitas vidas do fogo, há agora um jardim
Notícias ao Minuto

08:36 - 04/07/17 por Lusa

País Nodeirinho

Gabriela Silva, de Pedrógão Grande, agarrava numa enxada e ajudava a criar um pequeno jardim ao lado do tanque de Nodeirinho, que no domingo já ia ganhando forma, com alecrim, alfazema, lavanda ou sardinheiras.

Da vila, trouxe uma "carrada de arbustos e flores" para dar "um bocadinho de verde a uma paisagem que é uma tristeza".

"Vê-se tudo queimado, tudo cheio de cinzas. As plantas são para dar ânimo e esperança para que as pessoas se consigam reerguer", diz à agência Lusa Gabriela, que andou a distribuir pela população plantas que o seu pai tinha.

António Santos, de 45 anos, viajou de Lisboa com alfazema, sardinheiras e alecrim, a pedido da sua prima, Dina Duarte, que vive naquela aldeia do concelho de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, umas das mais atingidas pelo incêndio que provocou a morte a 64 pessoas.

"Quis trazer um bocado de verde à paisagem cinzenta e preta", conta António, enquanto planta mais um alecrim junto ao tanque. "Têm bom cheiro", nota António, que brincava naquela zona quando era pequeno.

A habitante de Nodeirinho Dina Duarte diz que, mais importante do que alimentação, é a aldeia voltar a ter as suas hortas, "que ficaram todas queimadas".

"Tragam alface, alho francês, couves, sementes, plantinhas, flores, arbustos, para dar cor a isto. Está demasiado monocromático", pede, apontando para os montes onde se vê a terra negra e as árvores queimadas.

Dina, técnica do centro de emprego de Figueiró dos Vinhos, sublinha que o retorno à terra é premente, por haver muita gente que vive da agricultura de subsistência, mas também pela relação forte que as gentes das pequenas povoações afetadas têm com a terra.

"A terra é o entretém", sublinha, referindo que já lançou o repto aos seus amigos para lhe enviarem árvores ou sementes em outubro, "que é quando vem a chuva" e é quando poderão replantar os quintais.

Querem oliveiras, sobreiros, marmeleiros, cerejeiras, figueiras, macieiras, pereiras, castanheiros e nogueiras.

No entanto, para Dina Duarte, a alegria só virá na primavera, quando for possível "voltar a ver tudo novamente florido, espero".

Perto do tanque, deverá surgir também um memorial às vítimas do incêndio, que começa a ser desenhado na cabeça do artista e jardineiro João Carvalho, mais conhecido por João 'Viola', que espera entretanto colocar o projeto em ação.

"Ver um bocadinho de verde é um sinal de que as coisas vão retomar", realça Eugénio Santos, a morar em Nodeirinho desde 2006.

Pela aldeia pacata, onde dantes passavam meia dúzia de carros por dia, há agora um movimento de pessoas - muitas delas autênticos desconhecidos para os locais - que aqui param para trazer algumas coisas, "falar e dar um abraço".

O habitante de 60 anos contabiliza pessoas de vários pontos do país, que por ali passaram a dar apoio.

"Sabe tão bem quando chega aqui alguém - uma pessoa que nem conhecemos - e que fala connosco e que nos dá um abraço. Que continuem a passar por cá para um abraço e dois dedos de conversa", comenta Eugénio, que diz que o que vai valendo a Nodeirinho é os abraços de estranhos e o verde que vai despontando pela terra queimada.

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