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Recordar José Saramago, sete anos depois da sua morte

No dia em que se assinalam os sete anos da morte de José Saramago, recordamos sete momentos marcantes da vida do escritor. Nas imagens em baixo, pode ler sete citações que se tornaram emblemáticas na obra saramaguiana.

Notícias ao Minuto

08:09 - 18/06/17 por Notícias Ao Minuto

País Efeméride

José Saramago morreu no dia 18 de junho de 2010, aos 87 anos, em Lanzarote, vítima de cancro.

Por vezes polémico e nem sempre consensual, José Saramago marcou e continua a marcar a literatura portuguesa. Várias gerações de leitores encontram nos seus livros, nas suas palavras e no seu humanismo uma fonte de inspiração.

No dia em que se assinalam os sete anos da sua morte, recordamos sete momentos marcantes da vida do escritor português.

O primeiro Saramago da família

José de Sousa Saramago nasceu no dia 16 de novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga, no Ribatejo, no seio de uma humilde família de camponeses. Filho de José de Sousa, jornaleiro, e Maria de Jesus, doméstica, esteve perto de herdar exatamente o mesmo nome do pai. No entanto, um funcionário do Registo Civil decidiu que o pequeno José deveria herdar a alcunha pela qual a família era conhecida: Saramago. Só em 1929, quando se foi inscrever na escola primária, descobriu que se tinha tornado, oficialmente, no primeiro Saramago da família.

Dois anos depois, mudou-se com os pais para Lisboa, onde passou grande parte da sua vida. Voltou várias vezes à Azinhaga, nomeadamente na infância e na adolescência, criando laços afetivos com os avós maternos, que muito contribuíram para a construção da sua personalidade. “O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida”, disse José Saramago, referindo-se ao seu avô, no discurso aquando da atribuição do prémio Nobel da Literatura.

Foi na biblioteca do Palácio das Galveias que ganhou o gosto pela leitura. Lia avidamente, dia e noite, durante a sua juventude.

De 'Terra do Pecado' ao estilo saramaguiano

Em 1947, era publicado ‘Terra do Pecado’, o primeiro livro de José Saramago, que tinha, na altura, 25 anos. Nos 30 anos seguintes, desempenhou diversas funções no ramo da literatura, desde a crítica literária à tradução. Passou pela editora Estúdios Cor, colaborou com a revista Seara Nova e trabalhou como editorialista no Diário de Lisboa.

Publicou ainda vários livros, desde a crónica à poesia, do teatro à prosa. No entanto, foi a partir de 1980 que a obra de Saramago ganhou especial reconhecimento. Nesse ano, foi publicado ‘Levantado do Chão’, que lhe valeu o Prémio Cidade de Lisboa. Este romance, que acompanha a vida de várias gerações de uma família do Alentejo, com particular ênfase no período da ditadura em Portugal, deu início ao estilo saramaguiano, uma escrita que mistura o discurso direto, indireto e indireto livre, que seria característico do resto da sua obra.

Posteriormente, foram publicadas obras essenciais como ‘Memorial do Convento’, ‘Ensaio sobre a Cegueira’ ou ‘As Intermitências da Morte’.

A polémica dos 24 saneamentos no Diário de Notícias

Uma das grandes polémicas que marcou a vida de José Saramago deu-se em 1975, quando este entrou para a direção do Diário de Notícias. Saramago, que se tinha filiado no Partido Comunista Português em 1969, chegou ao jornal em pleno período do Gonçalvismo, uma altura em que a política portuguesa, apenas um ano após a Revolução de 25 de Abril, vivia um período de enorme tensão.

Luís de Barros foi nomeado diretor do Diário de Notícias e José Saramago diretor-adjunto. Os editoriais tornaram-se célebres pela sua posição próxima dos ideais revolucionários do Gonçalvismo, o que levou um grupo de cerca de 30 jornalistas a apresentar um abaixo assinado em protesto contra a falta de pluralismo no jornal.

No dia seguinte, 24 jornalistas foram saneados do jornal, uma decisão que não foi apenas de José Saramago, mas que o marcou para toda a vida. No dia 25 de novembro de 1975, saiu do Diário de Notícias. Desempregado, decidiu não procurar outro trabalho e dedicou-se exclusivamente à escrita e à tradução.

"A Pilar, como se dissesse água"

O primeiro casamento de José Saramago data de 1944, quando se casou com a pintora Ilda Reis. A união durou até 1970. Saramago iniciou então uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega, que durou até 1986.

Nesse mesmo ano, entrou na vida do escritor uma jornalista espanhola. Pilar del Río, que acabara de descobrir a obra do português, ficou fascinada com ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’. Depois de ler todos os livros de Saramago, decidiu que tinha de conhecer o escritor. Encontraram-se em Lisboa, no Hotel Mundial, e casaram-se dois anos depois.

Até à morte do escritor, Pilar foi o pilar de José Saramago. “A Pilar, minha casa”, “A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar”, “A Pilar, como se dissesse água” ou “A Pilar, que não deixou que eu morresse” foram algumas das dedicatórias que José Saramago escreveu à sua mulher.

O 'Evangelho segundo Jesus Cristo' e a mudança para Lanzarote

Em 1991, foi publicada a obra ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, um romance com uma forte crítica à religião. O livro foi recebido com polémica em Portugal, com vários setores da Igreja a criticarem o seu conteúdo.

A polémica intensificou-se no ano seguinte, quando o governo português, liderado pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva, vetou a candidatura do livro ao Prémio Literário Europeu. O subsecretário de Estado da Cultura, António Sousa Lara, tornou-se o rosto desta censura. “O livro não representa Portugal nem os portugueses”, justificou, na altura, Sousa Lara.

Desiludido com a forma como foi tratado pelo governo do seu país, José Saramago decidiu mudar-se com Pilar del Río para a sua residência em Lanzarote. O casal viveu na ilha espanhola até à morte do escritor.

Nobel da Literatura para o escritor das "parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia"

Já com uma vasta e emblemática obra publicada, José Saramago recebeu o Nobel da Literatura em 1998, o primeiro e único português a receber esta distinção até hoje. Para a Academia sueca, o prémio foi atribuído a Saramago “que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia”.

Num emotivo discurso, no dia 10 de dezembro de 1998, durante o banquete na Academia sueca, Saramago denunciou as “empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia”. “Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor”, apelou José Saramago.

Nascimento da Fundação José Saramago

Em junho de 2007, foi criada a Fundação José Saramago “não apenas com o objetivo de promover a conservação, o estudo e o conhecimento da sua obra, mas também de intervir social e culturalmente, de impulsionar ações a favor do ambiente e de contribuir para a promoção ativa dos direitos humanos”, lê-se na declaração de princípios da Fundação.

A inauguração aconteceu cinco anos depois, em 2012. A Casa dos Bicos, em Lisboa, transformou-se então num espaço dedicado a diversas atividades culturais, como exposições, recitais, conferências, concertos, cursos e seminários. A sua presidenta, como a própria faz questão de ser tratada, é Pilar del Río.

O legado do Nobel português continua bem vivo entre os leitores. Para tal, contribui a Fundação José Saramago, um local fundamental para evocar a sua memória e dar continuidade à defesa dos Direitos Humanos, uma das lutas que marcaram a vida do escritor.

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