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Não vacino o meu filho e estou consciente. Que argumentos têm estes pais?

O Plano Nacional de Vacinação disponibiliza vacinas a todos, mas há pais que optam por não vacinar. O Notícias ao Minuto foi tentar perceber as suas razões para que isto aconteça.

Não vacino o meu filho e estou consciente. Que argumentos têm estes pais?
Notícias ao Minuto

07:56 - 30/04/17 por Inês André de Figueiredo

País Anti-Vacinação

O tema da vacinação é sensível e voltou a estar em cima da mesa com a epidemia do sarampo que já vitimou mortalmente uma jovem em Portugal. O assunto tem resultado na discussão da obrigatoriedade de vacinação no Parlamento, não havendo ainda posições consensuais que antecipem uma decisão.

Contudo, o que pensam, de facto, os pais que optam por não vacinar os filhos? O Notícias ao Minuto falou com duas mães, uma cujo filho nunca foi vacinado por decisão dos pais e outra que apenas vacinou as filhas com as vacinas do Plano Nacional de Vacinação. Todos os nomes usados neste artigo são fictícios de modo a manter o anonimato das testemunhas.

João nunca foi vacinado por opção dos pais

O meu filho tem quase 4 anos e está de perfeita saúde

João tem quatro anos e não levou qualquer vacina durante a sua vida. A decisão do pai e da mãe foi consciente e resultou de uma “profunda pesquisa” que não foi abalada pela “pressão” que viveram exercida por profissionais de saúde, nos primeiros anos de vida da criança.

Flor, mãe de João, garante que sempre desejou o melhor para o seu filho e que todas as decisões foram tomadas em prol do objetivo principal. No momento da decisão, “pesou a consciência de que se tratava de um ser pela qual era responsável, que merecia o melhor, era um ser ainda sem opção e que era nos pais que estariam as decisões. Pesou o não agir por medo. O não agir pelos outros, o não ceder a pressões logo após o seu nascimento, ainda no hospital, quando havia tempo para posteriormente vacinar”, justifica.

Para que Flor e Tomás pudessem não vacinar o filho tiveram de assinar uma declaração de responsabilidade, mas foram sempre vistos como pais “supostamente negligentes” por parte de médicos e enfermeiros.

Senti que era negligente por ter tido um filho na água [no Hospital de Setúbal] e depois por não querer vacinar. Fui abordada por várias enfermeiras, vários médicos, como se fosse um crime eu sair sem vacinar. Quando fomos às primeiras consultas no centro de saúde voltou a acontecer. Agora, como entretanto nos conhecem e demonstrámos ser cuidadosos com o nosso filho, já respeitam sem culpabilizar”, relata Flor, recordando que passou por momentos complicados devido à sua decisão.

A existência de mercúrio e alumínio nas vacinas é um dos pontos constantemente apontados pelos pais que optam por não vacinar os filhos e Flor acredita que muitos dos pais são “desconhecedores” desta questão. “Antes de as pessoas serem julgadas deve pesar-se as coisas com alguma inteligência/imparcialidade/conhecimento e já é altura de as pessoas deixarem de reagir de uma forma destrutiva, mas sim construtiva”, apela.

O surto de sarampo que chegou a Portugal alertou estes pais, principalmente porque “a integridade física e mental [do João] é relevante e nunca deverá ser ignorada”, o que levou a uma nova pesquisa.

Flor confessa que ficou alarmada com as notícias, principalmente pelo sentimento de medo instalado por muitos, mas deverá manter a sua decisão. “Não ponderei voltar atrás, porque foi uma decisão consciente e da qual não nos arrependemos”, mas refere que “é sempre boa hora para voltar a refletir e a tomar novas ou a permanecer nas mesmas decisões”.

Matilde e Leonor têm apenas as vacinas do Plano Nacional de Vacinação por decisão dos pais

As minhas filhas foram vacinadas mas só com as vacinas do Plano Nacional de Saúde, tudo o que é extra eu não faço

Margarida é mãe de duas meninas com cinco e oito anos. Quando a primeira filha nasceu, os pais decidiram que dariam apenas as vacinas aconselhadas pelo Estado, apesar de ainda terem questionado alguns casos.

“Não me lembro exatamente das palavras do pediatra, mas subentendi que era obrigatório. Aliás, uma vez eu disse à enfermeira que não queria dar uma das vacinas e ela disse-se que eu tinha de assinar um termo de responsabilidade. Não assinei porque a minha filha acabou por fazer essa vacinação”, recorda.

Margarida justifica que as vacinas do Plano Nacional de Saúde, “as mais importantes”, devem ser dadas. “Temos de pensar nas outras pessoas que poderemos vir a contagiar”, esclarece.

Matilde e Leonor são apenas tratadas com homeopatia, sendo que os pais não medicam as meninas com nenhuns medicamentos químicos. “Evito ao máximo e tenho tratado sempre com homeopatia e com sucesso, mesmo febres, gastroenterites”, conta.

Sobre as vacinas, a mãe das meninas refere que estas “têm metais, mercúrio e alumínio” e que diversas pesquisas mostram que isso “tem provocado doenças neurológicas nas crianças, ou mais tarde”. “Há um aumento de autismo a nível mundial e nós não sabemos, é mais o medo de não se saber o que pode vir a acontecer e os efeitos que as vacinas podem vir a ter”, justifica.

Ninguém me está a obrigar, é uma opção minha, acho que tenho todo o direito de o fazer”. Porém, mesmo quando vacina as meninas, e para as proteger dos “efeitos negativos dos metais e das outras substâncias que as outras vacinas contêm”, Margarida opta por sessões de homeopatia “três dias antes e três dias depois da vacinação”.

O surto do sarampo preocupa Margarida, mas as suas filhas tomaram essa vacina. “Sei que nesse aspeto não estou a prejudicar as minhas filhas, mas também não estou a prejudicar outras crianças, mesmo que elas sejam portadoras do vírus não vão contagiar porque também foram vacinadas”, frisa.

Aliás, Margarida entende ainda que “vacinas também não protegem na totalidade” e que deve haver uma grande responsabilidade por parte dos pais em estarem atentos às crianças, para que os problemas sejam detetados cedo.

Saliente-se que Francisco George, diretor-geral da Saúde, colocou em causa a decisão dos pais que optam por não vacinar os filhos, referindo que “essa decisão não põe em risco apenas as próprias crianças”, tendo “um reflexo na comunidade”.

Porém, até ao momento, esta é uma liberdade dada aos pais e são estes que têm total direito de escolha sobre a vacinação dos seus filhos, apelando ao respeito pela decisão e à necessidade de alertar para a pesquisa sobre o tema.

Um despacho do Governo publicado sexta-feira em Diário da República e ontem divulgado determina que as escolas passem a comunicar aos delegados de saúde os casos de alunos que não têm as vacinas em dia de acordo com o Programa Nacional de Vacinação.

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