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Sopa dos Pobres foi criada há anos, mas ainda existe. Problemas persistem

A 'Sopa dos Pobres' surgiu durante a I Guerra Mundial para matar a fome da população de Lisboa. Cem anos depois mantém-se para responder a problemas que ainda hoje persistem, mas com uma "maquilhagem nova".

Sopa dos Pobres foi criada há anos, mas ainda existe. Problemas persistem
Notícias ao Minuto

07:18 - 25/03/17 por Lusa

País Pobreza

Criada em abril de 2017, por iniciativa do jornal O Século, com a ajuda das paróquias, a 'Sopa dos Pobres' surgiu num contexto marcado pelo agravamento das condições de vida, pela escassez de alimentos e pela "pobreza esmagadora do país".

A "Sopa dos Pobres" e as "cozinhas económicas" surgiram para "cumprir uma função social", mas "foram paliativos para uma situação dramática vivida por uma população com 80% de analfabetos", disse em entrevista à agência Lusa o investigador José Lúcio, coautor do estudo 'A pobreza em Lisboa na I República'.

O investigador do Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas contou que a guerra "fez vir à superfície a realidade de um país profundamente rural", "atrasado, pobre", muito pouco competitivo a nível internacional, com "taxas de mortalidade infantil avassaladoras" e "carências alimentares gravíssimas".

Naquela época, os produtos que Portugal produzia eram exportados, a comida racionada e "as pessoas passavam fome", contou, por seu turno, a investigadora Filomena Marques, coautora do mesmo estudo.

Muitas vezes, a única refeição diária que comiam era a sopa servida naquelas instituições. Por isso, era uma "sopa forte", com grão, feijão, toucinho, acompanhada por um "naco de pão".

Para Filomena Marques, "quase que seria impensável que, um século depois, estas medidas viessem a ser retomadas", com a abertura de cantinas sociais para responder a novas situações de pobreza geradas pela crise.

As cantinas sociais são "uma consequência quase lógica dos problemas que se estão a viver", acrescentou José Lúcio.

Fazendo um paralelo com a realidade vivida há 100 anos, o investigador disse que "os meios que hoje existem para apoiar a população carenciada são incomparavelmente mais eficazes, mais seguros e maiores".

"A Câmara de Lisboa não é a mesma de há 100 anos, a Misericórdia também e temos uma instituição que não existia, a Segurança Social", adiantou.

Segundo o investigador, são estas instituições que "conseguem criar um quadro de apoio que não existia e que permite maquilhar melhor as carências das pessoas", porque, "apesar de terem passado 100 anos, há certos problemas que continuam presentes" a nível da pobreza urbana.

"A população, felizmente, já não tem o analfabetismo que tinha, existem questões que estão ultrapassadas, existe o Serviço Nacional de Saúde, mas atenção, costuma-se dizer 'maquilhagem nova para problemas antigos'", sublinhou.

Também é preciso "ter consciência" que estes "problemas rebentam imediatamente" quando surge uma crise, os rendimentos baixam e o desemprego aumenta brutalmente em setores como a construção civil.

"Em 1917 foi uma guerra, em 2012/2013 foi uma crise económica muito grave, que automaticamente fez vir ao de cima problemas muito complicados da sociedade urbana portuguesa", disse José Lúcio.

Apesar de todos os problemas vividos pela população, "aprende-se muito pouco com as crises".

"A memória dos portugueses não alcança mais do que três meses" e já está a acontecer uma "situação preocupante".

"Saímos há um ano de um problema muito grave e já estamos a assumir comportamentos que permitem entender que está em formação uma bolha especulativa imobiliária na cidade de Lisboa" e a "história económica recente diz-nos, sem qualquer margem para dúvida, que geralmente as crises" são desencadeadas por estas situações, disse o investigador.

Perante a história que se repete, José Lúcio aconselha "muita prudência": "Não é por se crescer 1,4% ou 1,5% que de repente o país ficou muito rico e que o que se passava em 2015 era a pré-história e que agora estamos no Renascimento".

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