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Estes portugueses tiveram a coragem de viver de uma "arte marginal"

Portugueses que brilharam e brilham na arte circense contam, no âmbito do Dia Mundial do Circo, as suas experiências.

Estes portugueses tiveram a coragem de viver de uma "arte marginal"
Notícias ao Minuto

07:55 - 26/03/17 por Andrea Pinto

País Circo

Palhaços, trapezistas, malabaristas e mágicos. Todos eles juntos num só local que faz as delícias de miúdos e graúdos. Falamos, obviamente, do circo, que amanhã celebra o seu Dia Mundial.

A data escolhida é a mesma data em que nasceu o famoso palhaço Piolim. Abelardo Silva era filho de circenses e cresceu no meio desta arte. Celebrizou-se como contorcionista e acrobata e o seu nome deve-se ao facto de ser muito magro e de ter umas pernas compridas. Este dia é em sua homenagem.

O menino que sonhava ser palhaço. Deu "um murro na mesa" e conseguiu-o

Tal como Piolim, também Pedro Miguel Silva cedo percebeu que gostaria de ser diferente. Sempre gostou “de dançar, fazer imitações e contar anedotas” e, embora aos quatro anos fosse demasiado novo para saber o que faria no futuro, o facto é que acabou mesmo por se tornar num artista e é hoje um dos portugueses a viver com a mala às costas e a fazer rir pessoas de todo o mundo.

“Sempre tive o desejo de ser um super-herói. Fazer coisas que mais ninguém podia. Isso acompanhou-me desde gaiato”, conta-nos o agora artista circense que exerce a sua profissão em Bruxelas.

Os primeiros passos foram dados aos 12 anos. A irmã mais velha frequentava a Escola Secundária António Arroio, em Lisboa, e Pedro juntou-se aos amigos dela para aprender a fazer malabarismo.

O gosto intensificou-se e Pedro passou a não ter dúvidas do que queria fazer no futuro, e no 11.º ano decidiu ingressar no Chapitô. “Apercebi-me de que não era feliz e que o que me fazia borboletas na barriga era mesmo o circo”, conta, tendo decidido depois inscrever-se nas audições da escola circense.

“Eu não abandonei os estudos, pelo contrário, descobri o prazer de estudar. A excitação de acordar todos os dias de manhã e de ser impensável chegar tarde com medo de perder alguma coisa”, relata, lembrado que nem sempre foi apoiado.

Para os pais de Pedro, esta ideia não passava “de uma rebeldia de adolescência”, motivo pelo qual, “não acharam piada nenhuma” e disseram-lhe que continuaria a estudar no ensino normal e que apenas ao final da tarde poderia ter aulas no Chapitô.

“Para mim não era suficiente. Então bati com a mão na mesa e disse que ia”, revela. Só meses depois, quando foi fazer as provas de acesso à escola é que os pais lhe desejaram sorte e perceberam que era mesmo isto que Pedro queria (e iria) fazer.

O ginasta de trampolins que deu "um salto" até ao Cirque du Soleil

Diogo Faria tem 39 anos e ao contrário de Pedro nunca imaginara um dia fazer parte de um grande circo.

A sua paixão começou pela ginástica, aos 6 anos, altura em que “simplesmente adorava ginástica e acrobacias”. A paixão cresceu e quando aos 12 anos ingressou na seleção nacional da modalidade percebeu “que queria ali estar o maior tempo possível”.

O circo surgiu por acrescento. Em 2008 esteve na criação do espetáculo ‘Visions’ no Casino do Estoril e daí até ao famoso Cirque du Soleil foi apenas um passo.

“O Cirque du Soleil está sempre presente nas grandes competições de Trampolins e acabei por conhecer a equipa de casting. Quando terminei a minha carreira de ginástica sempre disse que iria enviar os meus vídeos e o meu CV para a equipa de Casting do Cirque du Soleil e assim o fiz”, conta-nos o homem que se dedicou de “corpo e alma à modalidade” na tentativa de acalentar este objetivo.

Dificuldades de uma arte que é ainda vista como "marginal"

Tanto Pedro como Diogo nunca tiveram dúvidas de que “não queriam ganhar a vida a fazer outra coisa”. Mesmo apesar das dificuldades inerentes.

Enquanto Diogo, natural de Setúbal, nos fala no desafio de andar “sempre de um lado para o outro, de trabalhar com pessoas de diferentes culturas, com ideias bem diferentes” e do medo constante em se lesionar, Pedro fala na dificuldade em receber “o reconhecimento da sociedade”. 

“Continuamos a ser uma arte marginal”, lamenta o jovem que rumou de Odivelas para Bruxelas, sendo que, ainda hoje, quando diz que trabalha no circo, lhe perguntam: “E o teu trabalho a sério, qual é?”. 

Embora para Diogo sejam todos estes “desafios que nos fazem crescer e aprender”, Pedro reconhece que foi a falta de reconhecimento que, depois de acabar uma formação na École Supérieure de Arts du Cirque, o fez permanecer em Bruxelas pois ali sabia que “era possível viver do circo".

Dois portugueses numa arte pouco reconhecida em Portugal 

Apesar da paixão por aquilo que faz, Pedro admite que não é fácil viver do circo em Portugal, motivo pelo qual nem “sequer tentou trabalhar” cá, num país que, “no que diz respeito à cultura, continua com muitos anos de atraso em comparação com o resto da Europa”.

Pedro diz que “não sentiu em si a força de lutar ainda mais em Portugal” tendo em conta que isso é difícil até na Bélgica, “onde o circo é reconhecido enquanto arte e onde o Ministério da Cultura tem até um envelope para ajudar as criações de circo”.

"Por isso admiro os artistas de circo em Portugal e agradeço-lhes o facto de fazerem o que eu não tive coragem", atira.

Embora não se debruce tanto sobre o assunto, Diogo, o artista que passou por aquele que é considerado o mais conceituado circo do mundo, diz que o mais importante é sentir "o reconhecimento da família, amigos", pois é o que lhe enche "mais o meu coração".

Apesar de todas as dificuldades, ambos afirmam ter a vontade “de continuar a viver neste mundo”. Se Diogo já deu aquele que pode ser o maior salto da sua vida, Pedro diz que “o Cirque du Soleil foi apenas uma inspiração quando começou”. Atualmente, este último fica apenas feliz apenas por estar “a criar outra companhia (criou uma em 2010, de seu nome 'Les Voisins')" e o seu maior sonho é um dia "poder vir a fazer uma apresentação em Portugal".

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