"Ando há quatro dias a convidar, porta a porta, todas pessoas da freguesia, com cerca de 900 a mil habitantes, e ainda não cheguei a metade. As minhas estimativas apontam para que entre 400 a 500 pessoas estejam presentes no almoço de Páscoa", afirmou hoje à Lusa Pedro Pinto que já fez as contas e diz que "nunca gastará menos de 25 mil euros" com o repasto.

Engenheiro na Câmara de Ponte de Lima, Pedro Pinto, 47 anos, recebeu o ramo da cruz no almoço do ano passado e "já tem no coração o nome da pessoa que vai nomear para garantir a tradição em 2018".

"O mordomo, quando vai nomear o seu sucessor, já sabe à porta de quem vai bater porque se a pessoa não está preparada financeiramente, ou é tola ou não tem juízo", afirmou em tom de brincadeira.

Segundo Pedro Pinto, a organização do tradicional almoço pascal na freguesia de Fontão "dá muito trabalho e implica uma grande logística".

"Toda a gente ajuda mas e preciso organizar e coordenar essa ajuda", explicou o mordomo de Fontão.

A confeção do almoço "fica a cargo das mulheres da aldeia, os rapazes e raparigas ajudam a servir e os pratos incluídos no menu serão todos confecionados com produtos caseiros".

Como exemplos, o mordomo de Fontão apontou os 250 ovos caseiros para os doces tradicionais da Páscoa, as 12 galinhas para a canja de galinha velha, os 140 quilos de cabrito e 100 quilos de vitela.

O repasto inclui, como primeiro prato, "filetes (mais de 100 quilos), acompanhados de salada e o habitual bolo da Páscoa que terá entre 40 a 50 quilos".

Para beber estão já encomendadas 300 garrafas de vinho maduro, 200 de maduro tinto, outras tantas de verde tinto, 100 de branco verde e largas centenas de água e refrigerantes.

A tenda onde Pedro Pinto irá acolher os convidados, com 40 metros de comprimento e 20 de largura, será instalada num terreno, ao lado da estrada nacional que passa pela freguesia.

O repasto deverá prolongar-se durante mais de três horas, entre as 13:30 e as 17:00, para degustar as entradas e os pratos que compõem o menu e onde serão utilizados 2.500 pratos, 500 copos, 200 travessas e milhares de talhares.

A escolha do mordomo do ano seguinte é sempre um dos momentos altos da refeição.

A mulher do anfitrião, "braço direito na organização do evento, sobretudo no que diz respeito à ornamentação do espaço onde é servido o almoço", tem ainda a tarefa de entregar o raminho de laranjeira ao novo mordomo.

De ramo da cruz na mão, a mulher do anfitrião percorrerá as diversas mesas, simulando deixá-lo aqui e ali e pregando vários sustos aos convivas, até o depositar definitivamente nas mãos do eleito.

Além de dar de comer a quase toda a freguesia, o mordomo tem ainda que, durante um ano, assegurar a limpeza da igreja e os serviços do sacristão.

Ainda no concelho de Ponte de Lima, mas na freguesia de Vitorino das Donas, é tradição, durante o compasso pascal, o mordomo e os acompanhantes levarem, atados na cabeça, lenços de mulher ou "cachenés", à moda dos piratas, tendo ainda o mordomo de usar, a tiracolo, uma toalha branca de linho puro.

A outra particularidade da Páscoa naquela freguesia é a orquestra de violinos que acompanha o compasso e que, no final do dia, segue também o ritual da concentração das várias cruzes que andaram pela freguesia.