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José Rodrigues dos Santos em Pequim diz que publicar na China é difícil

O jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos disse hoje, em Pequim, que há editores chineses interessados em publicar os seus livros, mas que estes dificilmente passariam pela censura imposta pelo regime comunista.

José Rodrigues dos Santos em Pequim diz que publicar na China é difícil
Notícias ao Minuto

12:30 - 13/03/17 por Lusa

País Censura

"O mercado chinês é um mercado muito interessante. Acontece, no entanto, que os temas dos meus livros não são temas que passem bem para a censura", disse o escritor à agência Lusa.

"Eu toco muito em questões de religião, que é um tema muito complicado para os editores chineses", acrescentou.

O autor considerou ainda que "faria todo o sentido publicar na China" a chamada "Trilogia de lótus" - as obras "Flor de Lótus", "O Pavilhão Púrpura" e "Reino do Meio" -, mas que esta "toca em situações muito delicadas do ponto de vista político".

"Já me foi dito isso mesmo: há interesse, mas isso nunca passará pela censura", disse.

Desde que ascendeu ao poder, em 2012, o Presidente chinês, Xi Jinping, apelou em várias ocasiões aos escritores e artistas chineses para obedecerem aos "valores socialistas", nas suas criações.

Académicos e intelectuais do país têm também estado sob crescente pressão para aderir às interpretações oficiais do Partido Comunista, em questões de natureza histórica.

Na sua primeira deslocação à China "profunda", o autor português, que já viveu em Macau, desvendou ainda o processo de criação de uma personagem chinesa para o livro "Flor de Lótus".

"Quando estou a falar de uma cultura muito diferente, como é a chinesa, esforço-me por submeter o texto a pessoas que conhecem muito bem a cultura, que identificam alguns problemas que ali estão e me obrigam a pesquisar", disse.

À semelhança dos seus outros romances, as obras que compõem a "Trilogia de Lótus" são alicerçadas em factos históricos e centradas no século XX, um período que o jornalista considera "muito interessante", por ser de "conflitos de ideologias".

José Rodrigues dos Santos admite existir um "paralelismo com a situação atual", mas rejeita que isso tenha influenciado a sua opção.

"Há pessoas que pensam que eu toquei neste tema por causa do momento que vivemos, mas não tem nada a ver. É uma coincidência, mas de facto existe", afirmou.

Sobre o modelo político da China, o escritor classificou-o de "muito 'sui generis'".

"É o capitalismo de partido único, fingido que é comunista", afirmou. "É um modelo nesse sentido inovador, mas que permanece um pouco impenetrável, para a compreensão, a forma como as pessoas se relacionam com ele".

"O seu discurso não é um discurso ideológico, é um discurso muito pragmático", disse.

Segunda maior economia mundial, a seguir aos Estados Unidos da América, a China é governada desde 1949 pelo Partido Comunista Chinês.

José Rodrigues dos Santos falava à margem de um encontro com alunos da licenciatura em português da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai).

Mais de 1.500 estudantes chineses estão a frequentar licenciaturas em português, em 26 universidades da China continental.

No final da década de 1990, não contando com Macau, apenas duas universidades chinesas tinham licenciaturas em português.

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