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"Gostava da vida e amou a liberdade"

O dirigente socialista José Manuel dos Santos afirma que Mário Soares foi ao longo da sua vida um socialista democrático "instintivo", que amou e lutou pela liberdade e que configurou e consolidou a democracia portuguesa.

"Gostava da vida e amou a liberdade"
Notícias ao Minuto

21:52 - 07/01/17 por Lusa

País Socialistas

Mário Soares morreu hoje, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado há 26 dias, desde 13 de dezembro.

O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.

José Manuel dos Santos, membro da Comissão Política Nacional do PS e assessor do antigo chefe de Estado em Belém, entre 1986 e 1996, salienta, num depoimento enviado à agência Lusa, que "era da vida que Mário Soares gostava" e "foi por isso que amou a liberdade, sem a qual, para ele, o único sentido da vida é lutar por ela".

"O seu socialismo democrático era instintivo. Aliava a liberdade às condições de justiça e dignidade material, sem as quais a liberdade se perde e com ela uma vida com nome próprio. O seu génio político firmava-se nesta certeza vital", sustenta José Manuel dos Santos, uma dos amigos mais próximos do antigo Presidente da República desde a década de 70.

José Manuel dos Santos refere depois que, em Mário Soares, "o homem e o político eram inseparáveis".

"Era por isso que criava uma familiaridade única. Ele gostava de se orgulhar disto: 'Podem acusar-me de tudo, mas não me podem acusar de ter provocado tédio aos portugueses'. Mário Soares é a primeira figura da nossa democracia, a sua referência histórica, política, moral e cultural", advoga o dirigente socialista e atual administrador da Fundação EDP.

Para José Manuel dos Santos, foi o fundador e primeiro líder do PS "quem configurou e consolidou" a democracia portuguesa e foi ele "quem fez de Portugal outro país".

"Não esteve sozinho, mas foi ele que, nos momentos de perigo e de escolha, disse o sim e o não", afirma

José Manuel dos Santos, um dos amigos mais próximos de Mário Soares ao longo das últimas quatro décadas, escreve depois que o convívio próximo e quotidiano com o antigo Presidente da República "era uma obra de arte exigente", sobretudo porque "ele detestava respostas feitas, lugares comuns, rotinas gastas".

"Estimulava, reclamava, perguntava, irritava-se. A sua fasquia era altíssima. Como disse dele, Sophia de Mello Breyner, não era apenas um animal político - era um atleta político. Mas os momentos, aliás muito frequentes, em que pensava em voz alta, analisava, ajuizava, conversava, criava, imaginava, contava histórias eram mágicos, encantatórios", revela ainda o membro da Comissão Política do PS.

Para Mário Soares, de acordo com José Manuel dos Santos, "a política era uma grande arte - e ele fazia-a como um artista faz a sua arte, de noite e de dia, inteiramente, devotadamente".

Na perspetiva do antigo colaborador de Mário Soares, "a morte dá ao movimento uma paragem" e "a morte de um grande homem dá à sua altura uma queda".

"Essa paragem e essa queda fixam, inscrevem, transformam a vida em destino - e, para os que ficam, fazem desse destino um novo movimento e uma nova altura. Para aqueles que, como eu, foram seus amigos e admiradores, convivendo e trabalhando com Mário Soares durante tantos dias de tantos anos, a sua ausência torna o mundo menos vivo, menos interessante e menos seguro", acrescenta José Manuel dos Santos.

Soares desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria história da democracia portuguesa: combateu a ditadura, foi fundador do PS e Presidente da República.

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