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Afinal, tabacaria histórica de Lisboa vai manter as portas abertas

A empresa que detém o edifício onde há 134 anos está a Tabacaria Martins, no Calhariz, em Lisboa, assegurou hoje a manutenção daquele estabelecimento, cuja salvaguarda esteve ameaçada no âmbito da reconversão do imóvel em apartamentos de luxo.

Afinal, tabacaria histórica de Lisboa vai manter as portas abertas
Notícias ao Minuto

16:53 - 06/01/17 por Lusa

País Tabaco

"Agora que compreendemos o interesse histórico da loja, decidimos renovar o contrato de arrendamento, que deveria expirar a 17 de janeiro, e queremos continuar com a Tabacaria Martins como inquilino no futuro", refere a Sublime Argumento (empresa detida por ingleses), numa nota enviada à agência Lusa.

Em causa está uma reconversão do palacete (imóvel classificado) onde a Tabacaria Martins está situada, junto ao Largo de Camões, para ali nascerem seis apartamentos de luxo - de tipologias T3 a T5 -, numa área de construção de 2.454 metros quadrados, segundo o projeto licenciado pela Câmara de Lisboa.

"A Tabacaria Martins é uma das três lojas [além de uma mercearia e de uma pastelaria] que está integrada no Sandomil Palace [nome dado ao projeto]. Essas três lojas fazem parte do belo e histórico palácio que estamos a renovar, em estreita coordenação com a Câmara de Lisboa" e "queremos mantê-las", acrescenta a Sublime Argumento na informação enviada à Lusa, escrita em inglês.

Ana Martins, atual proprietária da tabacaria, faz parte da terceira geração da família que está à frente do estabelecimento e contou à Lusa que quando o prédio em causa foi vendido, no início de 2016, mostrou interesse em continuar naquele local.

"Foi-me sempre dito que não era possível. Esgotadas todas as possibilidades, começámos a dizer às pessoas que tínhamos de fechar", assinalou.

Foi aí que a dona do espaço atingiu o seu "momento de glória", ao perceber a contestação que o possível encerramento gerou junto de clientes e moradores na zona.

Esta manhã, a responsável foi contactada por um representante dos proprietários que lhe disse que "precisavam de conversar", segundo indicou à Lusa.

Entre os contestatários do fecho do estabelecimento estão os moradores Francisco Kessler e João Tabarra, que hoje estiveram a distribuir panfletos junto à tabacaria com a inscrição "Não à expulsão e fecho da Tabacaria Martins. 145 anos da nossa história não são propriedade privado, são vivência coletiva".

Além de residente, Francisco tem uma loja de vinhos no Calhariz e explicou à Lusa que esta foi a forma por si encontrada para sensibilizar as pessoas.

"Os velhotes que aqui vêm [à tabacaria] não têm conta nas redes sociais", exemplificou.

João Tabarra, artista plástico, resolveu associar-se à ação por considerar que "Lisboa está a ficar uma cidade de fachada" já que "está a desaparecer tudo o que é típico".

O processo da Tabacaria Martins está a ser acompanhado pela Câmara de Lisboa.

Em declarações à Lusa, o vice-presidente da autarquia, Duarte Cordeiro, vincou que o município teve um "comportamento adequado" desde o início, pois desde "o licenciamento que se protegeu o espaço da loja".

"Na altura, o [departamento de] Urbanismo preservou as lojas e, em particular, o espaço comercial alusivo à tabacaria", precisou Duarte Cordeiro.

Para justificar o inicial desinteresse do proprietário em renovar o contrato com a Tabacaria Martins, o vice-presidente do município apontou o "desconhecimento sobre o fenómeno de esta ser considerada uma loja histórica".

"Perante esta constatação, houve a consciência do facto e também da intransigência por parte do município contra qualquer alteração no projeto de licenciamento quanto àquele espaço, havendo depois uma disponibilidade no sentido da renovação do contrato", adiantou.

A Tabacaria Martins é um dos espaços que integram o programa municipal "Lojas com História", que prevê a atribuição de apoio financeiro (no âmbito de fundo com uma dotação inicial de 250 mil euros) aos estabelecimentos classificados para intervenções em áreas como a arquitetura e restauro, cultura e economia.

Porém, a definição das regras da candidatura à distinção "Lojas com História" e de acesso ao fundo municipal ainda tem de ser aprovada pela Assembleia Municipal.

[Notícia atualizada às 18h10]

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