Filho de humildes camponeses da Serra da Lousã, onde apascentou ovelhas e cabras antes de ingressar na Armada, Adelino Mendes juntou-se aos comunistas do Partido Socialista Popular (PSP, marxista-leninista), em Cuba, em 1941.
Fidel castro morreu na sexta-feira aos 90 anos, anunciou hoje o irmão Raúl Castro.
Participou ativamente na insurreição lançada por Fidel Castro, Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Raul Castro, a partir da Sierra Maestra, que culminou no derrube e na fuga do ditador Fulgêncio Baptista.
Nascido no lugar de Vale de Maceira, viveu depois com os pais e irmãos no vizinho Marco do Espinho, concelho da Lousã e distrito de Coimbra, onde está a casa da sua juventude, cuja fachada ostenta dois painéis de azulejos assinalando homenagens que a comunidade local organizou, em 1999 e 2006.
Em Portugal, Adelino Mendes integrou a Revolta dos Marinheiros contra Salazar, em Lisboa, em 1936, na qual morreu o seu amigo Ismael Fernandes "Leiteiro".
Perseguido em Portugal pela sua atividade antifascista, conseguiu ingressar mais tarde na Marinha Mercante, o que lhe permitiu refugiar-se em Cuba durante a II Guerra Mundial.
Em Havana, onde chegou a bordo do navio "Guiné", em 1941, foi recebido pelo secretário-geral dos comunistas cubanos, Blas Roca.
Quando saiu do país, em finais de 1940, escreveu uma carta ao irmão Jerónimo Mendes queixando-se da falta de oportunidades em Lisboa, "para ganhar o pão nosso de cada dia".
Em Cuba, Adelino foi um afamado cozinheiro do Ministério do Interior, após ter aforrado dinheiro como produtor de "tamalles" (comida tradicional cubana à base de milho e carne de porco), tendo chegado a abastecer deste produto o colégio jesuíta de Belém, na época em que era frequentado pelo jovem Fidel Castro Ruz.
No carrinho dos "tamalles" que empurrava pelas ruas de Havana, escondia também exemplares do jornal "Hoy", órgão oficial do partido socialista, que distribuía clandestinamente a alguns clientes.
Em 1958, Adelino Mendes e a família estavam a par da situação política que se vivia na ilha caribenha, com as vitórias militares da guerrilha a prenunciar a queda de Fulgêncio Baptista.
Na residência de Marianao, arredores da capital, reuniam-se vizinhos e simpatizantes do Movimento 26 de Julho (M 26-7), fundado por Fidel e companheiros no México, para ouvir e comentar as emissões da Rádio Rebelde, instalada na Sierra Maestra.
Os Mendes proporcionavam a reprodução de propaganda na sua casa, onde também guardavam armas e acolhiam dirigentes revolucionários.
"O êxito da revolução via-se nas ações das colunas, principalmente as comandadas por Camilo e Che, na região central de ilha, e nas frentes de combate de Camaguey, Villa Clara, Matanzas, Havana e Pinar del Rio", disse o filho de Adelino, Ismael Mendes, à agência Lusa há sete anos, no 50.º aniversário da Revolução Cubana.
Em 1959, os Mendes aplaudiram nas ruas a entrada do Exército Rebelde em Havana, após terem integrado eles próprios a rede clandestina de apoio à insurreição.
Em 1979, no 20.º aniversário da revolução, Fidel distinguiu Adelino Mendes, a título póstumo, com a medalha de Combatente da Luta Clandestina.
À filha mais velha, Arminda, o antigo marinheiro deu o nome de uma vizinha da Lousã por quem nutria especial simpatia. O seu melhor amigo de Portugal e antigo camarada da Marinha Mercante também se chamava Armindo.
Ao segundo filho, oficial reformado das Forças Armadas Revolucionárias, chamou Ismael, em homenagem ao companheiro Ismael Fernandes, morto na Revolta dos Marinheiros.
Lusitânia, a mais nova, exaltava a pátria onde sonhou regressar em 1975, ano em que morreu de ataque cardíaco, em Havana.
Dos três filhos de Adelino e da costureira havanesa Maria del Cármen Boulet Rovira, Ismael é o único sobrevivente.
Nos últimos anos, os descendentes cubanos do revolucionário da Serra da Lousã adquiriram a nacionalidade portuguesa.
Fechando a diáspora encetada pelo avô há 75 anos, vários netos e bisnetos fixaram-se em Portugal, na última década, e depois em Espanha e nos Estados Unidos.