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Tribunal começou a julgar padre acusado de maus tratos na Casa do Gaiato

O julgamento do padre que dirigia a Casa do Gaiato em Paredes, acusado de maus tratos, que hoje começou em Penafiel, foi marcado pelo silêncio do arguido e contradições entre as testemunhas.

Tribunal começou a julgar padre acusado de maus tratos na Casa do Gaiato
Notícias ao Minuto

20:10 - 14/11/16 por Lusa

País Paredes

No início da audiência, o arguido, de 86 anos, conhecido como padre Batista, acusado neste processo da alegada prática de 13 crimes de maus tratos e um de ofensa à integridade física, disse ao tribunal não pretender falar nesta fase, admitindo que poderá depor no final do julgamento.

Na acusação, o Ministério Público pormenoriza cada uma das alegadas situações de maus tratos que tiveram como vítimas homens e mulheres, a maioria idosos doentes, mas também crianças.

Não obstante a saúde precária da população residente na instituição, o sacerdote, "como único e exclusivo responsável, nunca providenciou pela contratação, em tempo parcial que fosse, de profissionais especializados na área da saúde mental, de geriatria, de terapia ocupacional, nem sequer de técnicos de enfermagem".

Duas das testemunhas ouvidas hoje em audiência, ambas voluntárias na Casa do Gaiato de Beire, apresentaram versões diferentes do ambiente que se vivia na instituição que acolhe utentes na sua maioria com doenças mentais.

Rosa Alves disse que apenas conhecia a realidade da ala onde se encontravam os utentes do sexo feminino, contando ao tribunal que "as mulheres tinham que se tratar umas às outras" e que "todas tinham muito medo do padre Batista". A testemunha falou dos insuficientes cuidados de higiene que eram proporcionados às utentes pela instituição. Referiu também uma utente ainda jovem que fora isolada "numa cela, presa numa cadeira".

Esta primeira sessão do julgamento ficou marcada pela denúncia de Rosa Alves de que o responsável da casa não permitira, em maio de 2015, o transporte ao hospital de um utente, após uma queda, que viria a falecer horas depois.

Ricardo Campos, professor de educação física, aposentado, também voluntário, disse nunca ter observado que o padre Batista tenha agredido qualquer utente e que nas instalações "não notava falta de limpeza". A testemunha admitiu, porém, que a Casa do Gaito de Beire não tinha funcionários afetos aos cuidados de higiene dos utentes.

"Eu próprio ajudava o senhor padre", afirmou, referindo que havia outros voluntários que colaboravam nessa e noutras tarefas da casa.

Ricardo Campos assinalou que um médico visitava a instituição uma vez por semana, mas que era o padre Batista que distribuía a medicação aos utentes. Confirmou também que o religioso suturara o utente que caíra e que falecera na madrugada seguinte, para além de não ter autorizado a deslocação ao hospital.

O padre João Pereira, responsável desde 2011 pela Casa do Gaiato de Paço de Sousa, Penafiel, elogiou o arguido, dizendo ser alguém que "merece uma profunda veneração e respeito".

"Sempre tive confiança nele", acrescentou, dizendo que nunca acreditou nas acusações, nomeadamente quando um ex-voluntário, identificado na sessão como "senhor Agostinho", lhe quis falar dos alegados maus tratos.

Sobre o que se passava em Beire, declarou que "estão lá pessoas que precisam de uma dedicação especial", que a instituição tem uma "vivência do evangelho à letra" e que nunca teve nem quer protocolos com a Segurança Social.

O julgamento vai prosseguir na quarta-feira, às 9:30.

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