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GNR: Há "cada vez mais militares agredidos, parece coisa corriqueira"

A morte de mais um militar esta semana veio levantar, outra vez, dúvidas quanto à forma de atuação da polícia portuguesa e à falta de autoridade no país. Associações apontam o problema e o que deve ser feito.

GNR: Há "cada vez mais militares agredidos, parece coisa corriqueira"
Notícias ao Minuto

08:30 - 16/10/16 por Andrea Pinto

País Associação

Esta semana, em Aguiar da Beira, na Guarda, mais um militar da GNR foi morto, e outro ferido, na sequência de uma ação de patrulhamento. O caso não é único, e com uma caça ao homem que já dura há dias, muitos questionam: O que se passa com a segurança no nosso país? Onde está a autoridade?

Os responsáveis de duas das associações da GNR do país estão cientes de que algo não está bem e não têm dúvidas sobre aquele que é o principal problema das autoridades portugueses: a falta de efetivos e a lenta justiça portuguesa.

Curso acolhe 300 novos militares ainda este ano

Este mês a ministra da Administração Interna confirmou a abertura de um novo curso de militares na Escola Profissional da Guarda em Portalegre. Embora informações iniciais avançassem com a existência de 600 vagas, a ministra veio agora anunciar que serão, afinal, apenas 300.

"O Comando e o Governo têm de entender que não é com a entrada de 300 novos elementos que os problemas se resolvem. Este número não serve para colmatar as saídas", afirma César Nogueira, da Associação dos Profissionais da GNR (APG). Uma ideia que é corroborada por José Alho, líder da Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG), que salienta que "o grande problema é que a grande fatia de guardas da GNR não está na atividade operacional".

"Para combater o crime é preciso estar-se fisicamente capaz. É preciso elementos novos. E tem de haver também uma melhor gestão dos recursos. Há muitos guardas que estão a fazer trabalhos como cozinheiros ou administrativos, funções que podiam ser feitas por civis", salienta César Nogueira, lamentando a falta de guardas em "trabalhos operacionais".

Justiça morosa dá sentimento de "imunidade" aos criminosos

A morte do militar Carlos Caetano, de apenas 29 anos, é apenas mais um dos casos que voltou a trazer à liça aquilo que estes responsáveis consideram tratar-se de uma crescente falta de autoridade por parte daqueles que nos defendem.

"Cada vez mais militares são agredidos, parece que é uma coisa corriqueira", diz César Nogueira, considerando que os criminosos "têm um sentimento de impunidade" que se deve ao facto de a justiça portuguesa ser muito morosa, acabando muitas vezes por não castigar quem deve.

José Alho vai mais longe e refere mesmo que "a população não gosta da maneira de atuação da GNR" e atua, muitas vezes, contra ela. Exemplo disso, indica, é o facto de se denunciar nas redes sociais as Operações Stop que vão ser levadas a cabo ou até o recurso a sinais de luzes para alertar os outros sobre a presença da GNR na estrada. "Temos uma sociedade que está em conflito constante com quem a defende", concretiza.

Isto pode ser alterado voltando a praticar-se o policiamento de proximidade, defende. O objetivo? "Impor a autoridade pelo diálogo e simpatia e não tanto pela força".

"A simpatia junto das populações dá-nos indicações dos malfeitores. Essa maneira de atuação, no território, em diálogo com as pessoas, devia voltar a ser o que era antigamente", defende, criticando o sistema de avaliação da GNR que veio fazer com que os guardas quisessem passar mais tempo a obter resultados (com multas, por exemplo) do que a perder tempo a conversar com as pessoas.

"O guarda deveria poder voltar a dialogar. É tempo que não é palpável mas é uma atitude que é extraordinária", atira, questionando: "O que é que isto da avaliação trouxe? Trouxe uma competição de números em que não se tem em conta o tempo que se perde com as pessoas. Isso não consta em nenhum item da avaliação. Isto não é uma empresa civil", critica, considerando se pôs fim àquele que era "um serviço lindo, de amizade e proximidade".

Lei do Uso da Arma: Mudar ou não mudar

Questionados sobre se uma alteração na lei do uso da arma poderia ser uma forma de o guarda ter maior liberdade para se defender, ambos os responsáveis são da opinião de que a lei das armas está relativamente bem definida e não será o problema dos casos a que temos assistido.

"Utilizamos a arma de fogo em último recurso e isso é pacífico. A arma só deve ser utilizada mediante uma ameaça", explica José Alho, acrescentando: "Se eu tivesse disparado sobre todas as pessoas que me fugiram (por falta de carta, falta de inspeção, álcool) ao longo de trinta anos de atividade, eu teria o cemitério de Beja com o dobro da população".

Considerando que o que aconteceu ao militar de Aguiar da Beira retrata "o risco que é inerente à profissão", o responsável admite também que "o patrulheiro é aquele que está sempre em maior risco e muitas vezes é aquele que recebe menos".

A segurança tem de ser vista como "bem essencial"

Para César Nogueira, tudo se resume a uma questão orçamental, em que a "segurança é sempre deixada para trás". Este responsável sindical considera que está na hora de o Governo ver "a problemática que existe, não só em termos humanos como materiais", e de se começar a olhar para a segurança "como um bem essencial para o país".

Já José Alho apresenta propostas mais práticas e que estão relacionadas com a forma de atuação dos guardas. O curso da GNR deveria ser menos militar e "estar mais virado para as técnicas policiais", entende. Em segundo lugar, propõe uma mudança de mentalidade dos cidadãos em relação à polícia, coisa que só será possível com uma mudança no modus operandis da GNR.

"O modus operandi das patrulhas, principalmente do policiamento dos patrulheiros, devia ser conhecer todas as pessoas nas aldeias, como se fazia antigamente. Haver um policiamento de proximidade. A relação que havia de amizade fazia com que muita criminalidade fosse prevenida", reitera.

Os problemas estão encontrados e as soluções propostas. Contudo, casos como os de Aguiar da Beira ou de Porto Alto, no início do mês, vão alertando para as fraquezas das autoridades portuguesas, mas o tempo passa e tudo parece permanecer na mesma. O problema? Temos memória curta, diagnostica José Alho: “Passados uns três ou quatro dias depois de isto passar as pessoas esquecem-se... e tudo volta à mesma”, remata.

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