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A história de Daniel, que passou de órfão e sem-abrigo a pai de família

A Segurança Social retirou-o à família na infância, esteve preso, viveu nas ruas do Porto até aos 34 anos mas, onze meses após entrar numa casa-abrigo, Daniel Marques mudou tudo: conseguiu emprego, tem companheira e vai ser pai.

A história de Daniel, que passou de órfão e sem-abrigo a pai de família
Notícias ao Minuto

07:25 - 08/10/16 por Lusa

País Reportagem

"É uma pessoa especial", elogia Catarina Torres, técnica social da Associação "Palavras Inquietas", responsável por um projeto de recuperação de sem-abrigo no Porto ao qual Daniel fica associado.

Quando aos cinco anos a Segurança Social o tirou da guarda da família - tinha cinco irmãos, alguns deles já toxicodependentes -, Daniel entrou num mundo em que a sua "indisciplina" o tornou difícil de conter.

"Fugi muitas vezes do orfanato e acabei numa cadeia de alta segurança em Caxias de onde também fugi várias vezes", recorda Daniel, que assume ter-se envolvido no mundo das drogas e da criminalidade.

Do consumo - contou - passou ao "tráfico e ao roubo", acabando por em três períodos diferentes "somar sete anos de cadeia".

Tornou-se sem-abrigo e, quando convidado a recordar esse tempo, apressou-se a dizer ter "aprendido muito" nas ruas do Porto.

"Hoje sei o que é a vida através das ruas", afirmou o antigo sem-abrigo.

As refeições - quando as havia - "eram o que vinha nas carrinhas de apoio junto ao Hospital Santo António onde muitas vezes dormi, nas Urgências, principalmente no inverno", disse.

Apesar de viver despojado de tudo, o antigo sem-abrigo - hoje empregado de armazém - garante que "nunca" pediu ajuda.

"Nunca sonhei ter uma casa, começar a trabalhar, pois o meu hábito era roubar e traficar e acreditava que iria ser assim para toda a vida", explicou.

A vida foi-lhe "mudada pela Segurança Social", que o convenceu a entrar "numa clínica de desintoxicação". Daí saiu para uma casa-abrigo e começou a trabalhar.

Daniel reconhece que foi complicado habituar-se a "levantar cedo, a ter uma rotina", mas assumiu a rutura com o passado.

"Hoje em dia não convivo com sem-abrigo, não por os discriminar, por eu estar bem e eles continuarem mal, mas porque é uma tentação e eu ainda estou muito recente no projeto", confessou.

Com casa, companheira e uma vida nova, Daniel soube há dias que vai ser pai e anuncia que "não vai faltar empenho" para dar ao filho "tudo" o que ele próprio não teve.

Comentando o caso de Daniel, a técnica social da Associação "Palavras Inquietas" Catarina Torres vincou que se trata de " uma pessoa especial pela força de vontade que tem e pela categoria que quis atingir".

E com o ciclo do Daniel fechado, a "Palavras Inquietas" vai "muito em breve", dar acesso a outra pessoa à casa-abrigo que a instituição tem em Paranhos, no Porto, anunciou Catarina Torres.

"É um projeto que "quer chegar a mais gente", sublinha a técnica de uma associação sem fins lucrativos, que nasceu em 2015 com o intuito de retirar pessoas sem-abrigo da rua e coloca-las no mercado de trabalho.

O investimento numa loja social, em Ramalde, no Porto, em que Daniel também ajuda com trabalhos de carpintaria, "é um modelo de negócio para criar os meios para poder ajudar mais pessoas", acrescentou.

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