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ONU: Guterres apresenta-se"como uma espécie de Jacques Delors"

António Guterres apresenta-se com "uma agenda positiva" na corrida a secretário-geral das Nações Unidas, o que o transforma "numa espécie de Jacques Delors" e isso pode assustar alguns membros ocidentais do Conselho de Segurança, considera Francisco Seixas da Costa.

ONU: Guterres apresenta-se"como uma espécie de Jacques Delors"
Notícias ao Minuto

10:11 - 02/10/16 por Lusa

País Seixas da Costa

"Sabemos que os secretários-gerais [da ONU] - ou os presidentes da Comissão Europeia - com uma agenda forte, personalizada e com vontade de mudar, às vezes são incómodos", acrescentou o antigo embaixador português junto das Nações Unidas em entrevista à agência Lusa na antecipação da presença esta segunda-feira da vice-presidente da Comissão Europeia Kristalina Georgieva, na Assembleia Geral (AG) das Nações Unidas para defender a sua candidatura à liderança da ONU.

Sobre Georgieva -- que se submete, como sucedeu com os restantes candidatos, às perguntas da AG durante aproximadamente duas horas - Seixas da Costa considera-a "uma mulher-de-mão dos alemães".

"Representou claramente a mobilização dos alemães junto de alguns parceiros, nomeadamente do centro e leste europeu, no sentido de garantirem um nome que pudesse representar os seus interesses", acrescenta o antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus.

Caso venha a vencer a corrida à liderança da ONU, Kristalina Georgieva será, por isso, uma secretária-geral "muito marcada pelo modo como surgiu", aspeto que também "condicionará a sua ação".

"É evidente que o facto de ter aparecido uma candidata da direita europeia é algo que será visto por alguns países com o relativismo que isto significa".

Isto não retira, porém, força à segunda candidatura búlgara nesta corrida. Kristalina Georgieva tem "fortes" hipóteses de chegar ao cargo hoje ocupado pelo sul-coreano Ban Ki-moon, na opinião de Seixas da Costa, que, ainda assim, não quer arriscar um palpite definitivo.

"Não faço ideia" de quem pode vencer esta corrida. "Sempre fui muito prudente nesta questão", diz o ex-governante, hoje professor universitário. "Acho que as Nações Unidas são uma organização muito fria, em que o fator qualidade, experiência e tudo isso pode não prevalecer sobre os jogos de poder. Portanto, a probabilidade de Georgieva vir a ganhar existe e é forte", avisa Seixas da Costa.

E se acontecer, diz também, "não há espaços para grandes surpresas", assim como "não deve haver espaço -- a não ser numa lógica nacional -- para grandes indignações".

"As Nações Unidas são assim, os jogos geopolíticos são assim, e todos sabemos que, mais cedo ou mais tarde, acabariam por se impor as determinantes de uma luta de natureza política", diz Seixas da Costa.

"Nas Nações Unidas, e nestas áreas internacionais, há uns acordos que passam por outros dossiers que não aqueles que estão em cima da mesa e que podem ser interessantes para alguns países, e, em particular, para os membros permanentes do Conselho de Segurança (CS)", acusa.

"Uma decisão destas não se esgota no processo específico de seleção e eleição de um secretário-geral. Há um conjunto de dossiers paralelos que não deixarão de estar presentes. Se calhar, não em cima da mesa, mas talvez nos corredores", acrescenta.

Daí que, a Guterres lhe reste a "probabilidade" de "ter conseguido, pela sua performance e pelo modo como se impôs em todas as votações e também nas audições, tornar difícil reverter essa tendência" ganhadora.

Esse é o principal trunfo do antigo primeiro-ministro português e ex-Alto Representante das Nações Unidas para os Refugiados, na opinião de Seixas da Costa.

A candidatura de Guterres "não se faz para ninguém" e, sobretudo, "não aparece em cima da mesa num momento tardio da votação". Ele está lá desde o início", diz Seixas da Costa.

Mas Guterres "é um candidato que pode assustar algumas pessoas, em particular, pode assustar alguns membros permanentes do CS, diria mesmo, alguns membros ocidentais do CS", sublinha porém o ex-embaixador junto da ONU.

E isto funciona a desfavor do ex-chefe do Governo português? Talvez, mas não necessariamente. "Estou ainda confiante que as Nações Unidas tenham um mínimo de vergonha", diz Seixas da Costa.

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